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A comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados aproveitou um requerimento em nome do ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e convocou o novo titular da pasta, general Walter Braga Netto, para explicar a compra de picanha e cerveja para as Forças Armadas.
A expectativa é que o novo ministro trate também da crise envolvendo as Forças Armadas, após a demissão de Azevedo e a saída conjunta dos comandantes do Exército, da Aeronáutica e da Marinha.
O requerimento, aprovado por unanimidade, é de autoria do deputado Elias Vaz (PSB-GO) e foi subscrito pelo deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS). Inicialmente, era destinado a Azevedo, mas o nome do ex-ministro foi suprimido para que pudesse ser aplicado a Braga Netto. Por ser convocação, ele é obrigado a comparecer.
Segundo Vaz, a ideia é que o ministro esclareça os processos de compra para as Forças Armadas aprovados pelo governo federal. Há indícios de superfaturamento.
“Já é grave o gasto de dinheiro público com esse tipo de produto e, pra piorar, ainda com indícios de irregularidades, inclusive de superfaturamento.”
A informação foi publicada pelo site Congresso em Foco, tomando como base uma representação protocolada por deputados do PSB junto à PGR (Procuradoria-Geral da República).
O documento inclui gastos com valores até 60% acima dos preços de produtos comprados pelas Forças Armadas.
Vaz vê a convocação como uma oportunidade de tratar também da crise nas Forças Armadas. “A situação atual das Forças Armadas é nitidamente grave. Há uma suspeita de que Bolsonaro esteja tentando provocar uma cooptação das Forças Armadas para uma estratégia de ruptura com a democracia”, afirmou Vaz.
O deputado Leo de Britto (PT-AC) ressaltou a crise nas Forças Armadas “por conta de uma interferência claramente política do senhor presidente da República Jair Bolsonaro no Ministério da Defesa, que resultou, provavelmente, numa das maiores crise políticas e militares que já ocorreram na história do país”.
Demissão conjunta de comandantes das Forças Armadas
Na terça-feira (30), o novo ministro enfrentou a sua primeira crise na pasta, com a decisão dos três comandantes das Forças Armadas de pedirem renúncia conjunta.
Em uma reunião tensa com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, Braga Netto ouviu, segundo relatos da Folha, que nenhum deles participaria de uma aventura golpista.
Contrariado pelo movimento, que circulou na noite anterior, o novo ministro da Defesa anunciou que eles estariam demitidos por ordem do presidente Jair Bolsonaro.
A demissão de Azevedo ocorreu em um momento em que Bolsonaro vinha cobrando da Defesa manifestações políticas favoráveis a interesses do governo.
Falta de apoio
O presidente também buscava apoio nas Forças Armadas à ideia de decretar estado de defesa para impedir a adoção de medidas de restrição por governos estaduais e municipais por causa da pandemia da Covid-19.
Braga Netto também foi convidado a participar de uma audiência pública na comissão de relações exteriores da Câmara.
“Com a troca do ministério fiz questão de apresentar outro requerimento de convite ao ministro Braga Netto para que ele possa estar conosco e, de forma ampla, serena, mas absolutamente profunda, debater questões afeitos à pasta da Defesa”, disse o presidente da comissão, deputado Aécio Neves (PSDB-MG).
A comissão de Fiscalização Financeira e Controle também aprovou um convite ao ministro Paulo Guedes (Economia) para esclarecer distorções “bilionárias” em dados de Previdência apontadas por técnicos do TCU (Tribunal de Contas da União).
Fonte: Folha de S. Paulo