Share This Article
Incêndio no Ninho – O engenheiro José Augusto Bezerra, contratado pelo Flamengo para fazer um laudo independente sobre a tragédia ocorrida no Ninho do Urubu, acusa o clube de adulterar a cena do incêndio que tirou a vida de 10 jovens com idade entre 14 e 16 anos.
Em entrevista ao portal UOL, Bezerra afirma que o CEO do Flamengo, Reinaldo Belotti, mandou um funcionário arrancar partes de uma instalação elétrica problemática enquanto a apuração das causas do acidente ainda acontecia.
Vídeo: Adolescente é vítima de novo ataque de tubarão em Pernambuco
Segundo ele, a ação comprometeu o resultado da perícia da polícia: “É decisivo”, afirma engenheiro que teve acesso ao laudo que aponta a “má instalação elétrica” do alojamento como uma das causas do incêndio que matou os meninos da base do clube em fevereiro de 2019.
O Flamengo, por sua vez, trata o laudo como “documentação elaborada unilateralmente pela empresa”. Alega ainda que Bezerra vazou informações “cobertas por sigilo contratual” para influenciar a disputa que trava com o clube na Justiça por outro motivo.
Em março de 2020, Bezerra processou o Flamengo por quebra de contrato de um serviço posterior ao laudo. Na ação, ele alega que o clube rescindiu com sua empresa depois que ela se negou a pagar uma “mesada” a uma pessoa que se dizia ligada à diretoria.
O clube Rubro-negro diz que o serviço não foi feito e pede de volta o dinheiro que pagou. Além disso, interpelou Bezerra criminalmente para apontar quem lhe pediu propina – o que até hoje não foi revelado.
O que diz a Policia Civil sobre a Perícia
Oficialmente, a Perícia do incêndio no Ninho do Urubu durou apenas um dia, segundo informou a Polícia Civil em resposta ao UOL, o que corrobora com as alegações do Flamengo. A coleta de provas periciais teria iniciado às 9h30 do dia do incêndio e sido concluída no mesmo dia.
Assim, a remoção de fios e disjuntor, em data posterior, não teria atrapalhado o trabalho dos peritos, que já estaria finalizado.
No entanto, testemunhas relataram que policiais ainda estavam periciando o local dias após o incêndio. Victor Satiro de Medeiros, um dos peritos que assina o laudo final da polícia, também deu uma versão diferente, afirmando em depoimento à CPI do incêndio que a perícia teria durado “uns 15 a 20 dias”.
O perito Nelson Massini, consultado pelo UOL, levanta suspeitas sobre a velocidade com que a perícia foi realizada em tão pouco tempo, considerando o ambiente complexo e a quantidade de itens a serem examinados:
“Causa muita estranheza a velocidade com que essa perícia foi realizada. Trata-se de um ambiente muito complexo, com uma série de itens para serem examinados. E a perícia foi realizada em apenas 8 horas”.
Ele também considera grave a remoção de fios relatada por uma testemunha, que pode ter alterado o local dos fatos e levado a possíveis erros na apuração da polícia técnica científica:
“Pode-se dizer que foi de maneira muito apressada. Fato grave, que pode ter alterado o local dos fatos e levado a possível erro na apuração da polícia técnica científica ”, completou Massini.
O que diz o delegado do caso
O delegado Márcio Petra, responsável pela condução do inquérito do caso à época, declarou em que os fatos relatados “traduzem, em tese, a prática de um crime, que deve ser apurado”.
Ele afirma que somente o perito poderia avaliar essa hipótese em cotejo com os demais elementos colacionados aos autos.
“Arranca isso tudo”: O que diz José Augusto Bezerra
Engenheiro, sócio da Anexa Energia, contratado pelo Flamengo para fazer um laudo independente sobre a tragédia ocorrida no Ninho do Urubu ainda no dia 08 de fevereiro, data da tragédia, e que acusa o clube de adulterar a cena do incêndio.
Em entrevista exclusiva que deu ao UOL, Bezerra afirma que o CEO do Flamengo, Reinaldo Belotti, mandou um funcionário arrancar partes de uma instalação elétrica problemática enquanto a apuração das causas do acidente ainda acontecia.
Durante a vistoria, ele encontrou problemas graves, como um disjuntor mal dimensionado e fiação desprotegida e fora do padrão que levava energia para os contêineres pelo forro do alojamento.
“A área estava isolada, com fitas, com tudo. Mas, por trás, tinha uma porta que não tinha fita, não estava isolada. Então eu entrei por lá”, relata.
Na sequência, Bezerra notou uma fiação que saía de um disjuntor e levava energia para os contêineres pelo forro do alojamento. Segundo ele, os fios estavam fora do padrão, desprotegidos e com emendas aparentes:
“O cabo era errado. O disjuntor era errado. Estava tudo errado. Aí eu chamei o Reinaldo e falei: ‘Isso aqui é uma coisa muito grave’.
Ao mostrar os problemas a Belotti, a reação do CEO foi imediata: “Arranca isso tudo”, disse ele, segundo Bezerra. O engenheiro afirmou que viu os fios serem arrancados, mas não fez nada.
“Ele chamou um cara lá, um funcionário. Mostrei onde estava o disjuntor, inclusive com os fios ainda estavam todos queimados entrando dentro do alojamento. E aí ele [Belotti] falou: ‘Arranca isso tudo”. E ainda complementou: “Cara, conforme você for vendo, o que achar de muito grave você me chama”, disse Belotti, ainda segundo Bezerra.
O engenheiro diz que viu os fios que ligavam a caixa de distribuição ao contêiner sendo arrancados, mas que não fez nada. “Eu não coloquei a mão em nada. Não comentei nada também porque ali eu sou a parte mais fraca.”
Bezerra revelou que teve diversas conversas com a reportagem do UOL ao longo dos últimos meses para explicar suas denúncias. Ele denuncia que o Flamengo quis apagar algumas coisas e que não se sente seguro para falar.
Laudo oficial: culpa do ar-condicionado
A tragédia tirou a vida de Athila Paixão; Arthur Vinícius de Barros Silva Freitas; Bernardo Pisetta; Christian Esmério, Gedson Santos; Jorge Eduardo Santos; Pablo Henrique da Silva Matos; Rykelmo de Souza Vianna; Samuel Thomas Rosa e Vitor Isaías, no incêndio que transformou os seis contêineres que serviam como quartos em um grande forno, deixou 16 sobreviventes.
Três ainda atuam no Rubro-negro: o goleiro Francisco Dyogo, o volante Rayan Lucas e o zagueiro Johnata Ventura, que teve 35% do corpo queimado e voltou aos gramados mais de dois anos após o ocorrido.
Desde as primeiras horas, a versão preliminar para o incêndio —classificado ainda naquela manhã como “a maior tragédia da história do Flamengo” pelo presidente do clube, Rodolfo Landim — era a de que ele havia sido provocado pelo mau funcionamento de um ar-condicionado instalado em um dos contêineres.
O motivo coincide com o apontado na conclusão do laudo dos peritos da Polícia Civil, que embasou o indiciamento de oito pessoas, entre dirigentes do Flamengo, executivos da empresa que fornecia os contêineres-dormitórios para o clube e um técnico de refrigeração.
(Com informações do UOL)
(Foto: José Augusto Bezerra)