Mulheres são vítimas de violência no Brasil – Mais de 18,6 milhões de brasileiras sofreram violência física, psicológica ou sexual em 2022, número que equivale a 50.962 casos por dia.
Os dados são da 4ª edição da pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, produzida pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e pelo Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (2).
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Segundo o levantamento, todas as formas de violência contra a mulher apresentaram crescimento no último ano, com destaque para a violência física e ameaças graves com armas brancas e de fogo.
Os dados apontam que 28,9% das mulheres relataram ter sido vítimas de algum tipo de violência ou agressão nos últimos 12 meses, o que representa o maior número registrado na série histórica do FBSP.
Em relação ao último levantamento realizado, houve um crescimento de 4,5 pontos percentuais, o que revela um agravamento das violências sofridas pelas brasileiras.
A pesquisa também revela que as ofensas verbais (23,1%), a perseguição (13,5%) e as ameaças (12,4%) foram as formas de violência citadas com mais frequência pelas entrevistadas. No entanto, o estudo alerta para o aumento acentuado da violência física e das ameaças graves, que podem terminar em morte.
Em comparação com 2021, a pesquisa deste ano apontou um crescimento de 3,1% para 5,1% de ameaças perpetradas com faca ou arma de fogo. Nos últimos três anos, o país bateu recordes de registros de armas, impulsionados pela flexibilização das leis para porte e aquisição durante o governo Bolsonaro.
Ao longo de 2022, 7,4 milhões de mulheres foram agredidas fisicamente com tapas, socos ou chutes, o que equivale a uma média de 14 mulheres agredidas por minuto.
Em 2020, o número de mulheres ameaçadas com facas e armas de fogo foi de 2.199.388, enquanto em 2021, chegou a 3.303.315, segundo a projeção de dados do FBSP.
Assédio sexual
Outro dado alarmante é que 46,7% das mulheres relataram ter sofrido algum tipo de assédio sexual no ano passado. Assim, estima-se que aproximadamente 30 milhões de brasileiras tenham sido vítimas.
No detalhe, 6,7% das mulheres disseram ter sido agarradas ou beijadas à força, 7,4% foram fisicamente assediadas em transporte particular por aplicativo, 12,8% foram assediadas fisicamente em transporte público e 41% receberam cantadas ou comentários desrespeitosos na rua.
Mais vulneráveis
A pesquisa aponta que a mulher negra (65,5%) sofreu mais que o dobro de violência em comparação com a mulher branca (29%) durante o ano passado.
Segundo Juliana Martins, coordenadora institucional do FBSP e doutora em psicologia escolar e desenvolvimento humano, a mulher negra é mais vulnerável do ponto de vista socioeconômico e de moradia.
“É a parcela da população que tem mais dificuldade para acessar seus direitos e informações disponíveis, por isso está mais suscetível a violências mais graves”, explica.
Os dados revelam ainda que os casos de violência mais graves diminuem conforme aumenta a renda familiar mensal. Por exemplos, as agressões físicas (13,8%) e os espancamentos (7,7%) são muito mais frequentes entre as entrevistadas que ganham até dois salários mínimos.
A pesquisa também aponta que a violência doméstica continua sendo o principal espaço de ocorrência das violências sofridas pelas mulheres, correspondendo a 80,7% dos casos. Em relação ao agressor, em 67,7% das vezes, a violência foi cometida por um conhecido ou familiar da vítima, principalmente pelos parceiros ou ex-parceiros.
Socorro
Apenas 17,5% das mulheres agredidas em 2022 buscaram ajuda após o episódio. Dentre aquelas que pediram ajuda, a maioria buscou a família (57,1%) e amigos (41,5%). Somente 8,8% procuraram a Polícia Civil e 3,2% a Polícia Militar.
A pesquisadora explica que o maior obstáculo para as mulheres é reconhecer a situação de violência e pedir ajuda, além de as vítimas serem frequentemente responsabilizadas pelas agressões praticadas pelo próprio companheiro e julgada por familiares e amigos.
Desta forma, as ocorrências de violência contra a mulher no país são subnotificadas e, por isso, os números podem ser muito maiores.
Soluções
O estudo destaca que a falta de investimento dos recursos orçamentários destinados ao enfrentamento da violência contra a mulher pelo governo federal, as restrições ao funcionamento de serviços de acolhimento em razão da pandemia e o avanço dos movimentos ultraconservadores foram os principais fatores que levaram ao agravamento desse cenário.
Segundo Juliana Martins, “a violência contra a mulher é um problema social que precisa ser combatido por toda a sociedade e o Estado, que tem o dever de proteger e garantir direitos. É preciso criar uma cultura de prevenção, educação, e promoção de direitos, além de reforçar a rede de proteção e acolhimento às vítimas”.
O estudo aponta para a urgência de medidas governamentais para prevenir e combater a violência contra a mulher, que vão desde o investimento em políticas públicas de enfrentamento, à ampliação de serviços especializados de atendimento às vítimas e à criação de campanhas de conscientização para a sociedade como um todo.
A pesquisa entrevistou 2.017 mulheres de 16 anos ou mais, em 126 municípios do país, entre os dias 9 e 13 de janeiro deste ano. Elas responderam ao questionário sozinhas com um tablet.
Como denunciar violência contra a mulher?
- Ligue 190 (Polícia Militar)
- Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher)
- Pelo aplicativo “Direitos Humanos Brasil”
- Registrar boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher
- Registrar denúncia na página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos
(com informações de: R7)