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Avibras – Nesta terça-feira (11), centrais sindicais saíram em defesa da maior empresa de defesa do país, a Avibras, e emitiram nota conjunta no qual se posicionam contra a venda da empresa para grupos estrangeiros.
Nesta terça, trabalhadores da Avibras protestaram contra a venda da empresa durante a maior feira de Defesa e Segurança da América Latina, a LAAD Defence & Security, no Rio de Janeiro.
A nota é assinada pela Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), Central Sindical CSP-Conlutas, Intersindical Central da Classe Trabalhadora, Intersindical – Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora e Pública Central do Servidor.
“A venda da principal fabricante de material bélico pesado do país representa grave ameaça à soberania nacional, com perigosa transferência de elevada tecnologia para capital privado internacional”, disse trecho da nota.
As centrais pedem para que o governo federal aja e evite a venda da empresa, assim como proteja os trabalhadores da Avibras, que estão em greve após meses de atraso salarial.
A Avibras é reconhecida internacionalmente pelos produtos e sistemas que desenvolve nas áreas aeronáutica, espacial, eletrônica, veicular e de defesa.
Grupos internacionais tentam ‘abocanhar’ a empresa, assim como sua tecnologia de ponta. Entre os principais interessados, estão empresas da Alemanha (Rheinmetall) e Emirados Árabes (Edge Group).
“O Brasil deve investir em alta tecnologia, e não abrir mão dela. A capacidade de produção de armamentos e equipamentos do setor, como mísseis, lançadores de foguetes, veículos blindados, bombas inteligentes, sistemas de comunicação por satélite e Veículos Aéreos Não Tripulados devem ter o controle brasileiro”, argumentam as centrais.
Especialista militar segue mesma linha
O especialista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, comandante Robinson Farinazzo, também se posicionou contra a venda da Avibras em entrevista ao portal Sputnik Brasil (leia mais aqui).
“Pior negócio do mundo. Principalmente se a venda for feita para a Europa, composta de países que reiteradamente questionam a nossa soberania sobre a Amazônia. Vamos vender a espingarda que defende o galinheiro para o lobo”, disse o consultor militar.
A Avibras desenvolve projetos cruciais para o setor de defesa brasileiro, como os mísseis antinavio de superfície Mansup.
Segundo o jornal Estado de São Paulo, o Exército brasileiro já investiu mais de R$ 100 milhões no projeto que – se for concluído – será o primeiro deste tipo a contar com tecnologias e componentes 100% nacionais.
Para Farinazzo, a perda da Avibras seria “um tiro no pé”, visto que o Brasil perderia “capital humano com grande experiência, uma marca e a capacidade de fabricar produtos de defesa importantes”.
“O Brasil é um país cobiçado. Se não tivermos um arcabouço de defesa, não conseguiremos impor nossos objetivos de segurança nacional, e viveremos para sempre na pobreza, explorados e a reboque das grandes potências”, argumenta.
Governo em alerta
A Avibras está entre os principais fornecedores de armamentos para as Forças Armadas brasileiras, em particular para os Fuzileiros Navais.
No entanto, as compras são insuficientes, o que levou a empresa a investir nas exportações.
Apesar da qualidade e importância dos produtos fabricados pela Avibras, a empresa enfrenta dificuldades há tempos e em 2022, pediu recuperação judicial pela segunda vez, após acumular dívida de R$ 500 milhões e demitir 400 funcionários.
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, e o economista Luciano Coutinho se reuniram na última semana com João Carvalho Leite, presidente da Avibras.
Os representantes do governo querem que a empresa seja mantida sob controle de capital nacional diante das investidas de grupos estrangeiros.
Coutinho foi destacado, há um mês, para fazer um estudo de políticas de incentivo ao setor de defesa. Caberá ao BNDES estruturar as medidas.
Segundo afirma o portal Relatório Reservado, a Avibras confirmou que “o governo brasileiro acompanha de perto a evolução” das negociações de venda da empresa.
Confira a nota das centrais sindicais, na íntegra, abaixo:
“É preciso impedir a venda da Avibras, indústria bélica reconhecida mundialmente, ao capital estrangeiro
A Avibras, indústria bélica reconhecida mundialmente pelos produtos e sistemas que desenvolve nas áreas aeronáutica, espacial, eletrônica, veicular e de defesa está sendo negociada com empresas da Alemanha (Rheinmetall) e Emirados Árabes (Edge Group).
A venda da principal fabricante de material bélico pesado do país representa grave ameaça à soberania nacional, com perigosa transferência de elevada tecnologia para capital privado internacional. Como forma de interromper esse processo, é necessário que o Governo Federal proíba a venda da Avibras.
O Brasil deve investir em alta tecnologia, e não abrir mão dela. É perigosa a transferência de tecnologia de Defesa para empresas estrangeiras. A capacidade de produção de armamentos e equipamentos do setor, como mísseis, lançadores de foguetes, veículos blindados, bombas inteligentes, sistemas de comunicação por satélite e Veículos Aéreos Não Tripulados devem ter o controle brasileiro.
Com a venda, a empresa compradora levaria para o seu país de origem essa alta tecnologia. Já o Brasil, se quiser manter seu programa de Defesa, seria obrigado a buscar ferramentas e equipamentos no exterior.
Diante desse quadro que se desenha, as centrais sindicais reivindicam a intervenção do Governo Federal no sentido de proibir a venda dessa indústria. Também é necessário defender o emprego dos 1.400 trabalhadores, assim como garantir o pagamento dos salários atrasados.
São Paulo, 11 de abril de 2023
Sergio Nobre, Presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores)
Miguel Torres, Presidente da Força Sindical
Ricardo Patah, Presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores)
Adilson Araújo, Presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)
Moacyr Roberto Tesch, Presidente da NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores)
Antônio Neto, Presidente da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros)
Atenágoras Lopes, Secretário executivo nacional da Central Sindical CSP-Conlutas
Nilza Almeida, Secretária-geral da Intersindical Central da Classe Trabalhadora
Emanuel Melato, Coordenador da Intersindical – Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora
José Gozze, Presidente da Pública Central do Servidor”
(Por Thiago Manga)
(Foto: Reprodução)