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Adeus Away – Poucas pessoas sentirão da morte do genial Away, o Gil Brother. Figuras nerds, junkies, desordenados, povo de esquerda, intelectuais desajustados ou curiosos de plantão, aqui e ali. Bolsonaristas punheteiros até, vai saber… No mais, uma ou outra nota de rodapé na Folha, se pá no Estadão. A vida é um punhado de gente comendo algodão doce enquanto a maioria faz bolha de sabão. E detergente faz mal pros rins e bem pra visão. Posso estar enganado, mas acho que ouvi essa frase da boca do Away, nosso Gil Brother, em algum programa de televisão, nos anos 90 ou 2000. Mas, sendo ele tão louco quanto eu, pode ser impressão.
Away foi lavador de carro, dançarino, humorista, escritor, influencer, humorista, provavelmente passador de bagulho, presidiário, parente, cego, manco, preto, rasta, doente, comedor, ilusionista, bocudo, indigesto e criador de palavras confusão, além de um “influenciador” digital, acho que já escrevemos, mas dane-se… Os exemplos estão todos na sua obra videográfica. Vai nas entrevistas que concedeu ao Skylab no seu finado (tb) programa “Matador de passarinho” que só perde pra entrevista do Jô, ou sei lá então… O problema de quem morre é que sempre deixa uma penca de dúvidas na mesa. Mas o mais legal do Away é que ele encontrava no niilismo um meio de sobrevivência, da mão pra boca memo, e não de estética… Ele ERA artista porque precisava sobreviver. Muitos gênios já fizeram por dinheiro, mas ele têm um diferencial: Sempre FOI ASSIM, duro, o que é uma merda por si só. Away nunca teve altos e baixos. Sempre esteve EMBAIXO. Dos criadores de NOVASLÍNGUA, quem já esteve em situação parecida?
Guimarães Rosa: NUNCA;
Caetano Veloso: Nunca;
OK, vamos baixar pros mais malditos…
Nem Fausto Fawcett, nem Skylab, Lobão, Itamar Assunção, Gonzagão, passou pelo que ele passou. Bom, tem alguns, mas junta aqui.. Respondam nos comentários dessa (possível) postagem. Raros e tal, e é isso. Lima Barreto subiu e desceu.
A- WAY. A, por definição, é o “anti”, o “contra. “Way” é CAMINHO. AWAY é o CONTRACAMINHO. Acho que foi bem bastante por acaso. A cara dele.
Leite com pêra em se pá nem existe. Polícia igual o Palhares, se pá. Jack Ass jamais teria a sapiência de botar uma dentadura no Cu pra sorrir prum kralho. Isso é coisa do Away. O problema dos líderes é que eles nunca deixam pistas exatas por onde caminhar para além de suas palavras. O MESTRE nunca deixou vestígios. Mas posso imaginar UMA CENA:
O ano é 2356, e a humanidade fritando nuns 60 graus centrífagos – palavra inventada por ele, cêis já vão sacar – e poucos registros da humanidade permaneceram intactos (uns poucos vídeos em CD-ROOM ou VHS, e o BRASIL, seu território, é o único em que restou algum vestígio de seres humanos depois da BOMBA). Tem uma espécie que é uma mistura de Sidney Potier com lagartos, mas rastejam e querem comer Fandangos. Circunstancial, pois bem. Farrapos humanos falando uma língua modificada encontram numa mochila uma bateria de carro, uns fios, um video cassete intacto, e uma fita. Botam no play, e ouvem, vêem, a seguinte mensagem:
“Eu sou uma mesa, ou a mesa sou eu?”
Acaba o vídeo, não dá mais pra ver nada além disso. Percebem que precisam encontrar um rio, água, alguma moral pra compartilhar entre si, pra continuarem a viver. E assim se dará início a uma nova era Socrática, ou algo assim, onde um filósofo, cuja língua se descobrirá séculos depois, após a descoberta de mais fitas K7 com mais frases como “BOTA UMA DENTADURA NO CÚ E SORRI PRO KRALHO” e “ FUMA HOLLYHOOD PRA CARALHO e passa mal depois”, farão aflorar uma era de paz e algumas doenças… Mas que não será nada que a humanidade não possa superar, desde que regida com a crença de dias melhores.
MORÔ, CARA?
Por Franco Chiarello, cientista social
(Foto: Reprodução)
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Este texto é opinativo e não reflete, necessariamente, a opinião do site Brasil Independente