Share This Article
Cid Gomes critica juros altos – O senador Cid Gomes (PDT-CE) questionou o patamar da taxa básica de juros (Selic) – hoje em 13,75% ao ano – ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, durante audiência pública da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal, nesta terça-feira (25).
Moraes vota para tornar réus 200 denunciados por atos golpistas
A exposição do senador chamou atenção, pois ele utilizou uma lousa e um giz para ilustrar como a lógica dos juros no Brasil contraria até o que é feito nos Estados Unidos, que Cid utilizou como exemplo porque, segundo disse, o país é considerado a “Meca do capitalismo” por atores do mercado como Campos Neto.
Na comparação feita na lousa, Cid utilizou números de inflação, taxa de juros e desemprego nos dois países em 2022.
Assista trecho da fala de Cid Gomes:
AULA
O senador Cid Gomes (PDT-CE) usou uma lousa para dar uma "aula" de economia ao presidente do Banco Central, Campos Neto, durante audiência pública no Senado.
Cid Gomes criticou a alta taxa de juros no Brasil – hoje em 13,75% – e defendeu a saída do presidente do BC. pic.twitter.com/9mpRaYsV9r
— BRI – Brasil Independente 📰🇧🇷 (@obrindependente) April 25, 2023
O Federal Reserve, órgão equivalente ao Banco Central nos Estados Unidos, elevou os juros para a taxa mais alta de sua história, 4,5%, para combater uma inflação de 6,5%. Ou seja, os juros reais ao fim do ano foram de 2%. Já o desemprego foi de 3,5%.
Já o Brasil, mesmo com uma inflação mais baixa, de 5,8%, viu os juros subirem gradualmente de 10,75% em fevereiro de 2022, até 13,75 a partir de agosto, patamar mantido desde então. Enquanto isso, o desemprego foi bem mais alto, encerrando o ano em 9,3%.
“Essa questão recebe um agravante doído porque quem sofre com a inflação é o trabalhador assalariado. A elite, os rentistas, têm como se proteger, o governo se protege porque os preços são reajustados e os tributos são em cima dos preços. No final quem sofre é o assalariado que começa ganhando 100 e termina ganhando 30”, argumentou.
Para o senador, Campos Neto não apenas não tem justificativa sólida para os juros altos, como deveria pedir para sair por não cumprir aquela que é sua função constitucional: perseguir a meta de inflação a pleno emprego.
“Pegue seu boné e peça para sair”, disse ele, oferecendo um boné com o logo do banco Santander ao presidente do BC.
Campos Neto trabalhou no Santander durante quase 20 anos, até que saiu para assumir a presidência do Banco Central.
“Robin Hood às avessas”
O senador explicou ainda que a Selic em 13,75% incide também na dívida pública brasileira, que é de R$ 7,3 trilhões. Como a maior parte da dívida está atrelada à taxa Selic, a União pagou, em 2022, R$ 802 bilhões com a dívida.
“Se o Brasil praticasse a taxa de juros dos Estados Unidos, teríamos dispendido R$ 292 bilhões com a dívida. Isso significa uma economia de R$ 510 bilhões, dinheiro que vai parar na conta dos beneficiários dos rentistas. Isso é o Brasil fazendo o papel de Robin Hood às avessas e tirando dos mais pobres para dar aos mais ricos”.
De acordo com o senador, esses mais de 500 bilhões de diferença seriam suficientes para:
- Elevar o salário-mínimo em 180%, para um valor em torno de R$ 4 mil;
- Triplicar o valor do Bolsa-Família, passando de R$ 750 em média, para R$ 2.100;
- Resolver, em dois anos, o déficit habitacional brasileiro, com a construção de 3,6 milhões de habitações por ano; ou
- Construir 134 mil escolas por ano, universalizando em três anos o ensino em tempo integral.
Juros também comprometem investimentos privados
Cid ressaltou ainda que a alta taxa de juros além de comprometer as finanças públicas, compromete a disposição do setor privado de investir, gerando inflação.
“Sou social-democrata, acredito na força e na importância da iniciativa privada, mas, com essa taxa de juros, a iniciativa privada pensa dez vezes antes de investir em um negócio. O melhor negócio hoje no Brasil é vender o seu negócio e investir em uma aplicação financeira, aumentando o desemprego e a inflação”, afirmou.