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Centrais sindicais de Brasil e EUA aproveitam nova política de Biden para união

Em 1º de abril, um mês antes deste Dia do Trabalho, seis centrais sindicais brasileiras enviaram uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pedindo a doação de vacinas contra o coronavírus para o Brasil. Para além de um gesto simbólico, a iniciativa nasce da expectativa mútua de estreitamento da relação dos movimentos trabalhistas dos dois países.

Hoje à espera do agendamento de uma audiência com o secretário do Trabalho americano, o sindicalista Marty Walsh, dirigentes sindicais brasileiros enxergam no discurso Biden –e na montagem de sua equipe– uma chance inédita de acesso à Casa Branca.

Eleito com o suporte das centrais sindicais –que até criaram um movimento em favor de sua candidatura–, Biden é um defensor da organização sindical nos EUA. O democrata chegou a incluir os sindicatos no que chamou de “espinha dorsal” de seu país.

Presidente da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), Antonio Neto lembra que a campanha de Biden foi lançada dentro do sindicato dos metalúrgicos de Pittsburgh, na Pensilvânia, e destaca como emblemática a escolha do busto de um sindicalista para a nova decoração do Salão Oval.

“O busto é de César Chávez [1927-1993], um filho de imigrantes mexicanos que liderou um movimento pelos direitos de trabalhadores agrícolas. O seu lema era “Sí, se puede”, afirma Neto, chamando de histórico o discurso de Biden em apoio à organização sindical.

Apontada pela Time como uma das cem personalidades mais influentes de 2020, a presidente do SEIU (Sindicato Internacional de Trabalhadores nos Serviços), Mary Kay Henry, se diz mortificada com a velocidade de contágio e com as vítimas do coronavírus no Brasil.

“Vamos fazer todo o possível para que nosso governo ajude o povo brasileiro, apesar de Bolsonaro”, afirma.

Para ela, a eleição de Biden possibilitará o aprofundamento da cooperação com as centrais sindicais brasileiras, tendo, atualmente, CUT (Central Única dos Trabalhadores) e UGT (União Geral dos Trabalhadores) como principais parceiros no Brasil.

Pós-Trump

Sob forte ataque durante o governo Trump, o movimento sindical americano poderá, agora, dedicar energia ao fortalecimento de alianças pelo mundo afora. No caso do Brasil, seria uma retribuição ao suporte que as centrais brasileiras deram às campanhas sindicais nos Estados Unidos.

“O que a administração Biden nos permite fazer é o que os sindicatos brasileiros fizeram por nós durante os governos Lula e Dilma”, diz Mary Kay.

Segundo ela, mesmo sob Bolsonaro, os sindicatos brasileiros deram um enorme apoio, por exemplo, nas denúncias de assédio sexual na rede MCdonald’s. Ela se refere à coalizão internacional de sindicatos de sete países que, no ano passado, apresentou denúncia nesta segunda-feira (26) à OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) contra o McDonald’s, acusando a rede de “assédio sexual sistêmico” nas lanchonetes.

O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, já participou, junto com uma delegação brasileira, da campanha pela sindicalização dos operários de uma montadora no Mississipi. Com horário restrito para uso do banheiro, operários usavam fralda durante o expediente.

Torres conta que visitava os empregados em suas casas para convencê-los, já que, nos EUA, a presença do sindicato na fábrica é definida em votação e os donos das empresas podem fazer campanha contra a filiação dos trabalhadores. Havia relatos de redes que desativam as lojas ao sinal de derrota para os sindicalistas.

Para Torres, hoje, a Casa Branca poderá ter peso junto à OIT (Organização Internacional de Trabalho) para aplicação de sanções a países que desrespeitem as sanções trabalhistas.

Sindicalistas avaliam que, sob uma administração sensível à agenda trabalhista, as empresas americanas poderão ficar mais atentas às condições de trabalho em suas filiais e nos seus fornecedores, a exemplo do que já acontece na Europa.

Secretário regional da UNI Global Union Américas, Márcio Monzane afirma que as práticas ambientais, como no agronegócio, estão em foco. A emissão de poluentes e o desmatamento pode ser causa de boicote nos Estados Unidos e Europa.

A UNI é uma federação sindical global que reúne cerca de 900 sindicatos em mais de 140 países, representando 20 milhões de trabalhadores.

Na regional das Américas, Monzane vai à mesa de busca de saídas para impasses que extrapolam fronteiras. Em um dos casos, reportou a um banco brasileiro as condições de trabalho dos empregados nas filiais da América do Sul.

Em outro, uma rede europeia foi acionada para solucionar um problema na República Dominicana.

“O movimento organizado não pode ser visto como inimigo”, diz.

Secretário de relações internacionais da CUT, Antônio de Lisboa afirma que o sindicato é um instrumento da democracia. Ele cita uma declaração de Biden, segundo quem não foi Wall Street que ergueu os EUA, mas a classe média, construída, por sua vez, pelos sindicatos.

“Parece óbvio. Mas não é. É preciso valorizar as relações laborais”.

O presidente nacional da UGT, Ricardo Patah, espera que o esmaecido movimento sindical brasileiro invista em acordos como o celebrado com a ACFTU (Federação Nacional dos Sindicatos da China), que, originalmente, doaria US$ 300 mil para que as centrais implementassem ações contra a Covid-19. Devido a reação contrária de bolsonaristas, o apoio chegará em material.

Patah afirma que, em dois anos e quatro meses de governo, Bolsonaro nunca se reuniu com as centrais sindicais.“Bolsonaro só quer exterminar o movimento sindical”, diz.

Fonte: Folha de S. Paulo

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Por Redação

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