Velozes e Furiosos 10 – A franquia Velozes e Furiosos conquistou o público mundial com seus personagens carismáticos e cenas emocionantes de perseguições automobilísticas.
Desde acrobacias que desafiam a gravidade até momentos repletos de adrenalina que mantêm os espectadores tensos à beira das poltronas.
Dominic Toretto (Vin Diesel) e seu grupo conseguem cativar os fãs por mais de duas décadas, no entanto, em seu mais novo filme da franquia, Velozes e Furiosos 10, somos agraciados com uma revigorante mudança.
Essa mudança reside na escalação do ator Jason Momoa para o papel de Dante Reyes, retratado como o oponente mais temível que Toretto já encontrou pelo seu caminho.
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Vilões que exalam machismo
Não é difícil perceber que, sob a superfície desses longas movidos à adrenalina, exista uma complexa teia de dinâmica de gênero, particularmente em torno do conceito de masculinidade tóxica.
Velozes e Furiosos costuma servir como um filme de bandeira para os homens, priorizando carros, agressões, domínio em relação às mulheres, enquanto desencorajam a vulnerabilidade e a expressão emocional. Tudo isso é visto em abundância em toda a franquia.
Reyes de Jason Momoa em Velozes e Furiosos 10 é, portanto, uma pausa bem-vinda dos grosseiros antagonistas masculinos que já passaram por ali. Ele quase sempre está vestido com algo colorido, geralmente ostentando seu excêntrico carro roxo, e não tem medo de fazer manicure e pedicure.
No passado, a franquia apresentou personagens hipermasculinos, como Deckard Shaw (Jason Statham) em Velozes e Furiosos 7. Shaw é motivado pela vingança e pela necessidade de estabelecer sua dominação.
Suas ações ao longo do filme como demonstrar falta de consideração pela vida humana exemplificam os elementos da masculinidade tóxica.
Mesmo seu arco de redenção e sua transformação em um líder não foram suficientes para suavizar a presença de sua clássica masculinidade tóxica.
Outro exemplo notável é Owen Shaw (Luke Evans), irmão de Deckard, que atua como antagonista em Velozes e Furiosos 6.
Owen exibe traços associados à masculinidade tóxica, incluindo sua obsessão pelo poder e pelo controle.
Sua necessidade de provar sua superioridade por meio da força física e da dominação estratégica ilustra as consequências prejudiciais que podem surgir ao reforçar tais ideais masculinos.
Momoa quebra estereótipos masculinos na franquia
Desde os primeiros filmes a franquia vem apresentando personagens masculinamente estereotipados, no entanto, a entrada de Jason Momoa no papel de Dante Reyes trouxe uma reinvenção significativa, dando uma pausa dos vilões masoquistas cansados que povoaram a franquia nas últimas duas décadas.
Na história, a sexualidade de Reyes não fica totalmente clara, e é importante explorar a armadilha dessa escolha narrativa.
No filme, a representação de Momoa incorpora um comportamento extravagante e exagerado, lembrando os estereótipos frequentemente associados a personagens vilões LGBTQIA+.
Essa técnica, conhecida como “codificação queer”, é comumente encontrada na mídia e reforça a ideia de que estranheza está ligada à maldade.
Comparando alguns exemplos de codificação queer temos os personagens da Disney, como Jafar, Scar e Ursula, isso ressalta uma questão social mais ampla, na qual a estranheza é frequentemente retratada como algo assustador ou ameaçador.
Podemos citar também o Rei Xerxes de 300, o Silva (Javier Bardem) em 007 Skyfall, e o diabo ‘Ele’ das Meninas Super Poderosas.
Em Velozes e Furiosos 10, Momoa entrega uma interpretação de Reyes com uma energia maníaca e olhar penetrante, que o estabelece como uma espécie de arquétipo do Coringa em relação à Toretto.
Seus looks extravagantes, combinados com sua risada selvagem e apreciação pelo caos, o tornam um contraponto perfeito para a gangue.
Sua energia contagiante é essencial para manter o filme no lugar, e Momoa demonstra uma química cativante com cada membro do amplo elenco com quem contracena no filme.
Não é possível argumentar com certeza que Reyes é explicitamente retratado como um personagem gay, já que sua única interação romântica no filme é com a personagem de Danielle Melchior.
Portanto, é possível que Reyes não seja gay, ou que esteja em algum ponto do espectro de sexualidade, ou talvez seja uma questão que não nos cabe julgar.
Seria interessante permitir que o personagem permaneça ambíguo em relação às suas preferências amorosas, especialmente considerando que uma parte significativa do filme é dedicada à sua vida heteronormativa.
O personagem pode simplesmente estar em sintonia com sua feminilidade, como indicado pelo uso de esmalte e estilo de cabelo.
Enfim, sua sexualidade é irrelevante para o desenvolvimento da trama, no entanto, o que seu personagem traz é uma distinta mudança em relação aos outros personagens que já vimos.
Mais importante ainda, Reyes é apontado como o vilão final da série, dando a ele o maior e pior papel em termos de vilões da franquia.
Então, por que não permitir que esse personagem desafie as convenções estabelecidas no universo Velozes e Furiosos e no gênero de filmes de ação em geral?
(Por Ana Luisa Vieira)
(Foto: Reprodução)