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Gustavo Castañon: “O mito do antipetismo”

Há uma grande fantasia narrativa na esquerda brasileira. Glenn Greenwald acaba de escrever mais um artigo onde também embarca no discurso de que Ciro está investindo no “antipetismo”, e que a lógica eleitoral disso é evidente. Mas isto, simplesmente, é propaganda.

Explico. Não é que o antipetismo na sociedade brasileira seja uma fantasia. Ele é ainda a força dominante na política nacional, embora tenha recuado diante do desastre do pior governo e governante sem concorrente da história do Brasil, o demente, maníaco, retardado e genocida Jair Bolsonaro.

A fantasia aqui é a narrativa na qual o PT investe há anos, de que toda a crítica ao PT é “antipetismo” e “fazer o jogo da direita”. Foi assim que trataram os críticos de esquerda e centro ao longo dos últimos 20 anos, a começar por Brizola.

É o famoso “não é hora de criticar o PT”. Em 89, criticar o PT era eleger Collor. Em 92, era ser contra o Impeachment. Em 94 era eleger FHC. Em 98 era reelege-lo. Em 2002 era eleger Serra. Em 2003, investir contra o “primeiro governo de esquerda” da história, sim, um governo que 40 anos depois de João Goulart tinha uma agenda mais regressiva que a dele. Em 2005 era fazer o jogo do Golpe. Em 2006 era trazer de volta o PSDB. Em 2010 idem. Em 2013 era fazer o jogo da desestabilização. Em 2014 eleger a Marina e o Aécio. Em 2015 era fazer o jogo da Lava Jato. Em 2016 o jogo do impeachment. Em 2018 era fazer o jogo do Moro. Em 2019… já podia? Não, era fazer o jogo do fascismo. Em 2021… é fazer o jogo do genocida.

Para o PT só há uma coisa proibida, uma heresia imperdoável a qualquer progressista brasileiro, a qualquer tempo e lugar: criticar o PT. Se você o fizer, uma horda cairá em cima de você babando, com indicadores levantados e rostos transtornados. Isso funcionou muito bem, não podemos negar. Mas se exauriu.

Grande parte da militância petista hoje, envelhecida, vive num transe psicótico onde o partido que no governo pagou por onze de treze anos no poder os juros reais mais altos do mundo é a esquerda brasileira. É um delírio que eles compartilham com a seita bolsonarista. A prática, que era o critério da verdade política para Lênin, para o petista típico não importa. Esse é um militante estético, aliás, de uma estética muito desagradável e ultrapassada, que se importa mais com a origem da pessoa, as palavras que usa e a cor que veste, e absolutamente nada com o que ela faz no poder.

Para pessoas assim, investir contra um símbolo vivo dessa trajetória, Lula, é sinônimo de investir contra a esquerda. Não há mais diálogo racional com essas pessoas. Temos, simplesmente, que as derrotar. Porque o governo que queremos é muito diferente do governo que eles fizeram. Não é ambição pessoal. Não é ressentimento. É convicção, projeto, coisas que eles têm dificuldade de acreditar que alguém tenha, já que são movidos de forma irracional e personalista.

Isso não é antipetismo. Por definição, antipetismo é a negação absoluta do petismo. É dizer que a pior coisa do Brasil é o PT, que aceitamos qualquer coisa que não o PT, que o PT é a origem de todo mal da política brasileira contemporânea, que os feitores de um dos governos mais servis aos ricos de nossa história são “comunistas”, e que, estes últimos, são o puro mal.

Por mais que pareça absurdo, pelo menos 30% da sociedade brasileira pensa exatamente assim. Mais da metade dos brasileiros acha que Lula deveria estar preso.

Ora, nós nunca fizemos campanha explorando a catastrófica corrupção do governo Lula, fomos contra o impeachment, votamos em Haddad no segundo turno, fizemos uma campanha limpa contra ele, que foi imundo conosco. Nós nunca sequer defendemos a prisão de Lula. Que “antipetismo” é esse? Ora, tenham vergonha na cara!

Essa estratégia de sempre não funcionará como sempre. Nós viemos de longe. Ciro não se intimida, nem o PDT.

A fatura da tragédia do PT para a esquerda e o Brasil será cobrada. Cobrar a política de juros petista não é antipetismo. Cobrar a desindustrialização petista não é antipetismo. Cobrar o país mais desigual do mundo que o petismo nos legou não é antipetismo. Cobrar o colapso econômico petista (alô, PT, a Dilma era presidente do PT!) não é antipetismo. Cobrar o desastre da política econômica dos últimos 25 anos é Política, e Política com P maiúsculo.

Mas se insistirem com a narrativa de que criticar a política petista é antipetismo, se este for o rótulo que nos sobrar, quem sabe finalmente resolvamos parar de arcar só com os ônus dele e colhamos os bônus?

Quem sabe façamos contra Lula uma campanha como Haddad fez contra Ciro, ou como Dilma fez contra Marina? Quem sabe resolvamos cobrar diante de todos a delação de Palocci, o mar de corrupção, real, que se descortinou com a lava jato? Quem sabe não decidamos, finalmente, vestir a fantasia que se nos impõe?

Quem vai ficar sem fantasia, no entanto, eu tenho certeza, é Lula.

Em 2022, Lula vai enfrentar a primeira campanha de ponta, com candidato de ponta, de desconstrução pela esquerda.

A fatura é muito extensa. E não é a fatura do ressentimento pessoal, mas da desgraça do país.

O rei petista ainda não está nu. Mas vai ficar.

Por Gustavo Castañon, trabalhista e professor de filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora

Este texto é opinativo e não reflete, necessariamente, a opinião do site Brasil Independente.

Fonte: Portal Disparada

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Por Redação

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