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Uma crise sem precedentes se instalou na institucionalidade republicana brasileira. O que se viu ontem em Brasília não tem precedente em nossa história. Um absurdo!
Nem nos golpes de estado consumados, modalidade em que já somos experts, chegou-se tão longe em termos de simbolismo. Seria cômico, não fosse trágico, o grau de fragilidade demonstrado pelas forças de segurança do Distrito Federal e pela Força Nacional. Isso mesmo, Distrito Federal e Força Nacional! Obviamente esta foi uma tentativa de golpe planejada com a cara do bolsonarismo: muito voluntarismo e nenhuma inteligência.
Por isso, deu no que deu. Trincou porém a nossa democracia de forma profunda.
O governo petista titubeia nesta primeira semana de atuação. Entre as fanfarronices de Janja e as reprimendas a quem diz o que deve ser dito, demonstrou um total despreparo para lidar com a segurança institucional do governo que lhe foi outorgado pela maioria dos brasileiros. Por mais que se fale em tempo exíguo, as cartas estavam na mesa. As ameaças estão aí desde antes da eleição. Mas como sempre, fez-se uma concessão e colocou-se um Ministro da Defesa (?!?!) indicado pelos militares. E de concessão em concessão o governo foi ficando refém de sua própria caricatura.
Um governo de esquerda que de esquerda nada tem, exceto a linguagem neutra. Iniciar a caminhada com a nomeação de José Mucio, cujo nome já diz tudo, era pedir para que nada fosse feito em relação ao golpismo. Se o preço a pagar por peitar as Forças Armadas e nomear alguém com mais visão nacional e republicana para a Defesa era ter os símbolos da república enxovalhados, vandalizados e destruídos, melhor teria sido bancar a aposta.
Mas o governo petista não banca apostas. Nem nas mais simbólicas lutas da esquerda.
“As ameaças estão aí desde antes da eleição. Mas como sempre, fez-se uma concessão e colocou-se um Ministro da Defesa (?!?!) indicado pelos militares.”
Lupi foi atacado por todos os lados ao dizer a verdade sobre a reforma da previdência e pedir um estudo sobre o tão falado “déficit”. Disse o que se espera de um Ministro da Previdência de um país cujas reformas neoliberais afetaram tão negativamente o trabalhador. Não houve uma voz governista sequer para defende-lo do apetite do mercado e da mídia por sangue trabalhista e nacionalista. Ao contrário, foi desautorizado. O “mercado” agradece e a mídia faz chacota com o trabalhismo.
Mas e o Lula?
Ora, o Lula é o Lula, não é mesmo? Intocável, onisciente e infalível. Mas vamos esperar os 100 primeiros dias e ver se, do alto de toda a sua sabedoria, vai conseguir colocar a nau brasileira no rumo correto. Caso contrário, de concessão em concessão, seu governo ficará tão frágil quanto estava a esplanada do ministérios neste dia 8 de janeiro de 2023. E a famosa frase de Camões em Os Luzíadas, escrita há quase 500 anos atrás e que Brizola tanto gostava, estará mais atual do que nunca.
Por Augusto Ribeiro, advogado, membro do diretório nacional do PDT e presidente do diretório municipal do PDT do Rio de Janeiro.