Esquerda sapatênis de Gregório Duvivier – Um tragicômico espetáculo se desenrolou na internet nos últimos dias. Gregório Byington Duvivier e sua robusta equipe da empresa estadunidense HBO perderam totalmente as estribeiras ao produzir um programa dedicado a atacar Ciro Gomes e os Trabalhistas, recheado de informações falsas e preconceito contra os brasileiros. A razão por trás dessa agressão gratuita é evidente: o derretimento a olhos vistos da esquerda de sapatênis.
Toda a militância trabalhista ficou indignada com a provocação vinda de Gregório Duvivier. Afinal, com muito afinco, os apoiadores da única candidatura de esquerda capaz de derrotar o colonialismo de Bolsonaro estão há meses defendendo o legado do trabalhismo contra o assédio oriundo do neoliberalismo petista. A campanha dos paloccistas busca mais uma vez repetir o domingo sangrento de agosto de 2018 e isolar a única voz dissonante ao consenso neoliberal em torno de Lula. Dessa vez, não conseguirão.
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É na tentativa de restaurar o governo da Faria Lima avermelhada que a campanha petucana mobilizou um verdadeiro exército de perfis verificados para atacar o Trabalhismo nas redes sociais. Como é praxe dos petucanos, esse movimento foi acompanhado de uma enxurrada de fake news, terrorismo eleitoral e chamados um tanto melosos a uma suposta “unidade da esquerda” em torno da reedição do neoliberalismo de 2003.
O “terrorismo eleitoral” em questão foi lastreado no surreal argumento de que uma repetição do arranjo neoliberal dos anos 90 e 00 seria a única via para salvar a combalida democracia brasileira – já refutamos esse argumento aqui nesta coluna.
Mas sabemos que no fundo é pura hipocrisia. O que está em jogo é o colapso do petucanismo, fenômeno que se acelera à medida que as lideranças do PT insistem em um programa que não tem chances de vingar num mundo em que o Consenso de Washington começa a falir. Essa ruína se traduz nas frustrações e temores dos estrategistas eleitorais de Lula, que enxergam (embora não o confessem) a tendência declinante das intenções de voto do ex-presidente.
No lugar de ter a grandeza de abandonar sua campanha e apoiar incondicionalmente os Trabalhistas, o petucanismo mais uma vez faz com que todo o Brasil dance à beira do abismo a fim de assegurar sua hegemonia sobre a esquerda.
O programa de Gregório Duvivier se insere nesse contexto. O seu suposto convite para que os eleitores de Ciro Gomes apoiem o neoliberalismo petista não pode ser descolado da coordenação de influenciadores que alvejaram a campanha trabalhista nos últimos dias.
Em seu programa, Duvivier falsamente disse que Ciro foi demitido do governo de Itamar. Além disso, também distorceu a atuação do trabalhista no Plano Real e usou a estratégia do “foi para Paris” para desqualificar a candidatura trabalhista. Para completar seus ataques, Duvivier ainda falou do “destempero” de Ciro Gomes, beirando o típico preconceito de parte da classe média sudestina contra os nordestinos. A “cereja do bolo” foi o festival de preconceito de Gregório contra a religiosidade dos brasileiros em uma série de ofensas dirigidas contra Cabo Daciolo.
No Ciro Games da última terça-feira, o candidato trabalhista refutou ponto a ponto cada uma das falas do comediante. O desmentido em relação às informações falsas e a rejeição ao preconceito religioso de Duvivier foram as mais emblemáticas.
A agressividade de Gregório tem uma razão de ser: a estética liberal da esquerda pós-moderna já se tornou brega e cafona há muito tempo. Esse ódio à própria carne e a tudo que remete ao Brasil nunca foi apropriado estética ou politicamente, mas teve seu tempo para vingar durante o auge do neoliberalismo.
Gregório é a farsa da tragédia que foi a estética “chiquita bacana niuliberal”, nas sábias palavras de Gilberto Vasconcellos. Não à toa sua hegemonia dos anos 1980 até a década de 2010 coincide com uma suposta “redemocratização” projetada para evitar que o Trabalhismo voltasse a ocupar a posição que tinha antes de 1964. É essa estética que condena o folclore como autoritário que ao mesmo rejeita a Nação, a Classe e a Totalidade como categorias da realidade social, substituindo-as por um fragmentarismo flagrantemente individualista. “Niuliberal”, diria Giba.
O colapso do petucanismo é político e econômico, mas também estético e social. As primeiras rachaduras no edifício “niuliberal” se tornam visíveis à medida que a questão nacional se impõe em um Brasil dilacerado pelo imperialismo. De todas as agressões de Gregório, a que chama mais atenção é justamente contra Daciolo. Esses “bacanas niuliberais” não podem tolerar a volta de uma esquerda verdadeiramente popular, com cara de povo, que crê como povo, que fala como o povo – preferem sua plasticidade importada da atmosfera artificial de uma sitcom estadunidense. Em suma: um Haddad com seu ar uspiano de mais um FH.
A minha geração de nacionalistas de esquerda é marcada pela tristeza cotidiana de ter militado sob a hegemonia dos “bacanas niuliberais”. Em meio a toda catástrofe colonialista que se abate sobre o Brasil, temos pelo menos uma pequena felicidade:
Testemunhar o derretimento dessa odiosa esquerda de sapatênis.
Por Arhur Silva, servidor público do Estado de São Paulo, graduado em Ciências Sociais pela FFLCH/USP, pesquisa Teoria da Dependência e História Brasileira.
Publicado originalmente no Portal Disparada.
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