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Local do chá revelação de Nikolas – O espaço utilizado pelo deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG) para anunciar o sexo do seu filho na semana passada – com participação de Neymar – é uma área militar que foi palco de torturas durante a ditadura militar.
O chá revelação ocorreu no Forte São Francisco Xavier da Barra, na área do 38º Batalhão de Infantaria, em Vila Velha (ES). O local foi palco de torturas a presos políticos durante a ditadura militar que sequestrou a democracia brasileira por cerca de 25 anos.
Recentemente, o local tornou-se cenário de eventos luxuosos. Nikolas Ferreira já falou que não houve golpe militar em 1964 e presenciou Bolsonaro exaltar torturadores e colocar o regime militar como defensor real da democracia.
Foi exatamente no mesmo local que a jornalista Míriam Leitão, na época militante do PCdoB, sofreu três meses de torturas em 1972.
“Vi minha sombra refletida na parede branca do Forte, a sombra de um corpo mirrado, uma menina de apenas 19 anos. Vi minha sombra projetada cercada de cães e fuzis, e pensei: ‘Eu sou muito nova para morrer. Quero viver'”, relembrou a jornalista em entrevista ao “Observatório da Imprensa” em 2014.
Grávida, a jornalista teve que ficar nua na frente de dez soldados e três agentes da repressão, além de ser colocada em uma sala escura na companhia de uma jiboia.
“Eu não conseguia ver nada, estava tudo escuro, mas sabia que a cobra estava lá. A única coisa que lembrei naquele momento de pavor é que cobra é atraída pelo movimento. Então, fiquei estática, silenciosa, mal respirando, tremendo. (…) Eu não tinha noção de dia ou noite na sala escurecida pelo plástico preto. E eu ali, sozinha, nua. Só eu e a cobra. Eu e o medo”, relembra Leitão.
A mesma cobra foi usada em outras sessões de tortura que estão documentadas e o relatório final da Comissão da Verdade da Universidade Federal do Espírito Santo, de parecidas às da jornalista nas dependências da área militar.
O batalhão também funcionou como local de intercâmbio dos repressores do Espírito Santo com os de São Paulo.
Agentes do Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Ordem Interna (DOI-Codi) estiveram no batalhão capixaba para fazer o reconhecimento de militantes presos em 1971.
(Com informações de Estadão e UOL)
(Foto: Montagem/Reprodução)