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Opinião: “Javier Milei e Taylor Swift – o realismo mágico na América Latina”

Realismo mágico na América Latina – Javier Milei é o novo presidente da Argentina. Cabeludo, fã de suruba, massagista tântrico, esquizofrênico, rockeiro de banda cover e com uma relação no mínimo incômoda com a própria irmã. Pior que isso, ultraliberal assumido.

O cabeludo saiu derrotado do primeiro turno e resolveu fazer política. Chamou a forte UCR e adjacências da direita moderada para dialogar, moderou o discurso externo, sentou pra conversar com o mundo político e juntou-se ao habilidoso ex-presidente Macri para afastar o pânico interno. Enquanto isso, Massa contou com o apoio do indigesto bloco pseudo-esquedista da América Latina, com participação direta do presidente Lula. O Mick Jagger tão idolatrado por Milei emprestou sua sorte ao presidente brasileiro. Massa foi derrotado de forma arrebatadora.

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O campo de esquerda achou que depois de emprestar seu nome para projetos fracassados, ainda teria alguma influência no povo argentino. O peronismo de Kichner efetivamente não ofereceu uma saída para a Argentina, por moderação neoliberal em partes e por incompetência técnica por outras. O resultado é o descrédito na política e a vitória do radicalismo caricado. Um tango no precipício.

A turnê da cantora Taylor Swift no Brasil é o maior exemplo do nosso bananismo-cultural recente. Com números estratosféricos, a artista representa um declínio estético da indústria fonográfica. Antes, esperava-se que um popstar se destacasse como cantor, dançarino, intérprete ou musicista. Taylor não é nada disso. Ela é apenas personificação de uma adolescência envelhecida.

No Brasil de hoje foi tratada quase como chefe de Estado. O Cristo Redentor foi vilipendiado com mensagens de boas vindas, jornalistas foram cancelados por discordarem da idolatria cega e por fim, o caos à brasileira temperou a aventura da gringa em nosso solo com uma tragédia. Taylor postou uma nota genérica e vaga como condolência. Fosse em outros tempos, os popstars pelo menos dariam uma ligação aos familiares, ou uma ida ao funeral. A turnê continuou sob os sádicos aplausos do esquecimento.

A sabedoria do grande Barão de Itararé é suprema: “de onde menos se espera, é de lá que não sai nada”.

Os shows de popstars vendem ao espectador uma experiência única: assistir ao seu artista pelo telão, em distâncias quilométricas – iguais às filas – e um som que quando não é playback, é quase isso. A música é apenas um detalhe no espetáculo pirofágico que na ânsia de agradar a todos, pasteurizar qualquer resquício de arte. É igual ao dilema do pato: anda mal, voa mal e nada mal – mas faz os três.

Nada de errado, o velho Adorno já havia nos precavido da medíocre “indústria cultural”. Mas também não precisavam esculachar.

A moderação esquerdista da América Latina, que havia eleito Bolsonaro, agora elege Milei. O povo, cansado de arrocho travestido de bom mocismo, resolve votar no absurdo. Bolsonaro vestiu-se de tiozão do churrasco, a figura em comum do Brasil. Grosseiro, fora do tom, destemperado e meio burro.

Milei personifica outro estereótipo – evidentemente, em seu caso, argentino. É rockeiro, cabeludo, destemido e irresponsável. Sua jaqueta de couro ecoou na mente Argentina tão influenciada pela estética sessentista e beatnik. Cada um ao seu modo, Milei e Bolsonaro representam signos triviais aos cidadãos de seus países. Mas são diferentes. Enquanto o brasileiro é acomodado, o argentino é disruptivo e radical, eleito como tal. É de fato um ultraliberal convicto, diferente do liberalismo preguiçoso de Bolsonaro.

Ao som de Rock Argentino, em seu primeiro discurso, o presidente eleito reafirmou o Livre Mercado com o religião absoluta. Também fez gestos aos seus adversários e foi presidencial. Sabe bem que sem o apoio do congresso – que lhe é hostil – seu governo será um desastre. Mandou o recado da moderação e manteve seu personagem de rockstar ao bradar palavrões numa histeria inofensiva. A mesma histeria que lotou os estádios Brasil afora.

O realismo mágico é o estilo literário que mescla a realidade com a fantasia. Na América Latina de Garcia Marquez e Julio Cortazár, os sonhos são materiais – os pesadelos também. E a noite parece cada vez mais longa.

Por Renato Zaccaro, jornalista e músico

*Texto publicado originalmente no Portal Disparada

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Este texto é opinativo e não reflete, necessariamente, a opinião do site Brasil Independente

Por Redação

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