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‘O cartunista tímido’ explica: ‘Ciranha’ é um de muitos outros trabalhos que vão chegar

‘O cartunista tímido’ explica: ‘Ciranha’ é um de muitos outros trabalhos que vão chegar – Eu abri o Twitter e me deparei com a palavra ‘Ciranha’ nos Top Trendings. Ciro Gomes, já há alguns meses, aparece nessa sessão de assuntos relevantes dessa conhecida rede social, mas foi a primeira vez, que eu vi, um cartunista aparecer por lá, momentos após ser citado no ‘Ciro Games’. Eu já conhecia o trabalho de ‘O cartunista tímido’, por outras animações, como as dos ‘três porquinhos’, mas fiquei surpreso, com o engajamento que essa última charge, que mesclava diálogo entre heróis e vilões, tinha gerado.

Convidei ‘O cartunista tímido’

 

Falcão: Acho suas animações muito divertidas e bonitas. Parabéns pelo seu trabalho e obrigado por sua humildade em receber um ‘entrevistador amador’. Acho que muita gente quer saber o que “o cartunista tímido” fazia, antes de ser cartunista.

 

O cartunista tímido: Sou essencialmente um músico. Durante a maior parte de minha vida trabalhei com música. Mas sempre gostei muito de desenhar também. Cheguei a atuar como tatuador durante um tempo. Comecei a me interessar por animação pela possibilidade de produzir videoclipes para meus projetos musicais. A pandemia me afetou profissionalmente, como a quase todos na classe artística. A ideia de fazer O Cartunista Tímido surgiu inicialmente como um projeto para o YouTube, com o intuito de gerar um número de inscritos que possibilitasse monetizar o canal. Eu sabia que era uma meta difícil, mas quis fazer uma tentativa, até porque devido à pandemia não estava podendo fazer quase nada com música.

Antes do Cartunista, eu já havia feito alguns trabalhos com animação, mas nada na linha da charge política, sequer na área do humor. Então isso foi também um desafio interessante, de me testar fazendo algo novo. Decidi adotar essa persona do Cartunista Tímido e me manter no anonimato como uma precaução. Como a maioria dos brasileiros, vivi de forma muito intensa e desgastante as eleições de 2018. Em minhas redes sociais, fiz campanha para Ciro no primeiro turno e para Haddad no segundo. Recebi muita carga de ódio por isso, briguei com parentes e amigos, enfim, vivi a história de tantos brasileiros. E foi o suficiente para não querer vivenciar isso novamente. A julgar pelo que estamos vivendo hoje, ainda a tantos meses das eleições, o cenário que teremos em 2022 será ainda mais hostil que o de 2018. Por isso tudo acho que adotar a identidade do Cartunista Tímido foi uma decisão sábia. Não tenho nada a esconder de ninguém, e no devido tempo todos poderão saber quem é a pessoa que faz os desenhos do Cartunista Tímido.

Voltando ao início do Cartunista, um fato que me deixou bastante feliz foi que logo com o segundo vídeo, “O Repente dos Candidatos”, já consegui um número expressivo de visualizações, principalmente no Facebook, onde o vídeo chegou a ter mais de 800 mil visualizações. Isso me fez acreditar no projeto e seguir em frente. Mas o ponto decisivo foi mesmo o quinto vídeo, “Vamos Debater?”, onde pela primeira vez coloquei o Ciro Gomes como personagem principal. O vídeo foi elogiado no Canal Politizando, do William Jacob, o que acabou chamando a atenção da Turma Boa do Ciro. Esse foi um momento muito feliz, e um verdadeiro divisor de águas. Pois percebi que eu poderia fazer os meus vídeos dialogando diretamente com a militância de Ciro Gomes, falando especificamente para esse público.

Desde que tomei essa decisão, todo o processo criativo ficou mais fácil. As piadas fluem com mais espontaneidade e eu trabalho com muito mais alegria, sabendo que estou contribuindo um pouco para tornar as ideias e os projetos de Ciro mais evidentes. Votei em Ciro em 2018 com muita convicção, depois de estudar as propostas – ou a ausência delas – dos candidatos da esquerda. E vou votar novamente em Ciro agora em 2022, com mais convicção ainda. Por isso mesmo que o meu trabalho com o Cartunista Tímido ficou mais feliz. Desde o início eu tinha bem claro que jamais iria fazer algo que contrariasse minhas convicções, mas eu achava que para ter êxito no campo da charge política eu teria que ficar meio que em cima do muro, fingindo não ter preferências. Foi uma libertação descobrir que posso fazer humor e, ao mesmo tempo, expressar aquilo em que acredito.

 

Falcão: Penso eu, que você construiu seu trabalho, atual, embasado por uma espécie de “escola de experiências” e “árvore de referências”. Poderia falar um pouco delas para nós?

 

O cartunista tímido: Graças a Deus, caminhei bastante até aqui. Pelo momento, prefiro não entrar em detalhes a respeito de trabalhos anteriores. Mas quero comentar que durante essa semana mesmo, ao me lembrar de tantos momentos diferentes que vivenciei profissionalmente, com todas as suas alegrias e angústias, experimentei um sentimento muito bom, de paz e gratidão. Percebi como cada perrengue e cada vitória me ajudaram a chegar exatamente a esse momento, com a visão de mundo e os sentimentos que tenho hoje. Sinto que isso é verdadeiro para todas as pessoas, mas nem todas se permitem acessar isso.

Sobre as referências do Cartunista Tímido, sou grato especialmente ao André Guedes e ao Maurício Ricardo, que me fizeram perceber que é possível ter êxito profissionalmente com um canal de charge política no YouTube.

 

Falcão: E fora do computador, como é a vida de ‘O Cartunista Tímido’?

 

O cartunista tímido: Somos oito em nosso núcleo familiar direto: eu, minha esposa, minha filha e mais quatro gatos e uma cachorra. Temos dois casais de gatos, todos adotados, que a vida foi trazendo para a nossa porta. Já a cachorra foi um presente. Felizmente todos convivem bem, apesar das diferenças!

 

Falcão: Eu tenho sete pets, dos quais quatro cães e três gatos. Foram todos resgatados de situação de abandono, existe muita maldade humana contra os animais, nos dias atuais.

 

O cartunista tímido: Sempre convivi com bichos, desde a infância. Aprendo muito com eles. Acho muito superestimada essa propalada superioridade da razão humana. Nossa maior superioridade parece ser destruir nossa casa-planeta e torná-la inabitável para nós e para seus outros habitantes.

 

Falcão: Eu me identifiquei bastante com isso que você falou. Eu gostaria de ver, cada candidato, apresentar propostas além de ‘economia’. Sinto falta de encontrar um debate sobre esses temas socioambientais, pelo menos até onde os algoritmos de minhas redes sociais jogam no meu feed

 

O cartunista tímido: Enquanto muitos de nós assistem com indiferença outros seres humanos passando fome, pouca esperança resta para que passem a atentar para o cuidado de cães e gatos. Contudo, talvez o que precisamos seja justamente focar em algo nesse sentido: se as pessoas despertarem para o sofrimento dos animais, certamente desenvolverão mais empatia pelo sofrimento de seus semelhantes.

 

Falcão: Parabéns pela compreensão a causa. É um tema que me afeta bastante. Fico feliz de sua responsabilidade social. Sobre sua produção de conteúdo, posso dizer que você tem uma “equipe” ou uma “eu”_quipe? 

 

O cartunista tímido: Faço toda a parte da animação e das gravações sozinho. Desde o segundo vídeo, meu irmão tem ajudado com o roteiro e com algumas ideias. Ele a princípio foi contra o projeto de fazer humor com política, justamente por todo esse clima de ódio que estamos vivendo no Brasil desde 2018. Ele achou que poderíamos adoecer se ficássemos lidando com esse tipo de energia. Mas depois ele se entusiasmou com o projeto e me disse uma coisa muito interessante, que o Cartunista Tímido traz leveza para assuntos tão sombrios. Existe mesmo essa intenção de fazer humor de forma leve, ainda que com críticas pertinentes. Tem uma frase do Drummond que expressa bem isso: “Eu preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças.”.

 

Falcão: Essa frase que você citou, eu não conhecia. De Drummond, eu curto uma frase dele, na qual ensina que “[…] O animal costuma compreender mais e melhor a nossa linguagem do que nós a deles”, ressaltando aquele ponto anterior que você falou sobre o ser humano está pecando no fator ‘Empatia’, e como os animais são mais sensíveis. Aliás, se alguém quisesse sugerir um tema de charge ou animação para você, existe algum canal de comunicação?

 

O cartunista tímido: O contato com os internautas que curtem os vídeos do Cartunista Tímido vem sendo uma das partes mais gratificantes do trabalho. Procuro ler todos os comentários, e sempre fico feliz ao receber sugestões para os próximos vídeos. Isso mostra como as pessoas estão mergulhando nesse universo do Cartunista Tímido de uma forma prazerosa, a ponto de querer fazer parte das histórias de alguma forma. Isso é maravilhoso, é uma das maiores felicidades que o artista pode experimentar. Desde que os vídeos passaram a ser exibidos semanalmente na live Ciro Games, aumentou a responsabilidade de produzir ao menos um vídeo por semana, o que implica em muito trabalho e muita correria. Por isso nem sempre tem como atender às sugestões dos internautas, mas ao menos uma vez isso já aconteceu: o vídeo “Ciro invade o cercadinho de Bolsonaro” foi criado a partir da sugestão de um internauta.

 

Falcão: Como você lida as críticas e elogios ao seu trabalho?

 

O cartunista tímido: Eu gostaria de responder a essa pergunta em dois níveis: no nível pessoal e em outro mais amplo, no que isso possibilita em termos de reflexão sobre a sociedade como um todo. No nível pessoal, principalmente por estar fazendo charge política nesse momento tão extremado da história de nosso país, eu encaro os comentários negativos como algo que faz parte do processo. Se as pessoas estão falando mal, é porque o meu trabalho as está afetando de alguma forma. Um fato que achei curioso é que as críticas podem ser divididas em duas categorias principais: primeiro, temos pessoas reclamando que o trabalho é mal feito, infantil, cringe, sem graça. E no segundo grupo temos pessoas insinuando que os vídeos na verdade são produzidos por alguma agência de publicidade, pois são tão profissionais que não poderiam ser feitos por um mero militante do Ciro. Então O Cartunista Tímido está sendo acusado de ser ruim demais e de ser bom demais pelo mesmo trabalho. Isso por si só já demonstra que, como disse um sábio, “não vemos o mundo como ele é, mas como nós somos”.

Buscando uma perspectiva mais ampla para essa questão, o que percebo nos atuais embates ideológicos é algo que considero muito perturbador. Sempre esteve muito claro para mim que todos os meios de comunicação defendem determinados pontos de vista e interesses. Imparcialidade e objetividade são ficções até mesmo no campo das ciências exatas, que dirá no jornalismo. Contudo tenho a impressão de que até alguns anos atrás existia um certo verniz de civilidade, que impedia os meios de comunicação de ultrapassarem determinado ponto. E esse verniz vem sendo erodido cada vez mais, a ponto de não haver mais a menor vergonha em boa parte dos noticiários de transmitir factóides tendenciosos como se tratasse da mais pura e absoluta verdade. E o que me preocupa mais é que isso parece estar contagiando o comportamento das pessoas comuns, que cada vez menos estão interessadas em averiguar a verdade dos fatos e cada vez mais estão dispostas a defender a todo custo as narrativas de sua bolha.

Penso que esse é um dos efeitos mais nocivos das redes sociais, que possibilitaram a pessoas inescrupulosas como Steve Bannon ganharem tanta relevância no cenário político, ajudando a eleger ideologias de ódio e intolerância como as de Trump e Bolsonaro. Vou citar apenas um exemplo, que considero muito ilustrativo. Em 2018 havia motivos de sobra para criticar as gestões do PT, mas o bolsonarismo escolheu como temas principais de sua campanha de ódio o Kit Gay e a Mamadeira de Piroca. São duas ideias estapafúrdias, inacreditáveis, mas que fizeram um sucesso tremendo e ajudaram a ganhar muitos votos para Bolsonaro. O mais triste sobre as Fake News é que elas funcionam. E a sensação que tenho é que no cenário atual todos estão mais ou menos dispostos a abrir mão daquilo que consideram verdade, desde que consigam uma narrativa eficaz que possa vencer o adversário. Essa é uma perspectiva que considero simplesmente aterradora, que me evoca a célebre frase de Nietzsche: “Não combata os monstros temendo tornar-se um deles.” Essa é fundamentalmente a mesma sabedoria expressada por Tolstói ao interpretar as palavras de Jesus: “Não resistais ao mal com o mal.” Se tivermos que nos transformar em bolsonaristas para vencer Bolsonaro, isso significa que o ódio terá vencido. Eu me recuso a acreditar que esse seja o único caminho possível.

 

Falcão: Eu estou muito feliz com seu acervo de frases de grandes pensadores. Parabéns pela leitura. Acho que são pensamentos muito importante para autorreflexão. Compartilha-las nessa entrevista, já é um ato de resistência e otimismo. Alias, falando em ‘mudanças sociais’ necessárias, quando foi que ‘O Cartunista Tímido’ começou a se interessar por política?

 

O cartunista tímido: Acredito que todas as nossas ações possuem uma dimensão política. Nesse sentido, é impossível não ter um posicionamento político, pois o não se posicionar já é em si um posicionamento. Dito isso, confesso que até 2018 eu não me interessava muito por política. O que me tirou dessa inércia foi o horror de constatar que a possibilidade de Bolsonaro se tornar presidente do Brasil estava se tornando mais real a cada dia. Foi nesse momento que decidi estudar as propostas dos candidatos que se opunham ao bolsonarismo, e considerei Ciro Gomes como o mais preparado para fazer frente aos problemas de nosso país. Desde então continuei acompanhando Ciro, sempre com uma admiração crescente, e hoje acho muito curioso perceber como isso acabou me ajudando muito na concepção dos vídeos do Cartunista Tímido.

Quanto ao panorama atual, existe um discurso muito intenso de que é preciso derrotar Bolsonaro a qualquer custo, e que Lula é o único que pode fazer isso. Concordo que o Brasil dificilmente resistiria a mais quatro anos sob o desgoverno de Bolsonaro e que é preciso derrotá-lo. Contudo não basta derrotar o bolsonarismo nas urnas em 2022: é preciso curar os corações e mentes que foram infectados por essa ideologia sombria. E aí é que está a grande falha desse discurso de Lula como salvador da pátria, em minha opinião: as pessoas estão desprezando o impacto emocional do antipetismo. A força motriz do bolsonarismo é o ódio ao PT. Bolsonaro se tornou a grande aposta da direita nas eleições de 2018 depois de dedicar seu voto no impeachment de Dilma ao torturador Ulstra, depois de desejar a morte de Dilma por câncer ou enfarte. Até hoje eu fico horrorizado ao pensar nisso, mas foram justamente essas manifestações explícitas de ódio que elegeram Bolsonaro. Pois muito bem: caso Lula vença as eleições de 2022, além de não fazer nenhuma reforma social importante, como o próprio Lula já adiantou, teremos mais quatro anos imersos nesse clima de ódio, o que torna muito real o perigo do retorno de Bolsonaro (ou de alguém parecido) mais à frente. Precisamos sair desse ciclo de ódio. Sinto muito forte no discurso de alguns amigos petistas um sentimento de vingança, como se dissessem: “agora é a nossa vez de fazer os bolsominions passarem raiva”. Esse sentimento é perfeitamente compreensível, é humano. Mas precisamos amadurecer como seres humanos se quisermos construir uma coletividade mais feliz. O ódio nunca será uma boa resposta ao ódio. Não se combate trevas com trevas.

 

Falcão: Acho que você tem uma convicção posicional muito sólida. Quando poderemos conhecer “o cartunista tímido”?

 

O cartunista tímido: Certamente chegará o dia em que as pessoas poderão saber quem eu sou e conhecer meus outros trabalhos. Pode ter certeza de que ninguém deseja isso mais do que eu. Mas não existe mistério algum nessa decisão de resguardar minha identidade, ao menos pelo momento. Foi uma decisão que tomei para me preservar dessa energia de ódio que está impregnando a nossa atmosfera política atualmente. Certamente os fatos vêm demonstrando a sabedoria dessa decisão. Contudo eu fui percebendo um efeito colateral muito bacana de ter adotado a identidade do Cartunista Tímido: acho que isso gera uma simpatia mais natural nas pessoas, talvez por fugir daquela coisa egóica, de culto à personalidade. Essa questão do culto à personalidade, aliás, está no cerne do debate político atualmente, pois o país está fraturado pela crença cega em dois messias antagônicos: o Jair ou o Inácio. Eu não acredito em salvadores da pátria. Eu acredito em projeto de governo, em algo bem definido, cujo cumprimento pode ser acompanhado e cobrado pelo povo.

 

Falcão: Depois de ler seus argumentos, sobre ‘cobrança popular’ em planos de governo, eu até concordo com você. É que, às vezes, penso que o Brasil pode não estar mais participativo politicamente porque teme agressão digital, cancelamentos, dislikes, e optam por não se expor. 

 

O cartunista tímido: Essa é realmente uma decisão muito difícil no Brasil de hoje, no mundo de hoje. Por um lado, eu não acredito em neutralidade. Se você está diante de uma injustiça e não se manifesta, então você é cúmplice dessa injustiça. Por outro lado, expressar a sua opinião está trazendo um custo emocional muito alto, que pode até mesmo fazer as pessoas adoecerem (para não falar de casos mais extremos de violência física). Não me atrevo a querer dizer qual seria o caminho certo para os outros, pois cada um sabe de si. Eu, por mim, tento a cada dia descobrir qual é o caminho que meu coração está apontando como sendo o certo, e então procuro segui-lo.

Sua pergunta me fez pensar um pouco sobre esse segundo vídeo do Ciranha, que gerou tanta repercussão nas redes sociais. Fiquei intrigado, tentando entender porque esse vídeo provocou tanto incômodo, principalmente nos petistas. Acho que uma chave importante para investigar essa questão é a própria figura do Homem-Aranha, que se destaca no universo dos super-heróis. Quando Stan Lee e Steve Ditko criaram o Homem-Aranha, ninguém esperava que fizesse sucesso, pois afinal era um herói com poderes de aranha, que é um bicho que geralmente causa aversão nas pessoas. Mas acabou sendo o sucesso que é até hoje, certamente um dos super-heróis mais carismáticos de todos os tempos. Isso explica em parte a indignação dos petistas com o Ciranha, pois é um símbolo que desafia o protagonismo exclusivo de Lula, que expõe as fragilidades desse protagonismo.

Daí passamos para essa rivalidade arquetípica entre o Batman e o Coringa, que utilizei em meu vídeo para representar o conflito entre Lula e Bolsonaro. Tanto os lulistas quanto os bolsonaristas enxergam esse conflito como natural, inevitável e desejável. É algo como uma final de campeonato de futebol ou uma luta de UFC: cada um quer ver o seu time ou campeão ganhando e humilhando o adversário. E nesse desejo de vencer o outro, nessa divisão entre “nós e eles” é que os dois acabam se tornando muito parecidos. É um fato recorrente nos quadrinhos a afirmação do Coringa de que ele foi criado pelo Batman. Se não houvesse Batman, não haveria Coringa.

E então aparece o Ciranha, vindo de outro universo dos quadrinhos, que denuncia e expõe o ridículo e a inutilidade dessa luta interminável entre o Batman e o Coringa. Em minha opinião, esse foi um dos motivos para o vídeo ter causado tanto incômodo entre os petistas. Existe uma teoria psicológica bem conhecida, que é a da projeção, que foi melhor definida por Jung: quando não conseguimos aceitar algo em nossa personalidade, temos a tendência de reagir com hostilidade ao detectar essa mesma característica em outra pessoa. Acho que pode ser interessante aplicar essa teoria da projeção às críticas e hostilidades que o vídeo do Ciranha recebeu. Por exemplo, uma crítica bem recorrente foi a de que o vídeo é infantil. Eu vejo nisso uma não aceitação da infantilidade fundamental que é apostar numa briga interminável entre Lula e Bolsonaro para definir os rumos de nosso país.

 

Falcão: Eu já estudei bastante Jung, ele fala também de ‘arquétipos’, e acho que você conseguiu correlacionar bem o ‘arquétipo de herói’ na sua crítica social política. Acho suas animações fluídas, com boas gags, o que me deixa curioso: A gente pode ter acesso antecipado, sobre que artes estão por vir por aí? 

 

O cartunista tímido: Sim, espero trazer muitas e boas novidades para todos que curtem O Cartunista Tímido. Por enquanto vou me empenhar em fazer a crônica semanal das eleições 2022, que não tenho dúvida de que irá trazer ainda muitas surpresas. Sempre que forem surgindo novos personagens e situações de relevância no cenário político, espero estar atento para retratá-los com bom humor e muita música. 

 

Falcão: Obrigado Cartunista Tímido. Continuarei acompanhando você nas redes sociais, recomendo a todos que conheça o Instagram, Twitter, Facebook, Tik Tok e Youtube, ‘O Cartunista Tímido’. Super fácil de achar. Desafio você compartilhar uma última frase importante para refletirmos sobre nossa situação atual. 

 

O cartunista tímido: Compartilho com muita gratidão as palavras de Mahatma Gandhi: “Seja a mudança que quer ver no mundo.” Eu só acredito nesse tipo de transformação, que acontece dentro do coração de cada um. Nenhuma mudança duradoura e verdadeira poderá vir de fora para dentro, na figura mítica de algum salvador da pátria. Cada um de nós precisa assumir a sua parcela de responsabilidade pelo mundo que está aí. Só assim será possível criar aqui e agora o mundo que sonhamos.

Leia também: A fórmula de Ciro Gomes para não “se vender ao centrão”

Por Redação

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