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Joias de Bolsonaro – Um telegrama enviado ao Itamaraty pela embaixada brasileira em Riade, capital da Arábia Saudita, aponta que as joias presentadas pelos sauditas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – enquanto ocupava a presidência – foram entregues em uma reunião na qual foi discutida a venda de ativos da Petrobras, além da possível entrada do Brasil na Opep+.
O documento foi obtido pelo G1 por meio da Lei de Acesso à Informação e foi enviado em 15 de novembro de 2021, três semanas após a reunião, realizada em 22 de outubro daquele ano entre o então ministro das Minas e Energia, Almirante Bento Albuquerque, e o príncipe saudita, Abdulaziz bin Salman.
Ciro Gomes denunciou venda de refinaria para árabes por “metade do preço”; relembre
O Senado e Polícia Federal já investigam se os presentes foram dados em contrapartida a alguma vantagem que os sauditas possam ter obtido em negociações com o governo Bolsonaro.
Detalhes da reunião
A mensagem enviada pela embaixada brasileira é assinada pelo embaixador Marcello Della Nina. Ele narra a reunião e os tópicos apresentados por ambos os lados.
Ele conta no telegrama que Christian Vargas, chefe da Assessoria Especial de Relações Internacionais do Ministério de Minas e Energia, perguntou “a respeito da compatibilização entre o setor de petróleo dos países da OPEP+ e o do Brasil, onde as companhias petroleiras são de capital aberto”.
Ainda de acordo com o relato, o poder limitado do Estado sobre a Petrobras preocupava as autoridades brasileiras por não poderem interferir tão diretamente na estatal como fazem os demais membros da Opep.
“A Petrobras passa, no momento, por processo de desverticalização e de alienação de seus ativos ‘downstream’, como parte de reformas do setor de energia que apontam para a crescente liberalização do mercado, no qual os entes estatais encontram limitações legais para intervir”, disse Vargas no encontro segundo o telegrama.
Em relação a isso, Abdulaziz respondeu que “não seria necessário maior grau de participação governamental do que o já existente no Brasil para participar das decisões da Opep+”.
Criada em 2016, a Opep+ reúne os 13 integrantes originais da Opep e outros 10 países produtores de petróleo que, juntos, são responsáveis por cerca de 40% de toda a produção de petróleo mundial. O Brasil teria sido convidado a se juntar ao clube, o que motivou a reunião.
Além disso, Bento Albuquerque teria destacado parcerias entre Brasil e Arábia Saudita no mercado de petróleo.
Diz a mensagem que o então ministro “manifestou-se favoravelmente ao adensamento da cooperação bilateral e assinalou a convergência de visão dos dois países no que se refere ao pleno aproveitamento de todas as fontes de energia, inclusive petróleo e gás natural”.
Em outro momento, o ministro teria reiterado que “o Brasil identifica a Arábia Saudita como parceiro privilegiado no setor de energia e solicitou à parte saudita comunicação oficial a respeito do convite ao ingresso do Brasil na OPEP+, comprometendo-se a submeter o assunto à consideração do senhor Presidente da República”.
Entrega das joias
Apesar de as joias terem sido entregues durante a reunião, o telegrama não faz qualquer menção ao recebimento das caixas pela comitiva brasileira.
Porém, o registro consta em um documento enviado pelo Ministério de Minas e Energia à Receita Federal, em um dos primeiros esforços do governo Bolsonaro de reaver as joias apreendidas em posse de um membro da comitiva ao chegar a Guarulhos.
A informação está em um ofício enviado ao chefe do gabinete do Secretário da Receita, que tinha como assunto “liberação e decorrente destinação legal adequada de presentes retidos por esse Órgão, que foram ofertados por ocasião de eventos protocolares no exterior”.
Neste ofício, o ministério informou que autoridades estrangeiras ofereceram “alguns presentes à Representação brasileira” na ocasião, dizendo que era “necessário e imprescindível” dar aos itens “o destino legal adequado”, “considerando a inviabilidade de recusa ou devolução imediata de presentes em razão das circunstâncias correntes; e os valores histórico, cultural e artístico dos bens ofertados”.
Venda de refinaria
Durante a campanha eleitoral do ano passado, o então candidato a presidente Ciro Gomes (PDT) denunciou a venda da refinaria Landulpho Alves, na Bahia, por metade valor do que ela já havia sido avaliada pela própria Petrobras.
“Você [Bolsonaro] vendeu a Landulpho Alves por metade do preço para um fundo obscuro dos Emirados Árabes. Se vendeu pela metade do preço, alguém ganhou e o povo brasileiro perdeu. Aí tem!”, disse Ciro ao ex-presidente durante um debate.
Ao anunciar que verificaria se a Arábia Saudita teria obtido alguma vantagem do governo brasileiro para ofertar as joias, o senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da Comissão de Transparência e Fiscalização do Senado, disse que a investigação verificará se há alguma relação entre o fundo dos Emirados Árabes e o governo saudita.
O senador contou ainda que já pediu à Petrobras documentos sobre a avaliação do preço de venda da Landulpho Alves.
(Com informações de G1)
(Foto: Montagem/Reprodução)