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Madeleine Lacsko: “Erros do PT revigoram Bolsonaro na reta final”

Erros do PT revigoram Bolsonaro – Cheguei a pensar que o inferno astral em que a língua de Jair Bolsonaro o meteu duraria até depois do segundo turno. Mordi a língua.

As declarações sobre as adolescentes venezuelanas são indefensáveis, não importa quantos vídeos com Michelle consternada venham por aí.

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O caso é que estamos diante de uma eleição fundada na rejeição, não na conquista de votos. Quem tinha de ser convencido já foi. Agora, sobram dois tipos de indecisos. O primeiro é o que não decidiu entre os dois candidatos e cogita nulo. O outro é o que não decidiu se vale a pena sair para votar.

Não há melhor estímulo para esse tipo de público do que o medo do inimigo comum. A campanha que melhor conseguir pintar o outro como ameaça ganha os corações indecisos e, quem sabe, a eleição.

Jair Bolsonaro havia se metido numa espiral descendente. Pegou mal até com o público bolsonarista, preocupou a campanha. Mas o PT deu um jeito de revigorar a candidatura dele.

Foram feitos, ao mesmo tempo, dois movimentos que podem custar a eleição de Lula. Eles validam narrativas antigas das redes de Jair Bolsonaro, provocam medo no eleitorado e e ainda geram repulsa à militância petista.

Não tem bênção maior para a campanha de Jair Bolsonaro do que a ideia do PT de entrar no TSE pedindo um caminhão de derrubadas de conteúdos nas redes e, ao mesmo tempo, publicar a inócua “Carta aos Evangélicos”.

O evento em si teve Lula se dizendo contra banheiro unissex, contra aborto, enfim, aderindo publicamente a toda pauta de costumes dos evangélicos. Verdade seja dita, ele e Alckmin realmente têm o pensamento muito próximo a isso.

Só que o problema dos evangélicos não é com os dois. Todo mundo sabe como pensam e agem Lula e Alckmin. A dúvida é o que farão com toda a militância progressista, que está com eles, persiste nessas pautas e tira sarro de evangélico e de conservador.

Não houve uma resposta clara. Para alguns, até houve. Na foto do encontro, Lula aparece com o pastor Henrique Vieira, eleito deputado pelo PSOL. O religioso diz abertamente ser favorável à legalização do aborto. Não vai ter carta suficiente com tanta dissonância.

Pior que isso é a avalanche de ateu e progressista que resolveram dar aula de Bíblia para crente nas redes sociais. A mais ridícula é uma difundida inclusive pela campanha oficial, mostrando por que as atitudes de Bolsonaro não são cristãs.

Na moral evangélica não existe a noção católica de santidade. A espinha dorsal da campanha é a firmeza espiritual de Michelle. Enquanto essa imagem permanece intacta, Bolsonaro tem espaço para errar à vontade. Ela é, nessa lógica religiosa, a Rainha Ester, que evita a destruição do povo de Deus e corrige erros do marido governante.

Ao mesmo tempo, o PT entra no TSE pedindo a derrubada de uma série de conteúdos e a proibição preventiva de outros. Alguns são fake news, outros nem são. Muitos dos pedidos foram concedidos.

Não vou entrar no mérito da moral ou da eficácia de enxugar gelo para combater desinformação. Fico apenas no efeito sobre o eleitorado e as campanhas.

O olavismo insiste há quase 20 anos que há uma “ditadura da toga” no Brasil e prega contra o STF. O bolsonarismo faz há anos uma campanha implacável contra o ministro Alexandre de Moraes ao mesmo tempo em que diz que Lula vai implementar a censura no país e atentar contra liberdades individuais.

Nesse clima, qualquer retirada de conteúdo serve de suporte para confirmar a narrativa nos grupos que já queriam acreditar nela. Pode ser verdadeira ou falsa. Pouco importa porque não falamos de convencimento e sim de rejeição. A narrativa de que o PT vai começar a censurar antes mesmo de chegar ao poder já tomou os grupos bolsonaristas de WhatsApp.

Na reta final, Lula escolheu um tabuleiro onde é quase impossível ganhar do bolsonarismo, religião com fake news. Poderia ter escolhido o tabuleiro em que sabe jogar, o da realidade da economia e governo, que escancara as mazelas de Bolsonaro e aumenta a rejeição dele.

Pelo visto, é uma escolha muito difícil.

Por Madeleine Lacsko, jornalista e colunista do UOL

Este texto é opinativo e não reflete, necessariamente, a opinião do site Brasil Independente.

(Texto originalmente publicado pelo UOL)
(Foto: Montagem/Reprodução)

 

Por Redação

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