Reindustrialização do Brasil – Um lado sinuoso da orla de Niterói — na verdade uma pequena parte do chão e das águas fluminenses — tem testemunhado e até mesmo protagonizado alguns dos momentos de maior ânimo e esperança da economia brasileira.
Na Ponta da Armação e na Ponta d’Areia, à entrada da Enseada de São Lourenço, Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, montou as bases industriais para o maior surto de desenvolvimento nacional no século XIX, voltadas sobretudo para a construção de ferrovias e navios.
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Ao se abrirem as cortinas, no início dos anos 1960, do grande salto industrial da segunda metade do século passado, calcado nas bases energéticas e siderúrgicas conquistadas para o Brasil por Getúlio Vargas nas décadas anteriores, a Companhia Comércio e Navegação (Estaleiro Mauá) lançava ao mar o “Ponta d’Areia”, considerado um marco da moderna indústria naval brasileira.
Levando a bordo, ao singrar os mares, o sonho trabalhista do nacional-desenvolvimentismo, aquele navio deixou para trás, consolidado em Niterói, um grande polo da indústria naval brasileira, que agora se reanima, alentado pela promessa do presidente Lula de nacionalizar mais uma vez a construção das embarcações de médio e grande porte da Petrobras.
De cara, isso reacende a esperança da recuperação de mais de 40 mil empregos diretos e indiretos perdidos só naquela região depois que os governos Temer e Bolsonaro, de olho apenas na lucratividade dos acionistas, passaram a mandar para fora as encomendas de navios da maior empresa brasileira.
Niterói já se preparava, antes mesmo da posse de Lula, para participar de uma nova fase de reindustrialização, fazendo pesados investimentos próprios no principal vetor econômico que o município tem a oferecer: a ampliação da capacidade do cluster da indústria naval baseado na cidade e a capacitação de mão de obra qualificada para atender principalmente às demandas do setor metalúrgico e do complexo industrial de óleo e gás do Leste fluminense.
Após um longo período de planejamento, a prefeitura lançou em fevereiro um edital com orçamento de R$ 138 milhões para a dragagem do Canal de São Lourenço, em cuja orla se encontram dezenas de estaleiros. O aprofundamento do canal de 7 para 11 metros permitirá a entrada de navios de grande porte, beneficiando também o setor de offshore, além das atividades portuárias e a indústria da pesca, com uma geração estimada de 10 mil empregos diretos e indiretos.
No mês passado também demos início à implementação do plano de geração de emprego e renda da cidade, por meio do Conselho Deliberativo Municipal de Trabalho Emprego e Renda (Codemter), visando à qualificação e requalificação profissional de 10 mil trabalhadores. Para tanto, esperamos contar com R$ 35 milhões do Fundo Municipal de Trabalho, Emprego e Renda (Fumter), sendo R$ 11 milhões de aporte próprio da prefeitura, R$ 11 milhões de contrapartida do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e R$ 13 milhões de emendas parlamentares.
Estudos mostram que os empregos da indústria remuneram até três vezes mais que os de outros setores. Investindo num plano de qualificação profissional e nas condições estruturais do município, Niterói vem oferecendo sua contribuição ao esforço de reindustrialização no momento em que o governo federal promete reatar um compromisso histórico com o desenvolvimento nacional em que o Estado cumpre o seu papel de fomentar o adensamento produtivo por meio das compras públicas e dos subsídios, que, no caso da indústria naval, podem ser operados pelo Fundo de Marinha Mercante e pelo BNDES.
Que bons ventos possam levar o nosso país nessa viagem rumo à reindustrialização.
Por Brizola Neto, coordenador de Trabalho e Renda da Prefeitura de Niterói e ex-ministro do Trabalho
*Publicado originalmente pelo jornal O Globo
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