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Jovem negro perde vaga na USP – É o sonho de muitos jovens negros e pobres do Brasil: ingressar em uma universidade pública de renome e receber uma educação de qualidade que lhes permita mudar o rumo de suas vidas.
E quando esse sonho é finalmente alcançado, após anos de estudo árduo, é difícil imaginar que uma simples falha técnica possa destruí-lo.
Esse é o caso de Yakíni Liberto Alves de Souza, um jovem negro de 19 anos da zona leste de São Paulo que, com muito esforço, foi aprovado no curso de Engenharia de Alimentos, na Universidade de São Paulo (USP).
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Porém, Yakin acabou perdendo sua vaga por não conseguir confirmar a matrícula a tempo: perdeu o prazo por 5 minutos.
O jovem periférico não conseguiu confirmar sua matrícula na USP no prazo estabelecido devido às fortes chuvas que atingiram o litoral de São Paulo, na Baixada Santista. As condições climáticas dificultaram seu acesso à internet e a falta de crédito no celular também foi um empecilho.
Ele retornou para São Paulo e tentou acessar o site às 16h05, cinco minutos depois do prazo de confirmação de matrícula, o que o levou a perder a vaga no curso de Engenharia de Alimentos na instituição.
O Núcleo de Consciência Negra (NCN) da USP se pronunciou sobre o caso, solicitando uma reunião com a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) para discutir o ocorrido.
Eles afirmam que as profundas desigualdades sociais, atravessadas pelo racismo, precisam ser levadas em consideração para que a USP possa promover inclusão e pertencimento.
A família de Yakíni também está tentando reverter a situação.
Negros nas Universidades
A situação de Yakíni é apenas um exemplo das dificuldades enfrentadas pelos estudantes negros e pobres em nosso país para acessar a educação de qualidade que merecem. Apesar de iniciativas como a Lei de Cotas terem aumentado o número de negros nas universidades públicas, ainda há muito a ser feito para garantir que esses estudantes tenham as mesmas oportunidades que seus colegas brancos e ricos.
A Lei de Cotas completou pouco mais de uma década, antes dela, em 2010, apenas 6% dos alunos ingressaram na universidade por alguma política de reserva de vagas. Em 2019, o percentual saltou para 35%.
De acordo com dados do IBGE, em 2020, somente 12,8% dos jovens negros entre 18 e 24 anos frequentavam o ensino superior, enquanto o percentual entre os jovens brancos era de 30,2%. Isso evidencia uma clara disparidade racial no acesso à educação superior, que precisa ser combatida por meio de políticas públicas efetivas
A pesquisa “Avaliação das políticas de ação afirmativa no ensino superior no Brasil: resultados e desafios futuros”, que desenvolvido de março de 2021 a junho de 2022 pelo Lepes (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação Superior) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e pela Ação Educativa nos dão alguns dados sobre os benefícios das políticas de acesso das minorias às universidades.
De acordo com o estudo, esses alunos mantém a frequência à graduação, mesmo com toda dificuldade e desigualdade muito acima dos brancos e ricos. O estudo aponta que o percentual de negros e indígenas cursando o ensino superior foi de 87% e 40%, respectivamente. Enquanto para brancos o valor foi de 9%.
Entre os que concluíram a graduação, o grupo dos pardos é o que tem o maior percentual, com 47,2%. Brancos são 40,4%, pretos 39,2%, amarelos 38,7% e indígenas 36%.
Isso mostra a necessidade de uma mudança significativa no sistema de ingresso nas universidades públicas, que ainda é majoritariamente baseado em processos seletivos altamente competitivos e desiguais.
A USP e outras instituições de ensino superior precisam repensar suas políticas e garantir que a inclusão social seja uma prioridade real, e não apenas uma questão de discurso.
(Com informações de Terra)
(Foto: Reprodução)