Lula (PT) x Brizola (PDT) – O processo de abertura da Ditadura Militar foi um momento de extrema importância na consolidação do projeto autoritário de Estado que hoje rege o Brasil, repleto de vestígios da repressão e com um organograma político extremamente inacessível e antidemocrático. Até hoje sofremos com a falta de soberania popular no país, e um das peças mais essenciais desse programa foi a Reforma Partidária de 1979, empreendida pelo governo Geisel.
Entre as figuras desse projeto, nenhuma se destaca mais que o general Golbery de Couto e Silva, ideólogo da Ditadura e responsável pela estruturação da Doutrina de Segurança Nacional. Então presidente da Casa Civil, Golbery foi o articulador do multipartidarismo brasileiro, e um dos principais nomes que propulsionaram o nascimento do Partido dos Trabalhadores, por onde Lula ascendeu politicamente.
O programa de Golbery partia do diagnóstico de que o bipartidarismo já estava artificial e engessado para as vontades populares, tornando o regime instável. Então, era necessário dividir a oposição em núcleos conflitantes que apagassem a continuidade de arenistas e aliados do poder econômico no governo. Para isso, era necessário isolar as possíveis ameaças ao projeto liberal, sendo a principal delas o recém-retornado do exílio Leonel Brizola.
Trabalhismo como maior inimigo
O trabalhismo de Brizola ameaçava o projeto de poder fundado na Ditadura, e para impossibilitar o velho gaudério, Golbery incentivou dois golpes políticos: o primeiro era tirar das mãos do caudilho seu partido, o PTB, capitalizando-o pessoalmente com Ivete Vargas; o segundo seria criar um segundo partido autodeclarado de esquerda mas que não oferecesse uma alternativa concreta que derrubasse o governo liberal e burocrático, fazendo nascer o PT.
É claro que o Partido dos Trabalhadores possui bases próprias e autônomas de nascedouro, principalmente ligadas às lutas sindicais do ABC paulista, e que vários integrantes da base do partido não possuíam nenhuma ligação com o Regime Militar. Porém, a alta cúpula do partido, que nasceu em 1980, se beneficiou dos objetivos da Ditadura para poderem fundamentar o nascimento da sigla da maneira como ela ocorreu historicamente.
Junto a essa articulação, que tirava Brizola do centro político à esquerda, incentivou-se o nascimento do PDS, do PMDB e do PP, que reorganizariam as forças reacionárias sob a máscara do renascimento democrático. Lula, por sua vez, começara a se articular com membros do regime, o sindicalista, que já havia participado da implosão de algumas greves, saía beneficiado.
Década de 80
Em 1980, ano de nascimento do PT, Golbery deu um discurso à Escola Superior de Guerra em que traçou a armação do jogo político dos anos seguintes, chegando a fazer referências a Lula: era claro o compromisso com a capitalização da oposição e o controle da esquerda.
Para ele, era necessário oficializar os grupos partidários, pois a redução da liberdade política criaria organizações extrapolíticas ameaçadoras, como foi a guerrilha. Era necessário fazer nascerem alguns partidos que se limitassem a agir como partidos, facilitando o controle sobre os antirregimentais.
Nesse discurso, Golbery enquadra Lula como membro da “ala esquerdista da Igreja”, em referência às Comunidades Eclesiais de Base. Para ele, Lula era um autêntico líder sindical, consideravelmente despolitizado e “sem revanchismo ideológico”. A única decepção do general seria o desvio do metalúrgico dos temas laborais, no sentido de uma politização. Porém, é em Lula que se via a figura de uma esquerda controlável e alinhável.
Cumplicidade
Lula, inclusive, teria compreendido o projeto de Golbery e ingressado conscientemente nele para fins de benefício próprio. Numa situação em que a esquerda estava fragmentada em diversos grupos e projetos, a aglutinação partidária capitalizada pelo general Golbery (que, ao mesmo tempo, criou uma oposição ao comunismo e ao trabalhismo) legitimou a figura política do líder sindical.
Com a aprovação de Golbery, então, Lula reestruturou a rede de greves dos sindicatos do ABC, se distanciando do programa originalmente comunista, pautado na lógica da Luta de Classes e tendo como o alvo o “capital”, criando um novo sindicalismo que tornava o corporativismo varguista obsoleto: agora a greve era política e se resolvia com a negociação com o patrão, em que os líderes poderiam sair com benesses.
Com o apagamento da força política brizolista e a criação de uma orfandade de líderes na esquerda, o carismático Lula se tornou peça fundamental da modernização do sistema político brasileiro, como planejava o general Golbery.
O nascimento e o crescimento do PT possibilitaram o aglutinamento de projetos políticos pragmáticos que fugiram do espectro clássico da esquerda. Peça essencial do programa da Abertura, o Partido dos Trabalhadores impediu a ascensão de um projeto concreto de mudança econômica e política, lançando ao escanteio as figuras poderosas de Prestes e Brizola, que representavam mudanças radicais.
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Fonte: Aventuras na História/UOL
As centrais sindicais emitiram nota oficial em que prestam apoio à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e defendem a instalação CPI da Covid na Câmara dos Deputados. A nota é assinada pela CSB, CUT, Força Sindical, CTB e NTSC.
As centrais defendem a imediata instalação da CPI para “investigar as responsabilidades do governo do presidente Jair Bolsonaro na intencional ausência de coordenação nacional para o enfrentamento da pandemia”, além de denunciar o governo federal pela orientação contrária à ciência e à saúde para o isolamento social, o uso de máscaras e a não aglomeração.
O texto ainda quer que se investigue o atraso na compra e produção de vacinas, na falta de equipamentos e medicamentos e “nos outros inúmeros fatos que essa CPI certamente levantará”.
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