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Opinião: “Sem crítica não há política”

“Ele que provocou”, “não deveria estar ali” ou “não deveria estar se portando daquele jeito”. Conhecemos bem os discursos de ódio. Se discordar e vaiar são atos legítimos no campo político, agredir e justificar não são. Não é a toa que muitos confundem ódio e disputa política hoje em dia. A mesma ordem de argumentos que encontramos na violência de gênero, no racismo ou preconceito contra as pessoas lgbtqi+, vemos no debate público dentro do campo progressista. Mas por que?

Na verdade, o que o discurso de ódio esconde é a tentativa de consolidar uma pecha. Talvez na única candidatura contra hegemônica de verdade no Brasil atual. Desde grandes jornais, como Folha/UOL, Band/Reinaldo, até as mídias petistas mais chulas como 247, DCM, Jornalistas Livres, Fórum, etc, focam o ataque no temperamento de Ciro Gomes. Mas estamos prevenidos, pois já vimos esse filme com Lula antes da eleição de 2002.

Ora, não é possível fazer política, sem fazer contrapontos, sem debater os fatos ocorridos ou discutir as propostas dos adversários. A defesa encontrada por aqueles demonstram ódio pela pessoa que foi ministro do governo Lula e defendeu Dilma contra o golpe de 2016 se baseia, em linhas gerais, em uma mágoa que teria sido acumulada por conta de injúrias injustas de Ciro contra o ex-presidente. Mas será que as ditas injúrias são mesmo a expressão de uma raiva íntima ou da personalidade de Ciro Gomes? Achamos que não.

Primeiro, é preciso deixar claro que, para aqueles que fazem política de forma consequente, toda ação deve vir de uma análise das causas e consequências, a famosa: análise de conjuntura. Sem ela, não é possível fazer o debate no campo político e ficamos, como estamos, discutindo as personas.

A análise de fundo, do Brasil atual, é que existe uma mesma forma de relação entre o Poder Legislativo e Executivo. No âmago dessa relação, todos os atores sabem da podridão um do outro e, quando convém, vem à tona algum escândalo de corrupção como consequência de disputas internas desse sistema.

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Desde a reeleição de FHC, uma forma de compor com o legislativo que passa por lotear para governar. Entrega-se empresas públicas e cargos de gestão, e não pela concordância ou discordância de rumos de uma projeto de desenvolvimento brasileiro, e sim pelo apoio a todo e qualquer forma de governo.

Na política econômica, há uma mesma política econômica que deixa o Brasil no seu papel de nova/eterna colônia do mundo desde a década de 90. O que os dados mostram é que nos últimos 30 anos temos uma política desindustrializante, que privilegia mais o ganho pela compra de títulos públicos altamente rentáveis, por haver com juros altíssimos, do que pelo investimento em produção. Desincentivo ao empreendedorismo produtivo.

Se realmente você não colocar o Brasil nesse cenário, com certeza não conseguirá entender o pano de fundo das críticas de Ciro. Tando FHC, como Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro rezam a mesma reza econômica e trocam a mesma moeda política. Paulo Guedes, ministro da economia de Bolsonaro, foi convidado por Dilma para ser seu ministro. Ciro Nogueira, que fez campanha em 2018 com o slogan “não deixar o sonho de Lula acabar” é, hoje, o Ministro Chefe da Casa Civil de Bolsonaro.

Dito isso, vamos às críticas mais comuns.

Ciro critica duramente Lula por falar da história da picanha que, agora, não tem mais no fim de semana do trabalhador. Não pelo fato da picanha em sí, mas porque Ciro esfrega na cara de Lula que esse modelo econômico coloca o país em uma precária situação de dependência externa e volatilidade constante: um dia líquido, outro dia gasoso.

Ciro propõe mudar as bases desse destino nacional. Retirando o atual tripé macro econômico atual (metas de inflação, câmbio flutuante e superavit primário) e inserindo o que, diga-se de passagem, os liberais modernos de todo mundo já fazem: uma política de controle de inflação e busca de pleno emprego.

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Em outro aspecto, tentam colocar Ciro como político “metido a sabichão” incapaz de ouvir os outros. É uma percepção, que, até agora, ninguém embasa em um fundamento concreto. “Naquele dia”, “naquela fala”, “naquela política que ele aplicou não houve debate”. Por não existir um exemplo concreto, o que se faz, é a tentar jogar verde para colher maduro. Tentativa de fazer os outros olhá-lo através da lente que foi empurrada goela abaixo da sociedade. E assim, muitos se fecham ao debate antes dele começar.

Outra crítica comum, é que Ciro ataca sem propósito o ex-presidente Lula. Um exemplo é o tal Lula “corruptor”. Muito petistas conscientes sabem que o governo petista não segurou as influências rentistas e que, principalmente no segundo mandato de Lula, acordos com os setores mais retrógrados da política nacional, e da forma mais fisiologista, foi a tônica. Lula também sabe disso. Quem não lembra dos “aloprados do PT”? Mas, como dizer isso ao público? “Corruptor” foi o termo encontrado por Ciro. Não é agressão gratuita, é critica política.

O contraponto lulopetista é enviesar a discussão. Lulistas dizem que Lula é honesto e não corrupto. E começam a discorrer sobre a Lava Jato: uma grande farsa com viés político para atacar o candidato da “esquerda”, que Lula é inocente, que era tudo mentira, etc. Tudo mentira? Não se encontra lama em uma loja de cristal, mas se encontra lama, num chiqueiro de porcos. Se não houvesse uma abundante corrupção, não haveria nem como enviesar provas para chegar no ex-presidente.

Nos parece mais um espectro da despolitização do debate. Não é uma agressão gratuita, e sim uma crítica legítima: normalizou-se uma relação espúria do Poder Executivo com o Congresso, empoderou-se a parte mais corrupta do legislativo, gerou-se o famoso “com Supremo, com tudo”.

Por fim, outro elemento comum da crítica é a Eleição/Paris/Poste. Ciro “foi pra Paris”? Foi mas disse “ele não” antes de embarcar e antes de votar. Uma dezena de vezes. Mas você lembra qual o contexto dessa eleição para a “esquerda”? Foi uma eleição normal? Absolutamente não!

Um candidato condenado em segunda instância, sabendo dessa condição se inscreveu como candidato para divulgar seu nome, esperando a negação de sua candidatura para ligar, automaticamente, o seu nome com o de seu vice. Se alguém enxerga isso como exemplo de boa-fé eleitoral ou de forma de liderar que promove outras lideranças, com certeza não sabe o que é ser líder.

A mais pura fisiologia personalista foi a estratégia de campanha. O vice, Haddad, não teve nem tempo de criar-se. “Haddad é Lula” era a slogan. O vice fazia questão de ir ao encontro do candidato anulado toda a semana para dar ao eleitor e sensação de estar votando no próprio Lula. Lamentável.

Foi uma grande farsa, fake igual a facada. Não foi uma tática eleitoral, nem uma forma criativa de fazer política. Faltou, mais uma vez, um mínimo de ética.

Mas a crítica de fundo é: é assim que queremos fazer política no Brasil? Lideranças personalistas que não criam projetos coletivos, nem fazem florescer novos pensamentos? Quando Ciro aponta esses fatos, logo dizem que ele está atacando Lula e interdita-se o debate. Perguntei para uma petista quem foi o candidato em 2018? Naturalmente, respondeu: Haddad! Usam a despolitização a seu favor e atacam o garoto que diz “o rei está nú” como se agressor fosse.

Ciro propõe mudar a governança política entre Legislativo e Executivo pelo implemento de um projeto nacional que até os políticos mais pragmáticos, que visam apenas as reeleições, possam agregar, desde que trabalhem para o e discutam, republicanamente, o que será do Brasil.

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As mídias já escolheram a nova forma de ataque para tentar colocar cabresto no projeto de desenvolvimento: personalidade explosiva e imprevisível de Ciro. Tipica lógica dos neoliberais brasileiros que buscam estabilidade como pano de fundo para conseguir compromissos com atual política rentista. A mensagem é clara, mas é o mensageiro que está poluído? Despoluir, é para essa gente, como foi com Lula em 2002? O que querem é gerar compromisso de manter o Brasil atual do jeitinho que ele está sendo, em troca de uma trégua nas mídias que controlam.

Fico me perguntando se a narrativa mudaria se Ciro, em vez de usar o termo popular “poste”, usasse “Lula usou o Haddad” ou até “o ex-presidente tem dificuldades de formar ou valorizar as lideranças ao seu entorno e sequer o ex-prefeito de São Paulo foi respeitado”. A forma da crítica mudaria o contra-ataque de que Ciro é temperamental? Obviamente não.

Por isso, antes de repetir o mantra da despolitização personalista, pense pela sua cabeça! Se você realmente acha que a questão está na pessoa do candidato e não nas suas propostas, saiba que Lula também tinha uma cara carrancuda na mídia até 2001! E ela não mudou por conta da ida ao barbeiro ou de banho de loja, mas pela Carta aos Brasileiros Banqueiros que ele assinou.

Assumir um compromisso político foi o que mudou a cara de Lula nas TV e revistas. Isso porque, a questão dos rumos do país nunca é uma questão pessoal, é sempre política.

Leandro PC Freire é sociólogo, advogado e presidente do PDT-SP/Zonal Butantã.

Este texto é opinativo e não reflete, necessariamente, a opinião do site Brasil Independente.

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Por Redação

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