Share This Article
Gastos de Michelle – Diálogos entre assessoras da gestão de Jair Bolsonaro (PL) e o então ajudante de ordens do Palácio do Planalto, o tenente-coronel Mauro Cid, revelam a existência de uma orientação para o pagamento em dinheiro vivo de despesas da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro.
As informações constam em reportagem de Aguirre Talento no site UOL.
Áudios apontam que Mauro Cid temia que a prática fosse caracterizada como um esquema de ‘rachadinha’, porque não havia a comprovação da origem dos recursos.
Tarcísio ignora Bolsonaro ao listar presidenciáveis para 2026
“E isso sem contar a imprensa que quando a imprensa caiu de pau em cima, vai vender essa narrativa. Pode ser que nunca aconteça? Pode. Mas pode ser que amanhã, um mês, um ano ou quando ele terminar o mandato dele, isso venha à tona.”, diz Mauro Cid à uma das assessores de Michelle, no dia 25 de novembro de 2020.
Os diálogos ocorreram por meio de áudios enviados por um aplicativo de conversas.
As conversas foram interceptadas pela Polícia Federal (PF) por meio da quebra de sigilo das comunicações de Mauro Cid. O ex-ajudante de Bolsonaro foi preso no início do mês por suspeitas de fraudar certificados de vacina da covid-19.
“Então hoje é essa situação do cartão realmente é um pouco preocupante. O que eu sugiro para você é o seguinte. No momento que você for despachar com ela, é esse assunto. Você pode falar com ela assim sutilmente, né? (…) Mas eu acho que você poderia falar assim: dona Michelle, que é que a senhora acha da gente fazer um cartão para a senhora? Um cartão independente da Caixa. Pra evitar que a gente fique na dependência da Rosy. E aí a gente pode controlar melhor aqui as contas. (…) Pode alertá-las o seguinte, que isso pode dar problema futuramente, se algum dia, Deus o livre, a imprensa descobre que ela é dependente da Rose, pode gerar algum problema”, diz Cintia Borba Nogueira a Giselle Carneiro, no dia 30 de outubro de 2020.
A reportagem do UOL teve acesso à transcrição desses áudios e a outros detalhes inéditos sobre a investigação.
A PF chegou a indícios da existência de um esquema de desvios de recursos públicos com o objetivo de bancar despesas da primeira-dama Michelle após realizar uma devassa nas transações financeiras de Mauro Cid e auxiliares do Palácio do Planalto.
‘Dinâmica’ suspeita
O relatório da PF aponta que os diálogos revelam a existência de uma “dinâmica sobre os depósitos em dinheiro para as contas de terceiros e a orientação de não deixar registros e impossibilidades de transferências”.
A investigação detectou que a ex-primeira-dama usava um cartão de crédito vinculado à conta de uma amiga sua, Rosimary Cardoso Cordeiro, que era assessora parlamentar no Senado.
A PF detectou depósitos em dinheiro vivo para Rosimary com o objetivo de custear as despesas com o cartão de crédito, tentando ocultar a origem dos recursos.
“Coronel, bom dia. Ontem eu conversei com a senhora Adriana para saber se ela tinha falado com a dona Michelle né. Ela falou que conversou. Explicou, falou todos os problemas, preocupações, né. (…). Mas então o resultado foi que a dona Michelle ficou pensativa. Segundo a dona Adriana, ficou pensativa, mas que vai continuar com o cartão. E ela falou que tem, tem os comprovantes assim, né? Que esse cartão já era bem antes do presidente ser eleito. Mas de qualquer maneira, a dona Adriana falou que ela ficou pensativa, né? Ontem mesmo já fizemos uma compra, mas foi em outro cartão. Então eu estou vendo que realmente tá sendo de pouco uso o da Caixa. Mas por enquanto é isso. Obrigada, tchau”, diz Giselle Carneiro, em áudio enviado ao tenente-coronel Mauro Cid no dia 25 de novembro de 2020.
As duas assessoras da primeira-dama, Cintia Borba Nogueira e Giselle dos Santos Carneiro da Silva, conversaram entre si e com Mauro Cid, manifestando preocupação sobre irregularidades no pagamento de despesas de Michelle.
“Giselle, mas ainda não é o ideal isso não tá? O Cordeiro conversou com ela, tá, também. E ela ficou com a pulga atrás da orelha mesmo: tá, é? É. É a mesma coisa do Flávio. O problema não é quando! É como deputado, rachadinha, essas coisas.”, responde Mauro Cid à Giselle no mesmo dia 25 de novembro de 2020.
Outro lado
O advogado de Mauro Cid, Bernardo Fenelon, afirmou que “a defesa técnica, por respeito ao Supremo Tribunal Federal, se manifestará apenas nos autos do processo” ao ser procurado pelo UOL.
Também procurada, a assessoria da ex-primeira-dama Michelle não respondeu os questionamentos até a publicação da reportagem.
Em nota publicada em rede social, o ex-secretário de Comunicação e advogado Fábio Wajngarten afirmou que “não há nada de ilegal nas transações efetuadas”.
“Conforme já amplamente explicado, os pagamentos de fornecedores informais, pequenos prestadores de serviços, eram feitos em dinheiro afim de proteger dados do presidente. Muitos sequer sabiam que o contratante/tomador dos serviços era a primeira-dama”, disse.
(Com informações de UOL)
(Foto: Reprodução)