O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mentiu em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, hoje, ao afirmar que as medidas de isolamento social por conta da pandemia de covid-19 foram responsáveis pelo avanço da inflação de alimentos. A alta do preço da comida no Brasil não tem relação com o combate à doença, mas com fatores como a política da Petrobras para combustíveis, a valorização do dólar e questões climáticas que prejudicaram a produção de energia elétrica e a agricultura.
Até o momento, as checagens feitas apontam uma média de uma mentira a cada 30 segundos.
Bolsonaro também fez alegações incorretas ou sem contexto sobre o desmatamento na Amazônia, a situação dos empregos e a vacinação, além de defender mais uma vez o suposto “tratamento precoce” para a covid-19 — cujos medicamentos não têm eficácia comprovada no combate à doença. Veja o que o UOL Confere já checou:
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“As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação, em especial, nos gêneros alimentícios no mundo todo.” Presidente Jair Bolsonaro em discurso na ONU
A declaração é FALSA e já foi checada pelo UOL Confere mais de uma vez, incluindo na live do presidente da última quinta (16).
Especialistas consultados pelo UOL Economia apontaram que a alta nos preços não tem relação com as medidas de restrição, mas sim com uma série de outros fatores:
- Modificações na infraestrutura logística em todo o mundo, deixando alguns produtos essenciais escassos e, portanto, levando à alta nos preços
- Alta do dólar, que consequentemente eleva preços de produtos e insumos importados
- Crise hídrica que encarece a conta de luz no país
- Ondas de frio que tiveram impacto na produção de alimentos
- Alta no preço do combustível, ligada à mudança de política de preços da Petrobras, que agora segue os valores internacionais do petróleo
“Meu governo recuperou a credibilidade externa e, hoje, se apresenta como um dos melhores destinos para investimentos.” Presidente Jair Bolsonaro em discurso na ONU
A declaração de Bolsonaro é INSUSTENTÁVEL, pois não tem amparo em dados públicos. O presidente não citou qual seria a fonte de sua alegação.
As informações disponíveis sobre investimentos externos no Brasil mostram um cenário diferente. Um ranking da ONU divulgado em junho mostrou que o investimento estrangeiro no Brasil em 2020 despencou para níveis de 20 anos atrás, diante da dificuldade de controlar a pandemia de covid-19 e das incertezas sobre os rumos econômicos e políticos do país, noticiou o colunista do UOL Jamil Chade. Segundo dados do próprio Banco Central, em junho, o investimento estrangeiro mensal no Brasil caiu para o menor nível em cinco anos, mas houve recuperação no mês seguinte.
“!a Amazônia, tivemos uma redução de 32% do desmatamento no mês de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior.” Presidente Jair Bolsonaro em discurso na ONU
Em agosto de 2021, o desmatamento de fato caiu 32% em relação ao mesmo mês no ano anterior. No entanto, o dado foi apresentado SEM CONTEXTO. Entre janeiro e agosto, o desmatamento foi de 6.026 km², quase o dobro do registrado no mesmo período em 2018, de 3.336 km², antes do início do governo Bolsonaro.
Bolsonaro também omitiu que, entre agosto de 2019 e julho de 2020, a exploração de madeira na Amazônia ocupou uma área equivalente a quase três vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Ao menos 11% desta exploração ocorreu em áreas protegidas.
“O Brasil já é um exemplo na geração de energia, com 83% advinda de fontes renováveis.” Presidente Jair Bolsonaro em discurso na ONU
A alegação é DISTORCIDA. Segundo documento da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), ligada ao Ministério de Minas e Energia, 48,4% da matriz energética do país é composta por energias renováveis. O percentual de 84,8% corresponde ao uso de fontes renováveis dentro da oferta interna de energia elétrica, e não da energia total. Os dados são referentes ao ano de 2020.
“Os recursos humanos e financeiros, destinados ao fortalecimento dos órgãos ambientais, foram dobrados, com vistas a zerar o desmatamento ilegal. E os resultados desta importante ação já começaram a aparecer.” Presidente Jair Bolsonaro em discurso na ONU
A declaração do presidente é FALSA. Bolsonaro trata como realidade algo que sequer aconteceu, já que o orçamento dobrado para o Ibama e o ICMBio, órgãos de fiscalização do Ministério do Meio Ambiente, está previsto para 2022.
Além disso, o orçamento dobrado partirá de números em queda. Segundo o Portal da Transparência do governo federal, as despesas previstas para o Ministério do Meio Ambiente em 2021 estão em R$ 2,98 bilhões, o menor valor desde 2017.
Em abril, pouco depois de Bolsonaro fazer a mesma promessa de dobrar recursos para a fiscalização ambiental, o governo cortou R$ 240 milhões do Ministério do Meio Ambiente. Um ofício do ICMBio publicado naquele mês apontava restrições financeiras severas que poderiam afetar os trabalhos de prevenção e combate a incêndios florestais.
Já o Ibama, ainda sob a gestão de Ricardo Salles como ministro do Meio Ambiente, reduziu o poder de multa de fiscais do órgão — o que levou à interrupção de autuações por crimes ambientais —, exonerou chefes de quatro estados e nomeou uma advogada experiente em anular infrações ambientais para a Superintendência do Ibama no Acre. Apesar do recorde de incêndios no Pantanal, o ano passado teve a menor quantidade de multas por desmatamento ilegal da história.
“Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do ‘tratamento precoce’, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina. Eu mesmo fui um desses que fez ‘tratamento inicial’.” Presidente Jair Bolsonaro em discurso na ONU
A declaração do presidente é FALSA. Não existem medicações com eficácia cientificamente comprovada para os estágios iniciais da doença. O CFM (Conselho Federal de Medicina) não recomenda o suposto “tratamento precoce”, mas aprovou no ano passado um parecer que dá autonomia para os médicos receitarem remédios fora das orientações da bula (uso off-label).
Defensor da hidroxicloroquina, Bolsonaro omite que a OMS (Organização Mundial de Saúde) contraindica a droga em casos de covid, assim como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e a maioria dos fabricantes brasileiros.
O suposto “tratamento precoce”, que inclui outras medicações como a ivermectina e a azitromicina, foi adotado como bandeira do governo Bolsonaro ao longo da pandemia. O governo inclusive teve maior agilidade para adquirir as medicações do que as vacinas contra o coronavírus.
Tanto a Anvisa quanto a OMS já alertaram para os riscos de efeitos colaterais do uso da hidroxicloroquina, que pode comprometer os rins e provocar diarreias e náuseas.
“No último 7 de setembro, data de nossa Independência, milhões de brasileiros, de forma pacífica e patriótica, foram às ruas, na maior manifestação de nossa história, mostrar que não abrem mão da democracia, das liberdades individuais e de apoio ao nosso governo.” Presidente Jair Bolsonaro em discurso na ONU
A declaração do presidente é FALSA. Não há nenhum dado que corrobore tal afirmação, e as informações disponíveis mostram o contrário. Em São Paulo, por exemplo, o ato reuniu 125 mil pessoas, segundo o governo paulista. Segundo o Datafolha, o maior ato político registrado na cidade foi o protesto pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, com a presença de cerca de 500 mil pessoas.
Esta checagem está em atualização e você pode conferir em tempo real pelo Portal UOL
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Randolfe Rodrigues envia notícia-crime contra Bolsonaro ao STF
Vice-presidente da CPI da Covid, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ingressou com uma notícia-crime contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Supremo Tribunal Federal (STF) por conta das ações e dos discursos golpistas de Bolsonaro durante as manifestações do 7 de setembro ocorridas em Brasília e em São Paulo.
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O efeito colateral do golpismo de Jair Bolsonaro chegou rápido: Hamilton Mourão e Arthur Lira, ambos na linha de sucessão da Presidência, estão de antenas ligadas. Quem esteve com o vice diz que a paciência dele se esgotou e que ele estaria disposto a ir para o tudo ou nada contra Bolsonaro, mas sofre forte pressão do presidente.
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