Protesto contra venda da Avibras – Os trabalhadores da maior empresa de defesa do país, a Avibras, fizeram um protesto contra a venda da empresa para grupos estrangeiros nesta terça-feira (11), durante a maior feira de Defesa e Segurança da América Latina, a LAAD Defence & Security, no Rio de Janeiro.
Os funcionários também protestam por conta dos atrasos no pagamento dos salários por parte da empresa, que está em processo de recuperação judicial após acumular dívidas nos últimos anos.
“Os trabalhadores estão em luta há mais de um ano, e estão em greve pois estão há mais de seis meses sem receber”, disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Weller Gonçalves, em vídeo publicado nas redes sociais.
O líder sindical reiterou a luta dos trabalhadores contra a venda da Avibras, que anunciou a venda do seu controle acionário para grupos estrangeiros.
O sindicalista ainda cobrou o Ministério da Defesa e o governo Lula para que estatize a Avibras, conhecida mundialmente pelos produtos e sistemas que desenvolve nas áreas aeronáutica, espacial, eletrônica, veicular e de defesa.
“Isso fere a soberania nacional. Não podemos aceitar que a principal empresa do setor de defesa do país seja vendida para o capital estrangeiro”, acrescentou.
Especialista militar condena venda
Em entrevista ao portal Sputnik Brasil em março, o especialista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, comandante Robinson Farinazzo, opina que a venda de uma empresa estratégica para o setor de defesa a grupos estrangeiros não atende aos interesses do Brasil.
“Pior negócio do mundo. Principalmente se a venda for feita para a Europa, composta de países que reiteradamente questionam a nossa soberania sobre a Amazônia. Vamos vender a espingarda que defende o galinheiro para o lobo”, disse Farinazzo à Sputnik Brasil.
A Avibras desenvolve projetos cruciais para o setor de defesa brasileiro, como os mísseis antinavio de superfície Mansup.
Segundo o jornal Estado de São Paulo, o Exército brasileiro já investiu mais de R$ 100 milhões no projeto que – se for concluído – será o primeiro deste tipo a contar com tecnologias e componentes 100% nacionais.
“O sistema Astros não deixa a desejar em relação a nenhum similar no planeta. É primeira linha em qualquer lugar do mundo, o que é reconhecido internacionalmente”, disse Farinazzo.
Para Farinazzo, a perda da Avibras seria “um tiro no pé”, visto que o Brasil perderia “capital humano com grande experiência, uma marca e a capacidade de fabricar produtos de defesa importantes”.
“O Brasil é um país cobiçado. Se não tivermos um arcabouço de defesa, não conseguiremos impor nossos objetivos de segurança nacional, e viveremos para sempre na pobreza, explorados e a reboque das grandes potências”, argumenta.
A ausência de uma política de Estado para investimento em Defesa está associada à ideia ultrapassada de setores da sociedade brasileira, que consideram o país “alinhado aos EUA e parte do bloco ocidental”.
Farinazzo defende que a estatização não deve ser “demonizada antes de ser estudada”, mas lembra que essa situação poderia ter sido evitada, caso o Brasil tivesse uma “política de investimento perene no setor de defesa”.
“As pessoas precisam mudar a mentalidade do neoliberalismo de que a indústria de defesa precise dar lucro. Mesmo que opere no vermelho, o governo precisa garantir a manutenção dela.”
“A indústria de defesa precisa do investimento do Estado, isso é uma característica do setor”, aponta Farinazzo.
Gigantes de olho
Gigantes como a alemã Rheinmetall e a emiradense Edge Group estão de olho na empresa brasileira, que fabrica sistemas de lançamento de foguetes Astros e o míssil tático de cruzeiro AV-TM 300.
O sistema de foguetes Astros passa por um bom momento em vendas internacionais e já foi testado e operado por cerca de nove países, informou o jornal Hora do Povo.
Cerca de 80% das receitas da Avibras provêm de exportações, cifra que estava em tendência de alta.
Um dos interessados na Avibras, o conglomerado alemão Rheinmetall possui fábricas em 33 países e lucra alto com o conflito ucraniano.
O grupo produz tanques Leopard que serão enviados por Berlim a Kiev e planeja abrir sua própria fábrica na Ucrânia, cliente que lhe garantiu aumento de 150% no preço de suas ações desde fevereiro do ano passado.
Já a Edge Group, dos Emirados Árabes Unidos, conta com intermediários influentes no cenário político brasileiro, sobretudo a família Bolsonaro.
Em maio de 2022, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve reunido com o Edge Group.
Na reunião, estava ao lado do então secretário de assuntos estratégicos da Presidência, Flávio Rocha, e do então secretário de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa, Marcos Degaut.
Governo acende alerta
A Avibras está entre os principais fornecedores de armamentos para as Forças Armadas brasileiras, em particular para os Fuzileiros Navais.
No entanto, as compras são insuficientes, o que levou a empresa a investir nas exportações.
Apesar da qualidade e importância dos produtos fabricados pela Avibras, a empresa enfrenta dificuldades há tempos e em 2022, pediu recuperação judicial pela segunda vez, após acumular dívida de R$ 500 milhões e demitir 400 funcionários.
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, e o economista Luciano Coutinho se reuniram na última semana com João Carvalho Leite, presidente da Avibras.
Os representantes do governo querem que a empresa seja mantida sob controle de capital nacional diante das investidas de grupos estrangeiros.
Coutinho foi destacado, há um mês, para fazer um estudo de políticas de incentivo ao setor de defesa. Caberá ao BNDES estruturar as medidas.
Segundo afirma o portal Relatório Reservado, a Avibras confirmou que “o governo brasileiro acompanha de perto a evolução” das negociações de venda da empresa.
(Com informações de Sputnik Brasil, Estadão e Radio Peão)
(Foto: Montagem/Reprodução)