Por meio de dois colegas que foram visitá-lo ontem na carceragem da Polícia Federal no Rio de Janeiro, o deputado Daniel Silveira mandou um recado para o presidente da Câmara, Arthur Lira: só “aceita” no máximo dois meses de suspensão do seu mandato.
Silveira soube pelos visitantes que o comando da Câmara dos Deputados havia considerado gravíssimo o episódio em que ele se meteu ao divulgar um vídeo com ameaças e impropérios a membros do Supremo Tribunal Federal, corte em que estão penduradas várias excelências, a começar pelo próprio Lira, duas vezes réu no tribunal.
O deputado preso ouviu dos colegas que, mediante essa avaliação, líderes parlamentares se viam na obrigação de dar uma satisfação aos magistrados, e que essa satisfação implicaria a sua punição pelo Conselho de Ética da Casa. Foi a partir daí que Silveira deu seu “ultimato”: dois meses de suspensão e nada mais.
Não ocorreu ao deputado que o comando da Câmara não está nem um pouco preocupado com o seu destino e que ele nada tem a oferecer a seus pares numa eventual tentativa de acordo. Uma liderança parlamentar, informada sobre o “prazo” exigido por Silveira, afirmou: “Ah, é? Então vamos dar a ele a cassação. Não negociaremos com marginal”.
Daniel Silveira chegou ao Congresso tracionado pela onda Bolsonaro, que em 2018 transformou o ex-nanico PSL na segunda maior bancada da Câmara.
Dos 54 deputados eleitos pelo então partido do presidente, 45 eram marinheiros de primeira viagem. Desses, 15 eram policiais ou ex-policiais, caso de Silveira, um ex-soldado problema da Polícia Militar, com 60 transgressões disciplinares no currículo. Um exemplo delas, segundo relato de um amigo: “Quando, em determinada época, o salário na PM começou a atrasar, o Daniel simplesmente faltava no serviço: ‘enquanto o Estado não me pagar, não trabalho’, ele dizia”.
No STF, Daniel Silveira teve a prisão (mesmo com duvidosa fundamentação de flagrância) confirmada ontem por unanimidade.
Na Câmara, o que o seu comando mais quer é livrar-se do abacaxi que o deputado criou, não importando se para isso for necessário defenestrá-lo junto.
Daniel Silveira é doido de pedra e uma ameaça real às instituições. Assim como a extremista Sara Winter, espreitam-no o ostracismo e o abandono por seus pares. E bobo dele se achar que o clã Bolsonaro virá em seu socorro.
Texto de Thaís Oyama.
Fonte: UOL