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Movimentos evangélicos de esquerda crescem por todo o país e enfraquecem apoio a Bolsonaro no segmento para as eleições presidenciais de 2022. Na tentativa de diminuir as chances de reeleição de Jair Bolsonaro (sem partido), candidatos de oposição ao governo iniciaram ofensiva para tentar ampliar o diálogo e diminuir o favoritismo do presidente no segmento evangélico.
O grupo religioso, que hoje representa quase um terço da população brasileira, tornou-se um dos pilares de sustentação da atual gestão e tem ajudado o presidente a manter um patamar de aprovação de 30% mesmo diante do recorde de mortes pelo coronavírus.
O movimento para tentar reverter apoios a Bolsonaro tem sido capitaneado sobretudo pelos partidos de esquerda que, nos últimos anos, perderam prestígio junto a denominações evangélicas por causa do avanço da pauta de costumes, bandeira eleitoral do presidente.
O principal argumento das legendas de oposição é que, ao adotar uma defesa da flexibilização do porte de armas e uma postura negacionista diante da pandemia do coronavírus, o presidente tem contrariado princípios fundamentais do cristianismo, como o amor ao próximo e a defesa à vida.
“O segmento evangélico apoiou a pauta de costumes, não o presidente. Hoje, vejo que parcela do segmento está se distanciando dele, porque ele contraria os valores cristãos”, afirma o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.
Ciro terá encontros com lideranças
O pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, também programa encontros com o segmento evangélico. No final do ano passado, um grupo de eleitores que apoiou em 2010 e em 2014 a então candidata presidencial Marina Silva, da Rede, criou o movimento Cristãos Trabalhistas dentro do PDT.
O coordenador do núcleo partidário é o pastor Alexandre Gonçalves, da Igreja de Deus no Brasil, que recentemente teve uma conversa com Ciro. Ele defende a necessidade de se quebrar preconceitos entre o segmento evangélico e o campo da esquerda.
“Há uma dificuldade no meio evangélico de se comunicar com os políticos, sobretudo com os políticos que estão dentro da centro-esquerda e da esquerda. E entendemos que esse preconceito é mútuo e vem também da esquerda em relação aos evangélicos”, disse.
O pastor ressalta que seu esforço tem sido o de estabelecer uma ponte, romper o preconceito e, nas palavras dele, “tentar diminuir esse apoio sebastianista a Bolsonaro”.
“Os direitos trabalhistas, o transporte digno e as férias remuneradas são a maior defesa da família, porque eles permitem que os pais tenham mais tempo com seus filhos. A defesa da família envolve muito mais que os trabalhadores tenham direitos justos.”
Bolsonaro incomodado
A ofensiva dos candidatos de esquerda fez com que Bolsonaro iniciasse na última semana uma reaproximação com pastores evangélicos que apoiam a sua gestão.
No Palácio do Planalto, ele recebeu em audiências privadas o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e o pastor Fábio Sousa, da Igreja Fonte da Vida.
Na sexta-feira (23), o presidente viajou a Manaus, onde se reuniu com líderes evangélicos. O movimento da esquerda em direção a setores que apoiaram Bolsonaro em 2018 preocupou deputados e senadores governistas que, desde o início deste mês, têm alertado o presidente sobre a necessidade de ele fazer uma contraofensiva.
“A ideologia de vocês [esquerda] é totalmente contrária à ideologia de um verdadeiro cristão”, reagiu Malafaia em vídeo divulgado na quinta-feira (22), gravado dias após o encontro com Bolsonaro. “Isso é a ideologia de vocês, que é 100% contrária à ideologia de um verdadeiro cristão.”
‘Terrivelmente evangélico’
O presidente avalia fazer, no segundo semestre, uma espécie de périplo por templos evangélicos. Bolsonaro quer ainda reforçar que, desta vez, cumprirá a promessa de indicar um jurista “terrivelmente evangélico” para o STF (Supremo Tribunal Federal).
Adventista, o presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Humberto Martins, tem ganhado força junto à equipe do presidente e a denominações evangélicas para substituir o ministro Marco Aurélio Mello, que completará 75 anos em julho e deixará o Supremo.
Em conversa na semana passada com integrantes do centrão, Bolsonaro afirmou que Humberto Martins tem chances, mas que hoje o favorito para o posto é o pastor presbiteriano e ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), André Mendonça.
A última pesquisa Datafolha, realizada no início deste mês, mostrou que os eleitores evangélicos tendem a avaliar de forma mais positiva o presidente e a relativizar mais a pandemia do coronavírus.
De acordo com o instituto de pesquisa, o índice de ótimo ou bom atribuído à condução da crise sanitária pela atual gestão passa de 33%, na população em geral, para 41% considerando apenas os evangélicos.
O esforço da esquerda tem sido o de tentar diminuir a rejeição criada contra ela nos segmentos evangélicos e o de convencê-los que a atual gestão, apesar de adotar uma retórica favorável à pauta de costumes, não implementou políticas públicas que melhoraram a vida dos cristãos, como a redução do desemprego e a diminuição da pobreza.
O receio de Bolsonaro, manifestado a assessores palacianos, é justamente de que o agravamento da pandemia do coronavírus e a escalada da crise política, sobretudo com a instalação da CPI da Covid, possam levar parcela do eleitorado evangélico a migrar para candidaturas oposicionistas.
Fonte: Folha de S. Paulo
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