“O Exorcista” – Enquanto alguns possam louvar o terror presente em obras clássicas, como “O Bebê de Rosemary”, de Roman Polanski, ou “Inverno de Sangue em Veneza”, de Nicolas Roeg, e outros prefiram filmes posteriores como “Halloween”, de John Carpenter, ou a implacável intensidade do suspense em “Alien”, de Ridley Scott, e até mesmo os sucessos mais recentes do universo de terror criado por James Wan, como “Invocação do Mal”, a verdade inegável permanece:
Nenhum outro filme de terror conquistou a mesma influência avassaladora e o medo visceral como “O Exorcista”.
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Poucos filmes de terror são capazes de deixar uma impressão tão indeletável em nossas memórias, transcendo não somente o gênero, mas também deixando sua marca na cultura pop como um todo. Em 1973, um filme de possessão demoníaca, marco na extensa carreira do diretor William Friedkin, conseguiu atingir esse patamar de impacto duradouro.
“O Exorcista” é daqueles filmes que, a menos que alguém tenha se mantido isolado do mundo numa caverna, trazem à mente uma série de cenas icônicas como a projeção de vômito, rotação de cabeça em 360 graus, levitação e até mesmo a polêmica cena de masturbação com um crucifixo. E se viram o corte estendido do diretor dos anos 2000 com cenas reintegradas, provavelmente adicionarão a caminhada reversa da aranha na escada.
Essa ampla familiaridade que atravessa gerações, sem dúvida, deriva da autêntica assinatura de um filme que transcende o aspecto cultural: tornar-se alvo não apenas de homenagens e imitações, mas também de inúmeras paródias.
Horror religioso
Assisti “O Exorcista” pela primeira vez ainda criança, na faixa dos 9 anos. A classificação indicativa de ‘proibido para menores de 14 anos’ não me assustou mais do que as capturas das cenas no verso da fita. Me lembro de me esconder debaixo de um cobertor no sofá e finalmente experimentar as duas horas mais assustadoras da minha vida até aquele momento. Para uma criança de educação católica, poucas coisas são mais aterrorizantes do que se deparar com o horror religioso dentro da própria casa.
Revendo o filme várias vezes nas décadas seguintes consigo perceber que sua intensidade gélida nunca perdeu força, a imagem quase subliminar do rosto demoníaco que surge em momentos cruciais perturba o sono de qualquer um. A habilidade do diretor William Friedkin de criar uma atmosfera que combine som e visual é admirável para qualquer amante da Sétima Arte. Ele consegue orquestrar práticas pré-digitais, como mãos escondidas que sacodem a cama, ar-condicionado tão gelado que podemos perceber a respiração dos atores em cena, fios que fazem a adolescente possuída de Linda Blair, Regan, flutuar…
Muitos dos filmes de terror que fizeram sucesso nos anos 80 e 90 eram sobre adolescentes em apuros, frequentemente sendo castigados por terem relações íntimas. O legal em “O Exorcista” é que é um filme sobrenatural para adultos, e não é o único nesse estilo, mas fez mais do que qualquer outro filme da época para fazer o gênero de terror ser respeitado, tornando até os filmes menos conhecidos respeitáveis no processo.
O que é surpreendente é que o filme foi indicado a 10 Oscars, inclusive na categoria de melhor filme, algo que nunca tinha acontecido antes com um filme de terror. Isso aconteceu não apenas porque o filme foi muito bem nas bilheteiras, com longas filas se formando nas cidades, mas também devido à determinação de Friedkin e do autor e roteirista William Peter Blatty em abordar o conteúdo não como algo sensacionalista, mas como um drama sério sobre o mal no mundo moderno.
Isso também se aplica aos atores. Além de Blair e Miller, temos Ellen Burstyn interpretando Chris MacNeil, a mãe perturbada e atriz de cinema de Regan; Max von Sydow como Padre Merrin, a autoridade da Igreja em exorcismos; e Lee J. Cobb, no papel do investigador oficial, tenente Kinderman. Eles asseguraram que, independentemente da intensidade das cenas angustiantes no quarto do terror, a integridade dramática nunca fosse comprometida.
Diretor morre aos 87 anos
O renomado cineasta William Friedkin nos deixou nesta segunda-feira (07), aos 87 anos, em Los Angeles, devido a complicações cardíacas causadas por uma pneumonia. A triste notícia foi confirmada por sua esposa, a produtora Sherry Lansing.
Friedkin brilhou como uma das figuras mais influentes do cinema americano nos anos 70, fazendo parte de uma geração de cineastas que desafiaram as convenções da indústria com obras originais e frequentemente ousadas. Ele co-fundou, ao lado de Francis Ford Coppola e Peter Bogdanovich, a The Directors Company, uma associação que buscava proporcionar total liberdade criativa aos diretores, mas que, infelizmente, logo se desfez.
No currículo de Friedkin consta uma conquista no Oscar, tendo recebido o prêmio de Melhor Diretor por “Operação França” (1971). Esse filme, estrelado por Gene Hackman e Roy Scheider, acompanha a investigação de uma dupla de policiais sobre um grupo de traficantes de drogas, e arrebatou cinco estatuetas do Oscar, incluindo a de Melhor Filme.
(Por Ana Luisa Vieira)
(Fotos: Reprodução)