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Aliança entre PT e PSB – Guilherme Amado/Metrópoles – A negociação para criar uma federação entre o PT e o PSB para a eleição deste ano rachou o PSB em dois grupos e mergulhou o partido numa crise de brigas e dedo na cara entre alguns dos principais atores que fazem oposição ao bolsonarismo.
O movimento favorável à federação no PSB é liderado pelos governadores Paulo Câmara, de Pernambuco, e Flávio Dino, do Maranhão, e por deputados federais, entre eles um que é pré-candidato a governador, Marcelo Freixo, do Rio de Janeiro.
Integrantes do partido receosos de que o PSB vire um satélite do PT dizem que os três estariam mais preocupados com seus projetos pessoais, vinculados ao sucesso de Lula nas urnas neste ano.
Câmara, que não se candidatará a nenhum cargo neste ano, trabalha para ser ministro de Lula e considera a federação importante para eleger o petista e seu candidato a governador, Danilo Cabral.
Dino também almeja um ministério de Lula e precisa da aliança com o PT no Maranhão para eleger seu sucessor, Carlos Brandão. Já Freixo necessita do apoio de Lula e do PT no Rio de Janeiro para seguir como um dos favoritos a ir para o provável segundo turno no estado.
Os críticos da federação, a exemplo do governador Renato Casagrande, do Espírito Santo, ponderam que o PT, por ser o partido mais forte e possivelmente a sigla que elegerá o próximo presidente da República, terá mais força para indicar quem será o candidato da federação em cada um dos municípios, nas eleições de 2024.
Esse novo tipo de aliança, aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral e chancelado em decisão recente do Supremo, prevê que a aliança vigore por quatro anos. Portanto, incluindo as próximas eleições municipais.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, não se manifesta publicamente sobre o tema. O dirigente, hábil equilibrista entre os diferentes polos de poder do partido, tem evitado tomar lado publicamente.
As divergências fizeram Siqueira se envolver em uma briga séria com Fernando Haddad, o pré-candidato do PT ao governo de São Paulo. Haddad telefonou ao presidente do PSB após ler uma entrevista em que o petista era colocado como o obstáculo para o acordo entre os dois partidos, e pediu que Siqueira buscasse não “fulanizar” a discussão, afinal, argumentou Haddad no telefonema, a candidatura de Haddad era uma decisão também do PT.
Em dado momento da ligação, a conversa deixou de ser cordial e Siqueira, enraivecido, bateu o telefone na cara do petista.
A assessoria de Haddad foi procurada para tratar do assunto, mas, na sexta-feira (18/2), disse que o pré-candidato não iria comentar (leia atualização ao fim desta reportagem). Carlos Siqueira negou qualquer entrevero.
O grupo do ex-prefeito, inclusive, tem procurado pessoas do PSB pedindo declarações públicas para convencer o ex-governador Márcio França a retirar a candidatura ao governo paulista.
O ex-deputado Beto Albuquerque, pré-candidato ao governo gaúcho, foi uma das pessoas que receberam a ligação.
Os interlocutores de Haddad disseram a Albuquerque que iriam aproximá-lo do PT no Rio Grande do Sul, para tentar fazer a sigla apoiá-lo na disputa, mas pediram, não de maneira explícita, que ele se posicionasse na imprensa contra o projeto de França.
Ele recusou a oferta.
Marcelo Freixo foi um dos políticos do PSB que, em entrevista ao jornalista Johanns Eller, da coluna de Malu Gaspar, deu razão ao pedido de Haddad para França desistir da disputa. Siqueira ficou tão irado com o episódio que, em conversas privadas, chamou o pré-candidato ao governo do Rio de “um infiltrado do PT”.
O momento de Freixo no PSB já era ruim antes disso. Siqueira não havia gostado de Freixo reunir-se com Geraldo Alckmin em dezembro, antes do próprio presidente do PSB ter a primeira conversa com o ex-governador, no começo da negociação para Alckmin filiar-se ao PSB e ser vice de Lula.
Dias depois, Freixo fez uma postagem nas redes sociais mostrando apoio a Haddad, o que provocou novo incômodo na direção pessebista.
O Rio de Janeiro se inclui no caos provocado pela federação porque há dirigentes do PT fluminense que vêm pontuando ser arriscado para Lula ter somente o palanque de Freixo para fazer campanha no terceiro maior colégio eleitoral do estado.
Segundo esses dirigentes, liderados pelo ex-prefeito de Maricá e ex-presidente estadual do partido, Washington Quaquá, faria mais sentido para Lula estar no mesmo palanque de Eduardo Paes, que não é candidato ao governo, mas apoia o ex-presidente da OAB Felipe Santa Cruz. Paes poderia oferecer a Lula um eleitorado de classe média e popular que sempre resistiu a votar em Freixo.
Numa conversa recente sobre o cenário fluminense, Lula afirmou que não abandonaria Freixo, mas deixou claro que precisava ampliar o arco de alianças. “Não estou indo para o Rio para construir pirâmide, então não me façam carregar pedra. Preciso conseguir entrar na Baixada Fluminense e na Zona Oeste”, disse o ex-presidente.
À coluna, o presidente do PSB reafirmou o apoio a Freixo e negou haver qualquer incômodo com o deputado.
“Depois daquela declaração do Freixo, eu me posicionei quatro ou cinco dias depois porque recebi muita cobrança interna por não ter tratado do assunto. Nunca fiquei irritado com ele e acho o Freixo um quadro importantíssimo para o PSB. Minha relação com ele é ótima, nunca tivemos problemas”, disse.
Sobre a federação, Siqueira a definiu como um assunto “complexo”. “A última reunião com o PT foi muito boa, mas está inconclusa. Após a sua conclusão, eu vou convocar o diretório e colocar o tema em discussão”, prometeu.
Procurado e informado sobre o conteúdo da reportagem, Marcelo Freixo não retornou às ligações da coluna.
(Atualização, às 14h50 de 20 de fevereiro de 2022. A primeira versão deste texto dizia que Haddad havia dito que Siqueira perdera as condições para liderar pelo PSB as negociações da federação. Procurado na sexta-feira, Fernando Haddad retornou neste domingo, após a publicação da reportagem, e negou que tenha dito isso ao presidente do PSB. Disse ter somente pedido que Siqueira não “fulanizasse” a negociação. O texto foi alterado para efeito de clareza da informação.)