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Joice Hasselmann anuncia saída do PSL – Ex-líder do governo e atual opositora do presidente Jair Bolsonaro, a deputada Joice Hasselmann (SP) decidiu agora romper também com seu partido, o PSL. A parlamentar, que foi a candidata à Câmara mais votada do País em 2018, diz que o presidente da sigla, deputado Luciano Bivar (PE), entregou novamente a legenda para Bolsonaro “em troca de um cargo na Mesa Diretora da Câmara”.
“Para mim, o nome disso é prostituição”, disse Joice em entrevista ao jornal Estadão.
Bivar foi alçado ao posto de 1.º secretário da Câmara ao apoiar a eleição de Arthur Lira (Progressistas-AL), nome do Palácio do Planalto ao comando da Casa. “Eu não posso estar em um partido amorfo que virou um balcão de negócios”, afirmou a parlamentar, que disputou a eleição para a Prefeitura de São Paulo em 2020 representando o partido.
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Aliada do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), a deputada não revela para qual sigla deve ir: “Tenho três propostas muito interessantes. Não vou fazer leilão”.
A parlamentar pretende protocolar nesta segunda-feira, 14, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), um pedido de desfiliação por “justa causa”.
Por que a sra. decidiu sair do PSL?
Estou saindo de mala e cuia. É uma decisão que já tomei há tempos. Não posso estar em um partido amorfo, que virou um balcão de negócios. O PSL hoje é um partido que se entregou ao bolsonarismo, ao próprio presidente da República, para que o presidente da legenda (Luciano Bivar) ganhasse um cargo na Mesa Diretora da Câmara. Para mim, o nome disso é prostituição. Não é uma questão de ter mudado de lado por bandeiras políticas. É um partido de cacique. Acabou isso de ser um partido liberal, de que quem manda é a bancada. É tudo mentira.
O PSL foi algum dia isso, uma legenda liberal que ouvia a bancada?
Quando eu estava lá, como líder, era mais animado. Eu me impunha como líder do governo (na Câmara) para o próprio presidente, mas a duras penas. Formamos um grupo chamado “PSL Raiz”. Era equilibrado, meio a meio. De um lado “Raiz” e de outro “Bolsonaristas”, os loucos radicais. Depois deu uma virada e ficamos em um número muito menor, porque o governo cooptou, dando emenda, cargo, e o presidente do partido ofereceu mundos e fundos, milhões de fundo eleitoral para a próxima eleição. O pessoal foi tudo no barquinho lá do trem da alegria.
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Como foi essa negociata?
O governo não interferiria e ajudaria a eleger o Bivar na Mesa (da Câmara). Major Vitor Hugo (deputado alinhado a Bolsonaro) seria candidato contra o Bivar (para o cargo de 1.º secretário), mas ele retirou a candidatura em troca de entregar a liderança do PSL dentro da Câmara. Ele (Bivar) entregou (o cargo de líder da sigla) para um capacho do presidente da República, um cupincha, colocou os radicais mais ensandecidos nas principais comissões. Cerceou o microfone, que é a alma de qualquer parlamentar de verdade. Agora, eu tenho essas pessoas que me perseguiram, que fazem parte do gabinete do ódio, comandando o partido.
Quem são essas pessoas?
Major Vitor Hugo (GO), Bia Kicis (DF), Carla Zambelli (SP). Esse time, que na verdade são todos asseclas do Eduardo Bolsonaro (SP), um apêndice do pai. O PSL está condenado a ser o mesmo partidinho que começou, uma legenda de aluguel.
Sair do partido agora não é deixar as portas abertas para Bolsonaro voltar a se filiar?
Todo mundo diz que, até então, fui o paredão que impediu a volta do Bolsonaro, porque ele sempre exigiu minha saída. Só que legalmente o partido não tem como me expulsar porque eu só defendi a legenda. Mas eu não posso transformar a minha atuação parlamentar em muro para picareta. Se eles querem legalizar a picaretagem, legalizem, eu vou atuar contra isso. Mas não posso estar em um ninho de escorpião.
Bolsonaro volta para o PSL?
Acho que não, mas tudo é possível. O desenho que estou vendo é colocar um vice. O que o Bolsonaro quer? Dinheiro, fundo partidário.
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A sra. comunicou o partido sobre seu pedido de saída?
Não. Minha última conversa com Bivar foi quando eu saí do grupo de WhatsApp, dia 6 de março. Foi uma longa troca de mensagens no grupo “Raiz”. Eu fui para cima dele por essas negociatas e disse que o que ele fez foi entregar a cabeça dos que defenderam o partido em troca de um cargo. Ele me disse que as portas estavam abertas para mim.
A sra. já sabe para qual partido deve ir?
Tenho três propostas muito interessantes. Não vou fazer leilão. Tenho conversado sobre o que eu posso contribuir com essa nova legenda porque quero fazer um trabalho de capacitação nacional para mulheres, de graça e independentemente dela estar filiada ou não. Ter uma legenda que proporcione estrutura para isso é importante. Preciso ter um alinhamento com um partido de centro-direita ou uma direita racional.
Quais são os critérios para escolher o novo partido?
Não pode ser de esquerda e quero um posicionamento claro de que esse partido não estará com Bolsonaro nem com uma arma na cabeça. Eu sou liberal de cérebro, com uma alma do progressismo europeu, muito diferente do progressismo nosso. É aquele da Angela Merkel (primeira-ministra da Alemanha).
Como a sra. avalia hoje a atuação do governo?
O presidente, hoje, paga aluguel para ser presidente. Esse aluguel, na negociação, se você somar todos os cargos, espaços públicos, custou R$ 200 bilhões (soma dos Orçamentos de órgãos públicos comandados por siglas do Centrão). Só que essa grana é pública e essa teta pode secar. Quando não tiver mais dinheiro para pagar o aluguel, o impeachment vem, porque em qualquer país sério já teria vindo.
Se tivermos Bolsonaro e Lula no segundo turno em 2022, de que lado a sra. fica?
É a mesma coisa que se você perguntar “quer tomar cicuta ou veneno de cobra?”.
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Anula o voto?
Sempre fui contra isso, mas é uma possibilidade. Não posso optar por arrebentar meu País. Precisamos desaguar todos os votos da direita, que não seja extrema, até a centro-esquerda em um único nome. Existe sim a chance de uma terceira via. Esse governo vai continuar fazendo lambança. Veja o que o Bolsonaro fez em dois anos e meio. Nós falamos do governo do PT 14 anos. Vamos fazer uma projeção exponencial, já pensou ele 14 anos no poder? Acabou o País. Só não virou Venezuela isso aqui porque é grande. Se fosse pequeno, ele já teria dado um golpe.
A sra. já defendeu antes o voto impresso, continua defendendo?
Já defendi muito, mas, hoje, eu acho uma furada.
O que a fez mudar de ideia? E por que Bolsonaro quer tanto?
A eleição dos Estados Unidos e toda aquela judicialização. Imagina aqui? Não vai acabar a eleição nunca. Vai virar uma loucura. Bolsonaro quer judicializar e fazer voto de cabresto. Para uma democracia que ainda é jovem, como é no Brasil, com essa loucura de fake news, é complicado.
A sra. já foi crítica dos movimentos feministas. Sua visão mudou desde que chegou à Câmara?
Acabei sempre tendo preconceito com o feminismo porque sempre foi abraçado como uma pauta de esquerda. Acabou que esse recorte fez meu julgamento todo, mas quando você volta na linha do feminismo, a liberdade da mulher, a questão do voto, os espaços de poder e avança um pouco vê que é uma coisa sensacional se tirar a ideologia. O que precisamos é tirar a ideologia, dane-se se é direita ou esquerda, não interessa. O que interessa é trabalhar por mulheres nos espaços de poder e dar liberdade econômica. Nós, mulheres, que chegamos nos espaços de poder, como eu, Tabata Amaral, Benedita da Silva, temos uma obrigação que é tornar o caminho das que vêm mais fácil.
Fonte: Estadão
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