Endividamento recorde de brasileiros – O número de famílias brasileiras endividadas e inadimplentes bateu recorde em 2022, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
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Com os juros mais altos dos últimos anos e os mais pobres tomando empréstimos para cobrir despesas do dia a dia, o recorde pode ser superado este ano, caso nada reverta a situação, prevê a CNC.
Por que os brasileiros estão endividados
De acordo com a última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), em 2022, a proporção de famílias brasileiras endividadas atingiu o nível mais alto desde 2010, com 78 a cada 100 famílias endividadas.
Entre 2020 e 2022, a taxa de famílias endividadas aumentou em 11,4 pontos percentuais, passando de 66,5% para 77,9%.
Esse aumento ocorreu durante um período em que a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) subiu de 2% para 13,75%, o que tem sido objeto de controvérsias entre o governo e o Banco Central.
Segundo Izis Ferreira, economista da CNC, três fatores contribuíram para esse recorde:
- A alta da inflação, que prejudicou o poder de compra das famílias até a metade do ano;
- A oferta crescente de novos produtos e serviços de cartão de crédito por bancos e fintechs;
- E, para os mais ricos, a demanda reprimida por serviços como viagens e compra de passagens aéreas, geralmente pagos no cartão.
No ano passado, o número de famílias brasileiras com contas atrasadas foi de 28,9%, que também é um índice recorde da série histórica da Peic.
“O desafio para o consumidor hoje é pagar tudo isso num cenário de juros altos, porque os juros elevados aumentam o valor da dívida. Eles dificultam a renegociação e o pagamento de dívidas atrasadas. E esse contexto deve permanecer no ano de 2023”, afirma a economista.
As taxas de juros de mercado para pessoas físicas atingiram uma média de 52,1% ao ano em 2022, de acordo com dados do Banco Central. Segundo analisa Izis, elas devem continuar elevadas devido ao aumento da inadimplência, do risco de não pagamento e da previsão de desaceleração da atividade econômica e do emprego para este ano.
Perfil da dívida
A pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) revelou que o endividamento no Brasil afeta principalmente mulheres com menos de 35 anos, que moram nas regiões Sul ou Sudeste e possuem ensino médio incompleto.
Em 2022, 79,5% das mulheres se endividaram, enquanto o percentual foi de 76,7% para os homens. Além disso, entre as famílias lideradas por pessoas com ensino médio incompleto, 31,2% estavam em dívida, em comparação com 25,8% das famílias com pessoas que possuem segundo grau completo.
“As mulheres trabalham mais na informalidade e em tempo parcial, e muitas são chefes de famílias, então elas têm uma condição de vulnerabilidade no mercado de trabalho maior do que os homens”, explica.
A economista conta que, para as mulheres, as principais formas de endividamento são o cartão de crédito e o carnê de loja.
A análise das dívidas no cartão revela que o crédito tem sido usado como extensão do orçamento das famílias: 65% das dívidas do cartão de crédito são referentes a compras em supermercados, e 41% a medicamentos ou tratamentos médicos, de acordo com o Perfil e Comportamento do Endividamento Brasileiro 2022 da Serasa.
Em 2022, a taxa média de juros cobrados pelos bancos no rotativo do cartão atingiu 409,3% ao ano, um aumento de 61,9 pontos percentuais em relação a 2021, quando a taxa de juros foi de 395,4%. Assim, o cartão de crédito é uma das modalidades de crédito mais caras do mercado, juntamente com o cheque especial.
Ainda de acordo com a Serasa, o Brasil registrou 69,4 milhões de pessoas inadimplentes em dezembro de 2022. O valor médio das dívidas por pessoa foi de R$ 4,5 mil, totalizando um montante de R$ 312 bilhões de dívidas em atraso.
Consequências emocionais das dívidas
A Serasa apurou também o efeito que o endividamento causa sobre as famílias, para além do aspecto financeiro. A pesquisa revela consequências na saúde mental e nos relacionamentos pessoais. Confira os detalhes:
- 83% dos endividados têm dificuldade para dormir por conta das dívidas;
- 78% têm surtos de pensamentos negativos devido aos débitos vencidos;
- 74% afirmam ter dificuldade de concentração para realizar tarefas diárias;
- 62% sentem impactos no relacionamento conjugal;
- 61% vivem sensação de “crise e ansiedade” ao pensar na dívida;
- 53% revelam sentir “muita tristeza” e “medo do futuro”;
- 51% têm vergonha da condição de endividado;
- 33% não se sentem mais confiantes em cuidar de suas próprias finanças;
- 31% sentem impacto das dívidas no relacionamento com familiares.
(Com informações de BBC)
(Foto: Reprodução)