O Alto Comando do Exército tem discutido desde o início da semana uma reação a uma carta sem autor identificado que critica o Judiciário e demonstra apoio aos manifestantes em frente a quarteis pedindo golpe militar, segundo apuração da Folha de S.Paulo.
A maior parte dos militares que assinaram são da reserva, mas há uma mobilização de oficiais da ativa na coleta de assinaturas, e são esses que o alto escalão considera punir até mesmo com a abertura de processos disciplinares. Coronéis revelaram à reportagem que foram abordados para incluir seus nomes no documento.
Segundo os relatos colhidos pela Folha, o conteúdo não representa de forma fiel o que a maioria do generalato pensa. Intitulado “carta dos oficiais da ativado ao Comando do Exército”, o texto que circula em grupos do WhatsApp diz, por exemplo, que as Forças Armadas são “os reais guardiões” da Constituição Federal.
“É natural e justificável que o povo brasileiro esteja se sentindo indefeso, intimidado, de mãos atadas e busque nas FFAA [Forças Armadas], os ‘reais guardiões’ de nossa Constituição, o amparo para suas preocupações e solução para suas angústias”, escreveu o autor anônimo.
A mensagem pede ainda que o alto escalão apoie ações para o “imediato restabelecimento da lei e da ordem, preservando qualquer cidadão brasileiro a liberdade individual de expressar ideias e opiniões”.
Comandantes cobram Bolsonaro
A carta começou a circular depois que, durante reunião realizada na semana passada, os comandantes de Marinha, Exército e Aeronáutica cobraram de Bolsonaro um posicionamento claro desmobilizando as pessoas que insistem em fazer vigília em frente a quartéis.
Diante do QG de Brasília, eleitores inconformados acampam há 29 dias, desde que o presidente perdeu as eleições.
De acordo com apuração CNN, os chefes das três forças são unânimes em considerar tais movimentos “inócuos”, e dois deles teriam dito também que os atos “não têm base legal”. Bolsonaro teria ouvido as críticas sem concordar, nem discordar.
Militares na transição
Ainda na mesma reunião, numa segunda parte da conversa, os comandantes trataram com o presidente a participação das três forças na posse de Lula. Bolsonaro deu liberdade para que todas sigam seus preparativos normalmente para o evento em 1º de janeiro e passem a compor a equipe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que coordenará a atuação dos militares no dia.
Ao Exército, por meio do 1° Regimento de Cavalaria de Guardas – Dragões da Independência -, caberá a condução do cerimonial militar. O presidente eleito será escoltado pela tropa a cavalo e pelos Dragões a pé na chegada ao Congresso Nacional e na subida da rampa do Palácio do Planalto.
À Força Aérea caberá cuidar da segurança do espaço aéreo no dia da posse, enquanto a Marinha fará o preparo das honras a chefes de Estado no Itamaraty.
Leia também: Donos de contas bloqueadas pelo STF doaram R$ 1 milhão para campanha de Bolsonaro
Fontes: Folha de S.Paulo e CNN Brasil