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Antonio Neto: “5 de Julho, a verdadeira revolução paulista”

A verdadeira revolução paulista – Julho é mais do que a época mais fria de São Paulo. O mês é marcado pela eclosão da rebelião que marcará para sempre a História do Brasil: a Revolução de 1924. Escondida ao desespero pela nossa elite liberal, tanto de esquerda como de direita, o levante dos tenentistas no dia 5 deste mês foi um dos pontos mais importantes do movimento que levará à vitória dos nacionalistas na Revolução de 1930 com instalação de Vargas como presidente do Brasil.

É impossível dissociar a industrialização do Brasil do movimento tenentista. Eram influenciados pelo positivismo, ideologia vinda da França, mas que no Brasil havia passado por um profundo processo de transformação que a converteu em uma corrente de pensamento legitimamente nacional. Foram estes jovens, herdeiros da luta republicana e abolicionista do final do Império, que defenderam a importância de uma segunda independência do Brasil, pautada em nossa soberania econômica, na integração territorial de nosso país e na justiça social.

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Era a justiça social o ponto-chave dos tenentistas. A elite liberal apátrida que havia se apossado de São Paulo sintetizou sua visão dessa problemática na famosa frase de seu representante-mor, Washington Luís: “a Questão Social é caso de polícia”. A grande luta dos tenentistas era calcada na compreensão de que não existe soberania sem justiça social e não existe justiça social sem soberania.

O governo de Hermes da Fonseca (1910-14) foi um momento atípico da República Velha. Diferentemente de seus antecessores e sucessores, o governo do sobrinho do Marechal Deodoro rompeu parcialmente com o domínio da política brasileira pelas elites liberais de São Paulo e Minas Gerais, tentando iniciar, ainda que timidamente, um novo padrão de poder para nosso país. Esta hesitante experiência bastou para que, findo seu mandato, começasse uma intensa repressão contra seus apoiadores.

Após uma longa série de eventos, que conta inclusive com cartas provavelmente forjadas, o presidente Epitácio Pessoa em 1922 dissolve o Clube Militar, então pólo aglutinador dos positivistas brasileiros, e prende Hermes da Fonseca. A reação dos tenentistas foi o levante dos 18 do Forte de Copacabana no Rio de Janeiro, curiosamente na mesma data, 5 de julho, mas dois anos antes, em 1922.

Apesar da heróica derrota dos tenentistas naquela ocasião, estava plantada a semente da rebelião nacionalista brasileira, que encontraria terreno fértil em meio às brumas da terra da garoa, São Paulo de Piratininga. A terra paulista havia sido fertilizada alguns anos antes, com a greve de 1917. Com ordens de reprimir os sindicatos naquele evento, um jovem oficial da Força Pública, nome então da Polícia Militar paulista, dialoga com os grevistas e se solidariza com a Questão Social. Seu nome ficará marcado para sempre na história brasileira como um dos comandantes da Coluna Nacionalista e chefe militar da Revolução de 1930: Miguel Costa.

Reprimidos pelos governos liberais, os tenentistas-positivistas se organizaram em torno de um programa político cujos esteios eram a soberania econômica do Brasil, a verdadeira democratização de uma República oligárquica controlada pelas elites paulista e mineira e a equalização da Questão Social com a defesa de direitos trabalhistas, sindicatos e desenvolvimento econômico.

Foi esse programa que inspirou a organização liderada pelo Marechal Isidoro Dias Lopes, forçosamente secreta dada a atmosfera de repressão e censura em plena “liberdade democrática”. Contando com Eduardo Gomes, um dos “18 do Forte”, a organização foi reforçada com a entrada de Miguel Costa e seus principais aparelhos estavam nos quartéis paulistas e gaúchos. A rebelião finalmente eclode em 5 de julho de 1924 e é muito bem recebida pelas camadas populares em São Paulo. Também conta com levantes no Rio Grande do Sul e alguns episódios em outras localidades no Brasil, mas seu coração estava na terra da garoa.

A reação da elite apátrida não poderia ter sido mais agressiva. Carlos de Campos,  então “presidente de província” de São Paulo, cargo equivalente ao de governador, teria dito que “São Paulo prefere ver sua formosa capital destruída antes que seja destruída a legalidade”. As tropas reacionárias levaram a cabo um ataque tão agressivo contra a capital paulista que forçou quase metade da população de Piratininga a se exilar de sua própria cidade.

Foi nessa conjuntura de resistência heroica que Isidoro Dias Lopes passou o Comando Revolucionário para Miguel Costa. A tática adotada pelo revolucionário paulista foi de negar combate a seu inimigo, colocando os rebeldes patriotas para marchar pelo interior bandeirante. Esse foi o início da mítica “Primeira Divisão Revolucionária”, nome dado pelo próprio Isidoro Dias Lopes.

A marcha, começada em São Paulo, estendeu-se para o Paraná nas semanas seguintes, onde salvou seus camaradas gaúchos, quase derrotados na batalha de Catanduvas. A partir daí, a Coluna cruzou todo o país em luta pelo programa nacionalista de corte positivista que inspirara os tenentistas. Ficou conhecida pelo nome de seus dois comandantes, Prestes, do lado dos gaúchos, e Miguel Costa, pelo lado dos paulistas, congregando revolucionários de todo Brasil. Jamais foi derrotada em todo seu percurso.

Os revolucionários eventualmente se exilaram na Argentina, de onde apoiaram o movimento de Getúlio Vargas alguns anos depois. Não à toa, constava no plano de governo da Aliança Liberal, coalizão que apoiara Getúlio, todos os principais pontos programáticos dos tenentistas bem como a anistia a todos os patriotas que haviam lutado contra a elite apátrida que se apossara de Minas Gerais e São Paulo na República Velha. Miguel Costa se tornou o comandante militar da Revolução de 1930, inaugurando o período mais combativo da história do Brasil em busca de sua autodeterminação e soberania econômica. Anos depois, o mesmo Miguel Costa seria instrumental para debelar a rebelião das elites apátridas, também em julho, mas no dia 9 de 1932, assegurando a vitória do programa nacionalista encabeçado por Vargas.

Neste 5 de julho de 2022, São Paulo mais uma vez encontra-se ocupada por uma elite apátrida e liberal, contente em vender o país e ganhar no ágio. Em meio ao frio úmido, mais uma vez, os paulistas são convocados a fazer jus a sua tradição patriótica e rebelde, que vem desde o cacique Piquerobi, passando por Amador Bueno, o santista José Bonifácio chegando até Miguel Costa: lutar pela independência do Brasil.

Essa é a vocação patriótica e rebelde dos paulistas.

Este texto é opinativo e não reflete, necessariamente, a opinião do site Brasil Independente.

Por Antonio Neto

Analista de Sistemas e sindicalista, atualmente a frente da Central dos Sindicatos Brasileiros, do Sindpd/SP e do PDT São Paulo

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