PSB cogita reaproximação com Ciro – Estadão – Diante do impasse para fechar aliança com o PT em Estados definidos como “joias da coroa”, a cúpula do PSB decidiu fazer um movimento paralelo.
Quer filiar o ex-governador Geraldo Alckmin, mas pode agora oferecê-lo como “dote” ao PDT de Ciro Gomes. Dirigentes do PSB procuraram nesta semana a cúpula do PDT e marcaram um encontro para depois da virada do ano, na tentativa de abrir novo canal de negociação.
Alckmin pode se filiar ao PSB e ser vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, em 2022. Mas, como a cada semana surge um problema, tanto ele como o partido saíram em busca de alternativas. A ideia é dar um ultimato ao PT e mostrar que os socialistas não estão dispostos a abrir mão de candidaturas próprias em Estados como São Paulo e Rio Grande do Sul, por exemplo.
Nas conversas, acenam com a hipótese de montar uma federação e casar com o PDT e o PV até as eleições de 2026.
O movimento do PSB é visto com ceticismo pelos petistas, para quem tudo não passa de um jogo de cena do grupo do presidente do partido, Carlos Siqueira, para valorizar o passe. Siqueira tem dado declarações duras desde o último encontro com Lula, há dez dias. Disse, por exemplo, que o PT precisa decidir se seu objetivo é formar uma frente ampla para derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL) e eleger Lula ou se é “disputar os governos nos Estados” e tratar como adversário quem pode ser seu principal aliado.
“Esse negócio do PSB com o PT não tem como dar certo, mesmo porque Lula, com 46% (das intenções de voto), acha que já está com a mão na taça”, disse ao Estadão o presidente do PDT, Carlos Lupi.
“Nós vamos conversar. Acho que o PSB tem muito mais afinidades com o PDT”.
Não está claro, ainda, qual papel Alckmin desempenharia em um arranjo assim. Motivo: há, nos bastidores, forte pressão da bancada de deputados federais do PDT para que Ciro Gomes desista da candidatura à sucessão de Bolsonaro, caso não consiga decolar até março. O ex-ministro enfrenta dificuldades para se mostrar competitivo no pelotão da terceira via, principalmente depois da entrada do ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) no páreo presidencial.
Em conversas reservadas, parlamentares do PDT observam que, ao invés de ter candidato próprio ao Planalto, o partido deveria privilegiar a distribuição de recursos para os concorrentes à Câmara dos Deputados.
“Eu não sei o que o PSB vai querer, mas Ciro não desiste e eu também sou indesistível. Para não ter mais esse tititi, quero deixar claro: não estamos gastando esse dinheiro todo com o João Santana para nada”, afirmou Lupi, numa referência ao marqueteiro estrelado que toca a campanha.
Para enterrar de vez as especulações sobre a retirada do nome de Ciro, principalmente após a operação da Polícia Federal que o alvejou, o comando do PDT decidiu criar um fato político.
Em uma estratégia antecipada, o partido fará o pré-lançamento da candidatura de Ciro, em Brasília, no dia 21 de janeiro de 2022. No ato, o PDT vai apresentar a nova marca da campanha, que pretende transformar o estilo brigão e explosivo do ex-ministro em ativo eleitoral.
O PDT precisa de um palanque forte para Ciro em São Paulo e também está conversando com Guilherme Boulos, do PSOL, partido que sempre se opôs a Alckmin. Pode apoiá-lo na disputa ao Palácio dos Bandeirantes. O ex-governador e Ciro, por sua vez, se dão muito bem e têm uma afinidade regional: os dois são de Pindamonhangaba, cidade do interior paulista. Uma aliança para que Alckmin seja vice nessa chapa, porém, é considerada difícil.
Alckmin também já foi convidado para se filiar ao Solidariedade, ao PSD de Gilberto Kassab, ao União Brasil e ao próprio PDT, mas continua preferindo o PSB. Só que os embaraços para a formação da federação de partidos com o PT – um casamento que precisa durar no mínimo quatro anos – têm atrapalhado o avanço das negociações.
Ao oferecer Alckmin como vice de Lula, o PSB exigiu o apoio do PT a seus candidatos aos governos de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Acre. Os petistas não aceitam esse acordo. Avaliam que, pela primeira vez, o PT tem chances de derrotar o PSDB na corrida ao Bandeirantes, com Fernando Haddad. Irritada com as exigências do grupo de Siqueira, a cúpula petista também decidiu lançar o senador Humberto Costa ao governo de Pernambuco.
“O Brasil não pode ficar submisso a vontades pessoais”, argumentou o ex-governador Márcio França, amigo de Alckmin e pré-candidato do PSB ao Bandeirantes. “Precisamos encaixar as engrenagens partidárias.”
Na prática, a aliança entre o PT e o PSB para montar a dobradinha dos sonhos de Lula tem sido comparada agora a um jogo de estratégia. Trata-se de uma batalha na qual todos querem conquistar territórios e dominar continentes. Nessa guerra nada está descartado nem fechado. Como se vê, 2022 bate à porta e a nova temporada, na política, ainda é de muitas incertezas.
Foto: Reprodução
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