Jair Bolsonaro resolveu debochar das cobranças pela prorrogação do auxílio emergencial. Com o país à beira de mais um ciclo mortífero, o presidente disse que não tem culpa pela “situação difícil em que se encontra a população”, uma vez que não é o responsável pelas medidas de restrição implantadas até aqui.
“Tem gente criticando, ainda falando que quer mais. Como é endividamento por parte do governo, quem quer mais é só ir no banco e fazer empréstimo”, ironizou.
O presidente achatou a curva de queda de sua popularidade no ano passado graças aos bilhões do auxílio emergencial. Agora, ele mostra mais uma vez que o governo não sabe como gerenciar o redemoinho econômico provocado pela pandemia e, para piorar, ainda dá de ombros a quem depende de ajuda para sobreviver durante a crise.
Uma das especialidades de Bolsonaro é zombar dos brasileiros que não o idolatram. Depois que milhares de pessoas protestaram contra o governo, o presidente afirmou que as ruas ficaram vazias porque “faltou erva”. Meses atrás, quando o número de famílias enlutadas disparava na pandemia, ele disse que aquele sofrimento era “frescura”.
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Bolsonaro desfila de salto alto no lamaçal do governo. O presidente faz pouco caso de críticos, ridiculariza antigos apoiadores e afasta parte considerável da população por acreditar que sua base fiel será suficiente para mantê-lo no poder. Ele quer segurar seus 25% de apoio, chegar ao segundo turno e ativar o antipetismo para atrair outros eleitores.
A artimanha vale também para amarrar aqueles que acham que Bolsonaro não é golpista o suficiente. Na semana passada, quando uma eleitora disse que ele deveria acionar as Forças Armadas contra os governadores e prefeitos, o presidente retrucou: “Quem não está contente comigo tem o Lula em 22”.
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O presidente aposta nesse fantasma enquanto faz troça dos pobres, dos mortos e dos insatisfeitos em geral. O problema é que esses grupos estão cada vez maiores.
Por Bruno Boghossian, jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).
Fonte: Folha de S. Paulo
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