A primeira leitura sobre as movimentações ministeriais indica que Jair Bolsonaro reagiu ao processo de esvaziamento de poder com um rearranjo que colocou nas pastas estratégicas personagens mais permeáveis a sua autoridade.
E complementou o xadrez trazendo para o Planalto um nome do Congresso Nacional, o que lhe permite construir um polo de articulação agora triangular: aos dois presidentes das casas legislativas soma-se doravante alguém também da política, mas subordinado ao presidente.
O desgaste progressivo do agora ex-ministro das Relações Exteriores somou-se à perda de influência real de Bolsonaro no ministério da Saúde. Neste caso, o ministro parece mover-se, ao contrário dos anteriores, com razoável autonomia.
Tudo ajudou a transmitir nos últimos dias ao mundo político uma sensação de fraqueza presidencial. Que atingiu ponto crítico quando o chanceler abriu uma ofensiva contra o Senado. E este reagiu dando na prática um ultimato.
As mudanças deixam evidente que o presidente tenta organizar um contra-ataque.
Ou pelo menos estabelecer uma linha de resistência. Na política, depois de trazer o PP de Arthur Lira (AL) e Ciro Nogueira (PI), e depois de instalar o Republicanos de João Roma (BA) na Cidadania, atraiu agora o PL com Flávia Arruda (DF). Vai, também, cercando aliados potenciais para 2022.
Além de, naturalmente, estabelecer barreiras de contenção para eventuais tentativas de removê-lo do cargo pela via parlamentar. Considerando que a taxa de mortalidade política dos presidentes eleitos desde 1989 é de estonteantes 50%, não deixa de ser prudente.
O desafio para o presidente é atravessar a correnteza do futuro próximo, que vai combinar péssimos números na Covid-19, um provável arrefecimento da atividade econômica (ajudado pelas medidas de isolamento social) e pressões internacionais sobre a pandemia e o clima.
Num momento em que a vacinação da Covid-19 caminha, mas está longe de propiciar a tal imunidade coletiva.
Há também as incertezas sobre movimentações sociais decorrentes do relativamente baixo (comparado com o do ano passado) auxílio emergencial, o provável crescimento de desemprego e o cansaço com as medidas de isolamento social dos governadores e prefeitos.
As mudanças indicam que Jair Bolsonaro escolheu outro caminho que não o de ceder poder na hora do aperto. É possível que tenha feito a leitura do acontecido com os dois antecessores que acabaram derrubados depois de, na undécima hora, entregar os anéis.
E tem a variável da consequência das mexidas na área militar. É a variável que ainda não está tão clara assim.
Fonte: Alon Feuerwerker – Análise Política