O senador Cid Gomes (PDT-CE) fez uma avaliação do início do governo Lula e da relação entre seu partido e o PT. Em entrevista a Lauriberto Pompeu, no jornal O Globo, o líder do PDT no Senado apontou contradições nas falas e ações do governo até o momento e defendeu que o PDT reavalie no meio do mandato de Lula se deve permanecer em sua base.
Um dos grandes pontos de enfrentamento entre a legenda de Cid e o governo petista tem sido a questão dos juros. Enquanto o presidente Lula critica publicamente a taxa Selic, ele não utiliza qualquer ferramenta que possui para influenciar sua redução.
“O Lula critica juro, e o que está por trás de juro é a especulação financeira. Eu vejo pessoas no governo muito influentes, que são porta-vozes do sistema financeiro”, ressaltou o senador.
Nesse sentido, Cid usou como exemplo o caso envolvendo o Ministro da Previdência, Carlos Lupi, que é presidente licenciado do PDT. Lupi apresentou uma proposta para reduzir o teto de juros do empréstimo consignado para beneficiários do INSS de 2,14% ao mês para 1,7%, que foi aprovada pelo Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS).
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Após o anúncio da decisão, bancos particulares suspenderam a modalidade, alegando que a taxa era “inviável”, e foram acompanhados pelos bancos estatais, Banco do Brasil e Caixa Econômica. Lupi, por sua vez, foi alvo de críticas dos próprios governistas.
“Ele [Lupi] conversou com o presidente antes de reunir o conselho do Ministério da Previdência, e depois a Casa Civil disse que não tinha sido acertado. Uma desautorização pública.”
Situação semelhante acontece com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Apesar de ter sido um dos nomes que se opôs à redução dos juros proposta por Lupi, Cid Gomes também vê contradições nas críticas que o petista recebe de companheiros de partido.
“O Lula é mestre nisso, um critica e outro elogia para ele mediar. Enquanto ele mediar em uma direção progressista, eu estarei satisfeito. Mas, se a crítica for só -para inglês ver’ e, no fundo, as ações forem conservadoras… O Haddad é bem-intencionado”, afirmou.
Articulação no Congresso
O pedetista se disse preocupado também com a forma com que o governo tem negociado apoio no Congresso. Segundo ele, há um “conformismo com o status quo” que, no momento, é representado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
“Lira é só mais um e vai ser mudado. O poder do Lira não é um poder dele, é um poder da presidência [da Câmara], que vinha de pressão junto a governos frágeis, como foi o do Bolsonaro e como foi o do Michel Temer. O Brasil não vai mudar só porque tirou o Bolsonaro e botou o Lula. É o Centrão, é o mesmo povo, com a conivência e o entusiasmo do [ministro das Relações Institucionais] Alexandre Padilha, que é o articulador político do governo”, avaliou.
Para Cid Gomes, a atuação de Padilha “está levando o presidente Lula para uma tragédia”, pois o ministro defende que o centrão “volte a mandar no governo” como foi nos mandatos de Jair Bolsonaro e Michel Temer.
O perigo, de acordo com o senador, é que Dilma Roussef sofreu impeachment justamente por causa do centrão, que “não mandou tanto quanto queria” no mandato dela.
Relação entre PDT e PT
Cid foi questionado sobre se a estratégia de seu irmão Ciro Gomes de antagonizar com o PT nas eleições do ano passado foi válida. Ele explicou que Ciro buscava atrair um público decepcionado com Bolsonaro e que tinha a volta do PT como maior preocupação.
“Como não viram alternativa, acabaram voltando para o Bolsonaro. Isso poderia ter sido diferente. Essas pessoas poderiam ter migrado para o Ciro”, disse.
No entanto, o senador lamentou que a estratégia nacional de campanha tenha afetado a relação entre os partidos em seu estado. Desde que governaram o Ceará, Ciro e Cid contavam com o apoio do PT ou o apoiavam, mas o pacto foi rompido no ano passado quando o PDT lançou a candidatura de Roberto Cláudio e o PT, de Elmano Freitas, que acabou se elegendo governador do estado.
“Nós sempre tivemos uma convicção de que o projeto nacional, a candidatura do PDT e do Ciro, não interferiria na aliança que nós temos com o PT no Ceará. Esse sempre foi o nosso entendimento há duas décadas. Nessa última eleição, o Ciro resolveu mudar e nacionalizar a eleição estadual. Eu achava que era uma estratégia equivocada, mas fui voto vencido”, contou.
Apesar da reaproximação das siglas após Lupi aceitar o posto no Ministério da Previdência, Cid Gomes considera que isso não impede o PDT de ter candidato próprio à presidência em 2026. Ele não garante, inclusive, que o PDT ainda esteja no governo até lá.
“Vamos avaliar metade do governo do Lula e ver: vale a pena continuar? O PDT tem tido suas propostas respeitadas? Tem, então vale a pena fazermos o sacrifício. Não tem, então vamos nos preparar com antecedência para termos um candidato”, defendeu.
(Com informações de: O Globo)
(foto: Waldemir Barreto/Agência Senado)