No dia 8 de março (8M), mulheres do mundo inteiro juntam as suas vozes para gritar contra as forças que as oprimem.
Nessa data, muitas pessoas parabenizam e exaltam a “doçura”, “leveza”, “sensibilidade”, “beleza” e demais características que refletem o conceito de feminilidade criado pelo patriarcado. Entretanto, mesmo que de boa fé, tais comentários acabam por ofuscar a importância do real significado histórico que reveste o 8M, como uma data representativa da luta popular dos movimentos de mulheres de todos os países, que teve sua origem na Revolução Russa.
ORIGENS
Em 28 de fevereiro de 1909, cerca de 15 mil mulheres saíram às ruas de Nova York exigindo melhores direitos trabalhistas.
Na Alemanha, durante a 2ª Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, em agosto de 1910, Clara Zetkin propôs que o movimento sindical e socialista também se dedicasse à questão das mulheres, por igualdade de direitos. Foi marcado, então, o dia 19 de março de 1911 para afirmar a luta das mulheres, sendo oficialmente o primeiro dia da mulher.
Anos depois, no dia 8 de março (8M) de 1917, um grupo de operárias russas se reuniu para manifestar contra as mazelas da 1ª Guerra Mundial e a fome que assolava a Rússia. Esse ato é considerado por muitos um dos grandes movimentos políticos que deu impulso para que a revolução bolchevique se concretizasse, em outubro do mesmo ano. A partir de então, o Partido Comunista passou a utilizar o 8 de março para exaltar a “mulher heroica e trabalhadora”.
Anos mais tarde, em 1975, o dia 8 de março (8M) foi oficialmente declarado como o “Dia Internacional da Mulher” quando a ONU, para lembrar as conquistas políticas e sociais das mulheres, declarou aquele ano como o Ano Internacional da Mulher.
FEMINISMO, NEOLIBERALISMO E SUBDESENVOLVIMENTO
“Como feminista, sempre entendi que ao lutar para emancipar as mulheres eu estava construindo um mundo melhor — mais igualitário, justo e livre. Mas ultimamente comecei a desconfiar que os ideais desbravados pelas feministas têm servido para fins bem diferentes. Eu me preocupo, especificamente, que a nossa crítica ao sexismo esteja agora servindo de justificativa para novas formas de desigualdade e exploração.” (Nancy Fraser)
No capitalismo organizado pelo estado do pós-guerra, o feminismo criticou o enfoque exclusivo na desigualdade de classe, que relegava em segundo plano relevantes assuntos como a violência doméstica, opressão reprodutiva e o assédio sexual. Desse modo, afastando a pauta econômica e centralizando o debate político no aspecto “pessoal”, as feministas aumentaram a agenda com o propósito de enfrentar as hierarquias sociais inseridas na construção cultural de gênero. Isso deveria ampliar o espectro e englobar tanto a cultura quanto a economia. Uma luta por justiça. Entretanto, a “identidade de gênero” foi colocada no centro do debate “às custas das lutas do ‘pão e manteiga’”, como lembra Nancy Fraser.
Nesse sentido, involuntariamente, o enfoque feminista dado à política de identidade nos últimos tempos se acomoda perfeitamente à lógica neoliberal, que objetiva, no limite, coibir a memória da desigualdade social e reduzir o papel do Estado. Com isso, as pautas feministas foram, aos poucos, sendo apropriadas pelo neoliberalismo, como forma de garantir que, com aparência de libertação, dominantes e dominadas colaborassem para manutenção das opressões.
O sexismo cultural, dessa forma, permanece em evidência precisamente na hora em que a conjuntura demanda um enfoque no enfrentamento da redução das heterogeneidades sociais e defesa da soberania política e econômica.
Diante desse cenário, especialmente no dia de hoje, é necessário colocarmos toda nossa consciência e esforço para pensar em formas de reduzir esse abismo existente entre a luta pela transformação de uma hierarquia social dotada de valores culturais machistas e a luta pela soberania e superação do subdesenvolvimento, em benefício de uma sociedade mais igualitária e livre.
Por: Amanda Salgado, Beatriz Miquelin, Beatriz Narita e Isabella Lofrano.
Referências:
GONZÁLEZ, Ana Isabel Álvarez. As origens e comemoração do dia internacional das mulheres. Tradução: Alessandra Ceregatti. São Paulo: Expressão Popular: SOF – Sempreviva Organização Feminina, 2010.
http://www.iela.ufsc.br/noticia/como-o-feminismo-se-tornou-empregada-do-capitalismo-e-como-resgata-lo
Fonte: Portal Disparada
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