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Homenagem a coronel da ditadura – Nesta quarta-feira (28), o governo de São Paulo promulgou uma lei que dá o nome de Erasmo Dias, coronel do Exército e ex-secretário da Segurança Pública durante a ditadura militar (1964-1985), ao entroncamento de duas rodovias em Paraguaçu Paulista, cidade onde ele nasceu, no interior de São Paulo.
A proposta é de autoria do ex-deputado estadual bolsonarista Frederico D’Avila (PL).
A homenagem provocou repúdio de alunos e até da reitora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que enviaram nota de repúdio ao gabinete do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Erasmo Dias determinou a invasão da universidade em 1977, durante a sua gestão, no 3º Encontro Nacional dos Estudantes, que pretendia restabelecer a União Nacional dos Estudantes (UNE).
Ao propor a homenagem, D’Avila afirmou que “merece destaque a sua notória participação no Movimento de Março de 1964, quando a sociedade reconhecia o Exército, na figura de Erasmo Dias, como a força que pôs fim à anarquia comunista”.
O coronel da ditadura também foi deputado por três vezes e morreu em 2010.
O ex-deputado do PL afirmou que o coronel se dedicou “arduamente” à “manutenção da ordem pública”, tendo sido condecorado em mais de 50 cidades.
“Não há que se negar que Erasmo Dias representa a imagem do cidadão de bem, íntegro, de nobres valores, que alicerçou sua vida na carreira militar com diferenciado empenho”, defende.
A lei proposta por D’Avila foi promulgada pelo vice-governador Felicio Ramuth. O governador bolsonarista Tarcísio de Freitas está em viagem.
Repúdio generalizado
O Centro Acadêmico 22 de Agosto publicou um nota de repúdio a promulgação da lei, em documento que contou com o apoio de diversas entidades e da própria reitora da PUC-SP, Maria Amália Pie Abib Andery.
Leia a nota do Centro Acadêmico 22 de Agosto, da PUC-SP, clicando aqui.
“Relembramos que o coronel Erasmo Dias, enquanto Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, durante os mais sombrios anos da ditadura militar, foi o responsável por organizar e deflagrar a invasão à PUC-SP em 22 de setembro de 1977”, lembra a nota.
“Nesta data, estudantes e militantes do movimento estudantil se encontravam barricados na PUC em ato público pela reorganização da União Nacional dos Estudantes, instituição declarada ilegal e perseguida pela ditadura”, acrescenta.
Durante a invasão, 854 pessoas foram detidas, das quais 92 foram fichadas pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS-SP), órgão considerado pela Justiça brasileiro como a responsável por sequestros, torturas e assassinatos durante a ditadura.
Entre os participantes, 42 foram processados por subversão, com base na Lei se Segurança Nacional.
“A Faculdade de Direto da PUC-SP sempre esteve ao lado do Estado Democrático de Direito, da luta contra a opressão e o autoritarismo e, portanto, não se calará perante a aprovação de um projeto que homenageia traidores do povo. Exigimos do Exmo. Sr. Governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que vete o Projeto de Lei”, prossegue a nota.
O governo Tarcísio disse que o projeto de lei “foi analisado do ponto de vista técnico e jurídico” nos termos da Lei nº 14.707, de 8 de março de 2012.
“Em relação à carta da PUC, ela foi recebida nessa quarta-feira (28), às 11h28, posteriormente à promulgação da lei, e segue os trâmites para a resposta ao emissor”, se justificou, em nota.
(Com informações de Metrópoles)
(Foto: Montagem/Reprodução)