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Indicado por Jair Bolsonaro (sem partido) para comandar a Petrobras, em meio à insatisfação do presidente com a política de preços da estatal, o general da reserva Joaquim Silva e Luna disse à Folha na tarde deste sábado (20) que a empresa está “no meio da sociedade” e que seus produtos finais, como combustível e gás, se destinam às pessoas.
Mesmo assim, o general indicado por intervenção de Bolsonaro nega a possibilidade de inteferência na empresa e em sua política de preços. “Jamais haverá ingerência do presidente. Ontem [sexta-feira (19)], na nossa conversa, ele não falou nada disso”, afirmou Luna. A conversa decisiva para sua indicação à presidência e ao conselho de administração da Petrobras ocorreu nesta sexta, segundo o general, que atualmente é o diretor-geral de Itaipu Binacional.
Os primeiros contatos foram realizados durante o Carnaval. De acordo com Luna, porém, o tema girou mais em torno de “assuntos econômicos em geral”. O militar deverá substituir Roberto Castello Branco. O economista de perfil liberal era defendido pelo ministro Paulo Guedes (Economia) para seguir à frente da estatal. Prevaleceu, no entanto, o interesse da ala militar do governo.
“Fui indicado ontem [sexta] pelo presidente, ainda serei referendado pelo conselho de administração. Há um caminho, um processo. Seria precipitado falar de Petrobras. Ainda não posso falar como se já estivesse sentado na cadeira de presidente”, afirmou Luna.
O general, porém, expressou algumas impressões sobre a política de preços vigente. “Existem os dados abertos: barril de petróleo a US$ 60, dólar muito alto. Estes dois fatores interferem na política de preços.” O diretor-geral de Itaipu deu um exemplo para ilustrar sua visão sobre a função de empresas como a usina hidrelétrica e a Petrobras: “Uma empresa está no meio da sociedade. Itaipu investiu R$ 50 milhões em Foz do Iguaçu [PR] para combater a Covid-19. O rei que mora no castelo, quando sai do castelo, ele vai andar na rua”.
Uma intervenção por Bolsonaro na Petrobras seria inviável, segundo o general. “Mesmo se o presidente quisesse intervir, não tem como. A política de preços é responsabilidade da diretoria-executiva. A decisão é colegiada. O presidente da Petrobras é um desses diretores.”
Antes de ocupar, desde o início do governo Bolsonaro, o cargo de diretor-geral de Itaipu Binacional, Luna foi ministro da Defesa no último ano do governo Michel Temer (MDB). Foi a primeira vez que um militar esteve no cargo de ministro da Defesa desde a criação da pasta, em 1999.
Inexperiência
Se for confirmado presidente da Petrobras, o general reconhece que desempenhará uma função completamente distinta da exercida no ministério, ao qual estão vinculadas as Forças Armadas, e em Itaipu Binacional, uma empresa que tem a gestão compartilhada com outro país, o Paraguai.
“Trabalhei muitos anos com orçamento. Dos cinco anos em que fiquei na Defesa, quatro foram trabalhando com orçamento. Aqui, em Itaipu, cuidei de cortar custos e reduzir despesas. Agora é mercado, é completamente diferente, é outra coisa”, disse. Os diretores da usina que também são militares não devem acompanhar Luna na Petrobras, em caso de confirmação de seu nome pelo conselho de administração.
Segundo o general, essa possibilidade existe para três assessores diretos seus, mas isso ainda não está decidido. A indicação ao cargo de presidente da Petrobras não se deu nem por ser general nem para atender aos desejos do presidente, afirmou o militar. “Se ocorrer essa percepção, ela é 100% falsa.”
O ex-ministro da Defesa disse ainda que, efetivado no cargo, buscará soluções de forma colegiada e consensual. A afirmação foi feita em resposta a um questionamento sobre eventual mudança na política de preços da estatal. “Em Itaipu, tudo é consenso, tudo é colegiado. Tem de convencer com argumentos. É preciso apresentar argumentos para que se possa medir, mensurar”, disse.
Luna faz uso de uma teoria, chamada Paradoxo de Abilene, para exemplificar como é preciso agir em decisões colegiadas. Por esse paradoxo, pessoas tomam decisões com base na suposição de como outros integrantes de um grupo vão decidir, mesmo que isso contrarie a vontade própria inicial. “Ninguém concordava com a decisão de ir a uma cidade [Abilene, no Texas], e todos foram a essa cidade”, afirmou o general, citando o paradoxo.
Luna disse não ter outra informação senão a de que diretores-executivos da Petrobras permanecerão nos cargos. Caso seja confirmado pelo conselho, ele então substituirá Castello Branco. A política adotada em Itaipu, de fazer investimentos em áreas distintas da usina, chamou a atenção do presidente, segundo o general.
“Minha atitude é de gestor público, não de general. A figura de general é apagada. A parte militar não foi valorizada nem para ocupar o cargo de ministro da Defesa, nem para Itaipu, nem agora, com essa indicação”, afirmou.
Na conversa decisiva com Bolsonaro, nesta sexta, Luna disse que, “se for para servir o Brasil, estou pronto”. “Não temo o gigantismo desse desafio.”
Fonte: Folha de S. Paulo