Após serem citadas pela deputada federal Sâmia Bonfim como parte da ala do PSOL que não quer o partido integrando o governo Lula, Talíria Petrone e Erika Hilton desmentiram a afirmação da colega. Guilherme Boulos também reagiu às declarações dadas à coluna de Monica Bergamo.
Deputado federal mais votado de São Paulo, Boulos já havia sido apontado na reportagem inicial como um dos que defendia compor com Lula. Após a divulgação, ele confirmou seu posicionamento e descartou a possibilidade de uma oposição à esquerda ou não-bolsonarista.
“Quem vai fazer oposição ao Lula é o bolsonarismo, e não estaremos ao lado deles. O momento do país é outro. Enfrentamos uma oposição raivosa. E não dá para brincar com isso. O governo será de frente ampla, e nós temos que disputar internamente espaços para puxar a agenda do país para a esquerda”, disse.
Atual líder do partido na Câmara, Sâmia considera o líder do MST o mais cotado para assumir o posto que ela deixa em fevereiro do ano que vem. Há a possibilidade ainda de Boulos assumir o Ministério das Cidades. Para ele, trabalhar junto ao próximo governo não levará o PSOL a perder sua autonomia.
Apoio sim
A deputada eleita Erika Hilton também acredita que a sigla deve ser base de Lula no Congresso e não é contrária que seus quadros ocupem cargos na administração federal.
“Ao contrário do que a deputada Sâmia Bomfim fez parecer, essa posição [de não compor com Lula] não está fechada no partido, e tampouco faço parte daqueles que acham que, caso sejam convidados, figuras do PSOL não possam fazer parte do governo, por princípio, sem discutir caso a caso”, declarou em nota.
Ela afirmou ainda que o PSOL deve “defender o governo Lula contra qualquer tipo de golpismo e não fará oposição ao governo. Temos legitimidade popular para ocupar eventuais espaços, por sermos referência nacional em diversas agendas progressistas encampadas na campanha que derrotou Bolsonaro”, completou.
Já Talíria Petrone concorda que nenhum psolista deveria ocupar postos no Executivo, mas que os 12 parlamentares eleitos devem estar juntos ao PT no Congresso.
“O PSOL seguirá na linha de frente da instalação do novo governo e pela aprovação das medidas populares que o povo brasileiro elegeu. Assim, daremos nossa melhor contribuição para o Brasil: sustentando o governo Lula contra a extrema direita e sendo voz firme diante de qualquer ameaça de retrocesso”, afirma Talíria.
‘Assino embaixo’
Quem “assina embaixo” da posição de Sâmia é a deputada federal pelo Rio Grande do Sul Fernanda Melchionna, outro nome que foi citado pela colega de Câmara como favorável à independência do PSOL.
Ela critica, por exemplo, o PT não ter pautado a revisão do teto de gastos durante a tramitação da PEC da Transição e de apoiar a reeleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara, mesmo após ele ter sustentado o governo Bolsonaro (PL).
“Se tu integra governo, tu integra governo. Vai ter que acompanhar as posições políticas e vai ter que fazer parte do governo, seja na defesa do [José] Múcio [Monteiro, cotado para ministro da Defesa] ou no apoio ao Lira. A independência, ao contrário, nos permite apoiar tudo de bom que vier do governo, mas ter independência para não ser adesista”, afirma.
Assim como Sâmia, ela pondera que deixar de compor a base do governo não significa se unir à oposição, muito menos estar ao lado de bolsonaristas. “Nós sabemos que 2023 não é 2003, quando o PSOL foi fundado. Em 2023, temos uma extrema direita organizada, e nós vamos estar na batalha. Não é uma posição de oposição porque nós não estamos com bolsonaristas”, diz.
Fonte: Folha de S.Paulo