Rússia ameaça enviar tropas para Cuba e Venezuela – Em mais um dia de impasse diplomático em torno da crise na Ucrânia, a Rússia subiu ainda mais o tom em seu embate com a Otan (aliança militar ocidental) acerca do país vizinho: ameaçou deixar os diálogos e sugeriu que pode enviar tropas para Venezuela e Cuba.
Os dois países latino-americanos são os principais aliados de Vladimir Putin no quintal estratégico dos Estados Unidos, que por sua vez costuram um pacote de sanções destinado a atingir diretamente o presidente russo em caso de ação militar na Ucrânia.
As ameaças foram feitas pelo vice-chanceler Serguei Riabkov, em uma entrevista nesta quinta-feira (13) ao canal russo RTVI.
Ele é o chefe da delegação que negociou na segunda-feira (10) em Genebra com um grupo americano.
“Não há razão para sentar à mesa [com os ocidentais] nos próximos dias”, afirmou.
O diplomata disse que não seria possível excluir o posicionamento de forças nos países latino-americanos.
Em 1962, a União Soviética respondeu à instalações de mísseis nucleares americanos na Turquia colocando um regimento de foguetes em Cuba.
O incidente causou a mais famosa crise da Guerra Fria, com um bloqueio naval americano impedindo a chegada de navios soviéticos com mais armas, quase levando a um conflito nuclear entre as potências.
Além disso, o vice-chanceler afirmou que Putin está recebendo “opções militares” acerca da situação na Ucrânia, perto de onde o russo posicionou mais de 100 mil homens desde novembro, gerando a acusação, por parte dos EUA e da Otan, de que estaria preparando uma invasão.
O Ocidente já possui mais que o dobro de tropas na região: cerca de 250 mil soldados.
A reunião em Viena começou com notas sombrias.
“Parece que o risco de guerra na área da OSCE é agora maior do que nunca nos últimos 30 anos”, disse o chanceler Zbigniew Rau, da Polônia.
O representante russo na entidade, Alexander Lukachevitch, afirmou que ainda espera uma saída diplomática para a crise, o mesmo que havia dito Riabkov e o chefe de ambos, o chanceler Serguei Lavrov, embora todos falem em um “beco sem saída” à frente dos envolvidos.
“Não há motivo para otimismo.”
Esta foi a terceira reunião nesta semana sobre a crise. Depois das conversas em Genebra, na quarta (12) houve uma dura rodada do Conselho Otan-Rússia, que não se reunia havia dois anos, em Bruxelas.
Em todos os encontros, houve um caminho aberto para concessões na forma de eventuais tratados sobre armas de alcance intermediário, uma obsessão estratégica do Kremlin, e monitoramento de exercícios militares. Ao mesmo tempo, a Rússia fez uma nada sutil sinalização ao mobilizar 3.000 homens, tanques e blindados para manobras com munição real em quatro regiões, três das quais junto à Ucrânia.
Enquanto isso, democratas no Senado americano anunciaram a preparação de um novo pacote de sanções visando atingir Putin —se houver ação militar contra o vizinho.
O porta-voz do Kremlin considerou “inaceitável” a especulação, além de reiterar a posição oficial de que não há intenção de agir.
O embaixador Lukachevitch resumiu o espírito vigente, contudo:
“A Rússia é um país que ama a paz. Mas não precisamos de paz a qualquer custo. A necessidade de obter garantias formais de segurança para nós é incondicional”.
As tais garantias foram expressas por Putin em conversas com o americano Joe Biden e em um documento formal e foram rejeitadas pela Otan.
O Kremlin quer ver restaurado um entorno estratégico que, se não é aliado como na Bielorússia e agora com a presença na crise do Cazaquistão, seja ao menos neutro, refletindo séculos de preocupações com invasões e presença de adversários nas fronteiras.
O caso ucraniano é ainda mais complexo, já que Putin também fomentou uma guerra civil no leste do país, hoje um protetorado de rebeldes pró-Kremlin.
Com insinuações de Kiev de resolver a coisa militarmente, Putin resolveu agir e aproveitar para tentar estabelecer uma solução para a crise sob seus termos.
Fonte: Folha de S. Paulo
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