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Nascida em Araraquara, São Paulo, cidade que enfrenta um surto com predominância da nova variante de Manaus, a empresária Fulvia Gouveia Marques Vieira, de 38 anos, era tida pelos médicos como uma paciente saudável. Depois de contrair o sars-CoV-2 em meados de fevereiro em seu salão de beleza, ela apresentou falta de ar e dor nas costas; acabou internada em um hospital privado.
Ficou duas semanas na UTI, até o dia 2 de março, quando não resistiu. Fulvia deixou uma filha de 11 anos e outra de 3, esta última fruto de seu segundo casamento. Agora, as irmãs estão separadas e sob os cuidados de seus respectivos pais.
“Ela era uma mulher batalhadora e motivada. Uma pessoa saudável, que fazia exercícios e cuidava da alimentação. Foi um choque”, contou Eder Magrini, empresário e primeiro marido de Fulvia, que a viu começar com apenas seis funcionários em um espaço pequeno, crescer e chegar a ter 85 empregados num salão situado em uma região valorizada do município.
Agora, Eder se dedica a confortar a filha. “Quando Fulvia foi internada, falava bastante com ela, pelo WhatsApp. Até que um dia não respondeu mais: tinha sido entubada. Tive de contar para nossa filha que as coisas poderiam não sair bem”, recordou o empresário. “Hoje ela está com psicólogo e vem superando o baque. Mas sei que, na hora em que deita na cama, bate a saudade. Não é fácil perder a mãe tão jovem”, lamentou Eder.
Atualmente, 60% dos internados na rede de saúde de Araraquara — que ainda em fevereiro adotou o lockdown para tentar frear a expansão da doença, com resultados expressivos — estão abaixo dos 60 anos de idade. “Temos notado que as novas cepas provocam aumento da contaminação da população jovem, mais ativa e mais exposta, e que sua letalidade também é maior”, informou a secretária de Saúde da cidade, Eliana Honain.
A partir de fevereiro, invertendo a tendência observada em janeiro, o Distrito Federal e nove estados — São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Alagoas, Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Goiás e Mato Grosso do Sul — tiveram mais hospitalizações por causa da Covid-19 de pacientes com menos de 60 anos.
Dito de outra maneira: a agonia provocada pelo sars-CoV-2 rejuvenesceu. Ou ainda: os novos são o sinônimo mais atualizado do coronavírus.
Os dados falam por si. Segundo o Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica (Sivep), do Ministério da Saúde, as hospitalizações de pacientes abaixo de 60 anos, tomadas em sua totalidade, tiveram em 2021 um aumento de 25%: de 35.039, em janeiro, para 44.096 no mês seguinte; um acréscimo de 9.057 internações. No mesmo período, caíram as hospitalizações de idosos: de 44.866 no primeiro mês do ano para 43.566 em fevereiro.
Todavia, é quando se fecha mais o foco no exame do que tem ocorrido com as populações jovens que o alarme soa de modo estridente. De acordo com o Observatório Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), entre o início do ano e o mês de março, as internações no país em razão do novo coronavírus, consideradas todas as faixas etárias, cresceram 316% — um percentual desconcertante. Ocorre que entre indivíduos de 40 a 49 anos esse índice quase dobrou: 626%.
Entre aqueles que têm de 30 a 39 anos e de 50 a 59 o aumento foi de 565% e 525%, respectivamente. Para pacientes entre 20 e 29 anos, o percentual ficou abaixo daquele registrado nas hospitalizações pela doença em geral, contudo em um nível extremamente elevado: 256%. Nos dias que correm, uma em cada cinco pessoas infectadas pelo sars-CoV-2 que se encontram em UTIs está na faixa etária que vai dos 18 aos 44 anos, segundo levantamento da Associação Brasileira de Medicina Intensiva.
Fonte: Época
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