Share This Article
Bolsonaro encontrou Campos Neto em segredo – Um e-mail obtido pela coluna de Guilherme Amado no site Metrópoles revela que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve um encontro secreto com Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (BC), duas horas antes de o Comitê de Política Monetária (Copom) decidir aumentar a taxa básica de juros (Selic), em maio de 2022.
Banco Central cogita extinguir rotativo do cartão de crédito; saiba
Na ocasião, com o aumento de um ponto da Selic, o BC agiu para tentar controlar a inflação, justamente o índice que afetava a popularidade de Bolsonaro às vésperas da campanha eleitoral em que buscou a reeleição.
O encontro entre Bolsonaro e Campos Neto não foi citado nas agendas públicas da presidência e do BC, mas consta de uma “agenda confidencial” do então presidente que era enviada a um grupo seleto de assessores do Palácio do Planalto.
O Banco Central confirmou ao Metrópoles que houve o encontro.
A reunião ocorreu entre na manhã do dia 4 de maio do ano passado, no gabinete presidencial. A informação aparece em um e-mail com título “Agenda Confidencial do PR: 04/5/2022”, ao qual está anexado o documento “04_5_2022 Confidencial”.
A mensagem foi enviada para Mauro Cid, então ajudante de ordens da Presidência, na noite do dia anterior ao encontro. O e-mail partiu da assessora Gianne Amorim P. Portugal, que trabalhava no gabinete adjunto de Agenda da Presidência.
Encontro ilegal
A reunião do Copom começou menos de duas horas depois do encontro entre o Bolsonaro e Campos Neto, durou o dia todo e terminou no início da noite, quando o presidente do BC e os outros integrantes do comitê encerraram o encontro e divulgaram a ata.
O resultado foi que por unanimidade, o colegiado decidiu elevar a taxa Selic em um ponto percentual: de 11,75% a 12,75%, chegando ao maior patamar em cinco anos.
O problema nisso tudo é que um encontro entre Campos Neto e Bolsonaro no dia da reunião do Copom era simplesmente ilegal – daí o caráter secreto dado ao encontro.
Integrantes do Copom devem respeitar um período de silêncio que se estende da quarta-feira da semana anterior àquela em que ocorre a reunião ordinária do comitê até o momento da publicação da ata do encontro. Durante esse período, os dirigentes não podem emitir declarações relacionadas ao Copom em discursos, entrevistas à imprensa.
Além disso, são proibidos de encontrar com pessoas que possam ter interesse nas decisões do comitê, o que naquele momento, era justamente o caso de Bolsonaro, já que o então presidente tinha como um dos principais pontos de tensão de sua campanha pela reeleição a pressão da inflação.
Na ata da reunião, aliás, os diretores do BC afirmaram que a decisão levou em conta a inflação, que, segundo eles, seguia “surpreendendo negativamente”.
“Falha operacional”
O Banco Central afirmou que “nenhum tema relativo ao Copom foi tratado durante o referido encontro”. A coluna de Guilherme Amado questionou quais foram os assuntos tratados entre Bolsonaro e Campos Neto, mas não houve resposta.
“As regras do período de silêncio do Copom não vedam reuniões com agentes públicos”, se esquivou o BC, que atribuiu a ausência da reunião na agenda pública de Campos Neto a uma “falha operacional”.
O BC também não explicou a razão de a reunião coincidentemente não constar da agenda pública de Bolsonaro.
O e-mail com o documento que cita a reunião secreta estava entre as milhares de mensagens que Cid esqueceu de deletar da conta que usou durante o período em que trabalhou na Presidência. As mensagens de Cid e de outros auxiliares de Bolsonaro foram enviadas à CPMI do 8 de Janeiro.
(Com informações de Metrópoles)
(Foto: Marcos Corrêa/PR)