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Professora esfaqueada em SP denuncia abandono do governo: “Jogadas às traças”

Professora esfaqueada em SP – Reportagem do site G1 revelou que a Escola Estadual Thomazia Montoro, na Zona Oeste de São Paulo, que foi alvo de um ataque em março e ficou sem psicólogos disponíveis para o atendimento de professores e alunos cinco meses após a ocorrência, mesmo após promessa do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Na ocasião, uma professora foi morta e outras quatro pessoas ficaram feridas. Segundo dados do governo paulista, 550 psicólogos atendem as cerca de 5 mil escolas da rede estadual de educação de São Paulo.

Nesta segunda-feira (23), um adolescente atirou contra colegas, matando uma aluna e deixando outros três estudantes feridos. O governador afirmou que houve 15 atendimentos psicológicos na escola no último mês, que tem cerca de 1,8 mil alunos.

O atirador desta segunda já tinha registrado um boletim de ocorrência por violência e apanhou em junho, mas não passou por nenhum atendimento psicológico. Segundo a família, sofria bullying e homofobia constantemente.

Estudantes e pais de alunos da escola dizem o aluno chegou a afirmar que iria promover um ataque, na semana passada. Já o advogado da família do jovem afirmou que ele era atendido em um Caps (Centro de Atenção Psicossocial) em razão de problemas psicológicos que desenvolveu.

Sem psicólogos

Secretário estadual da Educação, Renato Feder reconheceu que houve um “episódio” com o aluno autor do ataque desta segunda (23) em junho deste ano e que os pais foram chamados à escola. No entanto, não havia profissionais de psicologia na unidade escolar.

“O estresse que foi divulgado foi no mês de junho. Os psicólogos chegaram em agosto e não identificaram isso”, justificou.

O número de psicólogos disponíveis para atendimento presencial na rede estadual de educação em São Paulo deveria ser o dobro do atual, avalia a psicóloga Valéria Campinas Braunstein, que é conselheira do Conselho Regional de Psicologia de SP e doutora em educação e saúde na infância e adolescência pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Atualmente, a rede conta com 550 psicólogos. O governo paulista disse que cada profissional de saúde mental deveria atender oito escolas, em média, mas segundo Valéria, a carga horária de 30 horas semanais por psicólogo não será suficiente para atender a demanda da comunidade escolar.

“Um psicólogo para esta rede deste tamanho, neste momento, acho que não dá. Depois que as coisas se equilibram, você pode diminuir um pouco”, afirmou ao G1.

“Teriam que ser dois psicólogos de 6 horas para cada escola, minimamente. Com toda essa demanda, quem vai ter um problema de afastamento de saúde mental será o psicólogo. Ou ele entra para somar ou ele entra para dividir toda a tristeza que acontece dentro da escola”, prosseguiu.

Escola atacada em março foi “abandonada”

A equipe de reportagem do G1 esteve na Escola Estadual Thomazia Montoro e foi informada por professores e alunos que uma psicóloga esteve no colégio, mas não chegou a ser apresentada à comunidade escolar.

O atendimento psicológico presencial na Thomazia Montoro não deveria ter sido suspenso em junho, pouco menos de três meses após o ataque, critica Valéria Braunstein.

“Deveria ter tido uma continuidade. Três meses me parece pouco. Você trabalha com a população e, dali, aumenta-se uma demanda. Essa demanda foi parar onde? Precisava imediatamente ter inserido psicólogo lá”.

A psicóloga citou como exemplo a professora Rita de Cássia, uma das vítimas do ataque. Ela tentou voltar a lecionar, mas não conseguiu e, desde abril, está afastada da função.

“De fato, uma pessoa que precisava ter sido cuidada — e não uma vez por semana, talvez. O profissional precisava ter avaliado e talvez ela precisasse, primeiramente, ter um auxílio diário, três vezes por semana, duas vezes por semana, até que o psicólogo conseguisse trabalhar com ela neste caso, porque realmente é uma pessoa que me pareceu muito mobilizada, traumatizada”, apontou.

“Órfão do estado”

Rita de Cássia tem de 67 anos, é professora de História e foi esfaqueada no ataque de março. A educadora levou 30 pontos no braço e não conseguiu retornar à sala de aula desde então.

“A gente se sente órfão do estado. Acho que é esta a palavra. Órfão. Você não tem quem buscar, quem procurar”, lamentou.

A docente relatou que teve crises de pânico nas duas vezes que tentou voltar à escola. Na primeira vez, não conseguiu ficar de costas para a turma.

“Tinha a impressão de que um aluno viria correndo e me atacaria pelas costas”.

Na segunda tentativa, Rita conta que recebeu um papel com o desenho de uma pessoa segurando uma faca: “Já foi um outro gatilho. Nesse dia, felizmente tinha uma psicóloga da USP. Eu falava: ‘Não me larga, não deixa chegar perto de mim'”.

“A maioria das pessoas da escola não tem atendimento psicológico. O Conviva, que era uma parte importante, mesmo que online, também não existe [na Thomazia]”, afirma a professora Ana Célia da Rosa, de 58 anos, uma das vítimas do ataque e a última a ter alta.

Para Ana Célia, a comunidade escolar foi abandonada pela Secretaria da Educação.

“Deram apoio só nos primeiros dias. Estamos jogadas às traças.”

Leia a nota da Secretaria de Educação de São Paulo:

“A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) lamenta profundamente e se solidariza com as vítimas do ataque ocorrido na manhã dessa segunda-feira (23) na Escola Estadual Sapopemba. A Pasta trabalha para aprimorar o atendimento psicológico a toda comunidade escolar, bem como a segurança nas unidades educacionais.

Atualmente, 550 psicólogos realizam atendimentos periódicos nas unidades escolares da rede e a gestão trabalha para ampliar esse contingente. Apenas na unidade em Sapopemba, foram 15 atendimentos psicológicos em um mês. Os profissionais atuam diretamente com os professores orientadores de convivência (POCs) atrelados ao Programa de Melhoria da Convivência Escolar (Conviva). Em 2024, a Secretaria da Educação vai triplicar o número desses professores. A seleção está em curso.

Paralelamente, a Pasta também promoveu a contratação de vigilantes para a atuação nas unidades escolares da capital, litoral e interior do estado. Desses, 700 já iniciarão as atividades até o fim dessa semana e os demais ao término do processo licitatório. Na região administrativa do ABC, por exemplo, o trabalho começou hoje (23). Desde abril, a Polícia Militar disponibilizou o Botão do Pânico no aplicativo da corporação para a utilização pelas escolas estaduais. O botão permite contato direto com o Centro de Operações Policiais Militares (Copom), da Polícia Militar. Esses chamados passam a ser prioritários para a PM. No mesmo período, 165 ataques a escolas foram evitados pelas forças de segurança de São Paulo”.

(Com informações de G1)
(Foto: Marcelo S. Camargo/Governo do Estado de SP/Reprodução / TV Globo)

Por Thiago Manga

Thiago Manga é carioca, jornalista, assessor, já atuou em campanhas eleitorais. Atualmente é Diretor de Redação do Brasil Independente.

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