Famílias estão em situação de miséria em SP – De acordo com dados divulgados pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMADS) da prefeitura de São Paulo, 654.103 famílias vivem na extrema pobreza – diante das 619.869 que foram registradas há quatro meses, em janeiro.
O aumento foi de 5,52%.
Este registro teve por base o CadÚnico da capital paulista. O CadÚnico, abreviação de Cadastro Único para Programas Sociais, tem por objetivo identificar e contabilizar todas as famílias de baixa renda que sejam elegíveis para programas assistenciais públicos.
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Em outro estudo levantado sobre o tema, só que desta vez pelo portal G1, o que pode ser considerado como extrema-pobreza na cidade já tinha crescido em 30,82% entre os meses de janeiro de 2021 – 473.814 famílias – e de 2022 – 619.869, somando-se mais 146.055 famílias.
Mais crianças e adolescentes nas ruas
Em 15 anos, o número de crianças e adolescentes em situação de rua dobrou. Estes são dados trazidos pela própria Prefeitura de São Paulo, divulgados no último dia 30 de julho.
Há ainda os recortes de que 42% do total dos considerados moradores de rua têm entre 12 e 17 anos, e que mais de 70% são pardos e pretos.
Desde 2007, há 15 anos, não era feito um registro sobre a quantidade de pessoas nestas condições em São Paulo.
Há de se levar em conta que estes números são medidos de forma diferente pelos mais diversos órgãos existentes. O Banco Mundial define como pertencente ao grupo dos que estão em extrema pobreza aqueles que têm renda diária de até US$ 1,90 – o que em um mês daria R$ 274,50.
Já o CadÚnico, sob a tutela do governo brasileiro, considera como extrema pobreza a condição de viver sob renda mensal de até R$ 105,00. Portanto, se fôssemos considerar metodologias aplicadas mundialmente, o número de pessoas que não conseguem suprimir suas necessidades básicas de subsistência seria consideravelmente maior.
“O cadastro (CadÚnico) é um medidor de quem está sendo enxergado pela política, quem está sendo servido ou não” – afirma Marcelo Neri, diretor da FGV Social. O que só reforça que muita gente certamente está fora da vista de institutos de pesquisa e triagem.
“Mas o fato é que tivemos um aumento sim da extrema pobreza nos últimos anos, um fenômeno agravado não só por questões econômicas, mas também por conta da pandemia” – completa Luiz Fernando Francisquini, coordenador de Gestão de Benefícios da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo (SMADS).
“O problema não é só a fome”, afirma líder comunitária
A busca diária pela sobrevivência não se limita apenas a buscar alimentos. Inclui também a obtenção de coisas consideradas básicas para uma vida digna – como, por exemplo, itens de higiene: sabonete, papel higiênico, etc. “Com a alta no preço das coisas, dificultou o acesso das pessoas no básico.
Como você vai ao mercado se não tem dinheiro, hoje o que dá para fazer com R$ 400?” – indaga Regina Paixão, líder comunitária da região do M’Boi Mirim, bairro do extremo sul de São Paulo. Nas comunidades carentes presentes na região praticamente tudo depende de doações e do Auxílio Brasil, programa assistencial do atual governo.
Ainda segundo Regina, observou-se o aumento considerável de pessoas que agora querem voltar para as suas regiões de origem, uma vez que em São Paulo também passam por necessidade – e por vezes até maiores. “É um movimento de volta que estamos observando, as pessoas que vieram para o estado de São Paulo justamente em busca de novas oportunidades estão sem alternativas”.
Também há a questão daqueles que perderam o emprego durante a pandemia e que estão em desalento – falta até mesmo dinheiro para passagens no transporte público, pra que essas pessoas possam ao menos procurar outro serviço. “Essa região, a do M’Boi Mirim, ainda é cidade-dormitório.
Ou seja, os moradores dormem por aqui, mas trabalham e procuram emprego em outras regiões. Então existe uma série de fatores, uma falta de investimentos por parte da prefeitura que dificulta ainda mais o desenvolvimento”, pontua Regina. “É complicado, a gente não tem metrô aqui ainda, uma luta de anos, uma coisa que com certeza diminuiria os gastos de uma pessoa que precisa se locomover para procurar emprego. Estamos em outra realidade agora, nasceu um outro nicho de pobreza no território”.
Mudança de valores determina o aumento no número de miseráveis
Luiz Fernando Francisquini, coordenador de Gestão de Benefícios da SMADS, justifica que “(…) a medição da extrema pobreza mudou de um ano para o outro. De 2021 para 2022 nós tivemos uma mudança na regra de medição, tomando como referência o Cadastro Único. Ele não é a única dimensão de extrema pobreza, mas é a régua mais adequada que temos no Brasil todo para identificar e quantificar as pessoas. A mudança foi a faixa de renda, até outubro do ano passado era de R$ 89 per capita mensal, em janeiro foi para R$ 105. Tivemos uma elevação da régua, que acaba incluindo mais famílias”.
O coordenador não nega que é necessário dados mais atualizados e precisos – os que ainda são tomados como referência são os do Censo de 2010, feito já há 12 anos.
E que, sobre as pessoas que estão aptas a receber benefícios mas ainda assim não recebem o Auxílio Brasil, Francisquini diz que a estimativa da prefeitura é a de que seja de 80 mil famílias.
(Com informações de G1)
(Foto: Jorge Araújo/Fotos Públicas)