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Opinião: “Brizola: Cem Anos da centelha da Rebelião Brasileira” – O centenário de Brizola no mesmo ano dos 200 anos da Independência não é só uma efeméride, uma data a ser lembrada. É o próprio sentido da história brasileira que se reafirma, nossa tradição rebelde que na atual conjuntura convoca todos nós a mais uma vez ser o punho erguido de uma nação que se afirma soberana e popularmente. Sua presença ainda viva é a centelha que acende a chama da luta pela emancipação nacional.
Foi Walter Benjamin em suas teses sobre a História – escritas quando a noite da guerra e do fascismo haviam coberto todo o mundo – que notou essa exótica característica do tempo. A história não é só uma coletânea de fatos acabados. É uma chama consumindo-se, um processo inacabado no qual os acontecimentos do passado seguem vivos no presente. A Revolução é a redenção de todos os oprimidos de hoje e de ontem. Cada instante do presente é prenhe de todo o passado e carregue em si a possibilidade de um outro futuro.
Brizola é mais do que só o corpo que se foi. Sua biografia se confunde com a história do Brasil. Filho das guerras civis gaúchas, carregou em seu sangue e em seu nome a tradição guerreira e rebelde da nossa fronteira sulista.
Sempre que falava sobre a fundação do PTB, o Partido de Vargas, repetia a mesma fórmula de Darcy Ribeiro sobre a fundação do Brasil – certamente, não era coincidência. O Brasil é fruto de uma dupla negação, tanto do passado lusitano como índigena, emergindo algo novo da mestiçagem nacional. Brizola dizia que o PTB nasceu da falta de identificação dos sindicalistas tanto com os punhos de renda do PSD como com o pedantismo academicista dos pecebistas.
Foi o único brasileiro no período republicano a governar dois estados diferentes. Seus governos no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro foram marcados pela preocupação com a educação, tanto nas brizoletas como no CIEP, que produziram um salto qualitativo na educação dos dois estados. A Sapucaí é um ode ao samba e ao carnaval, declaração de amor ao Brasil. No Rio Grande do Sul, as estatais fundadas pelo caudilho e as transnacionais expropriadas lançaram os fundamentos do estado até então subdesenvolvido, mudando para sempre a realidade do extremo sul de nosso país.
Mas nenhum episódio de sua biografia em simbiose com a história do Brasil carrega mais do foi Brizola do que a Campanha da Legalidade em 1961. Levantando o povo brasileiro, que se converteu em único sujeito, o líder trabalhista nos mostrou o caminho da Revolução Brasileira.
Seu patriotismo e força popular custaram caro para Brizola. O regime colonial instalado com a traição de 1964 que transformou nosso país em província estadunidense castigou o caudilho com o mais longo período de exílio. Leonel suportou altivamente, mantendo acesa a chama da luta nacionalista mesmo fora de sua terra natal.
Num momento em que o imperialismo crava profundamente suas garras em nossa carne morena, no meio de uma quadra histórica terrível marcada pela peste, pela guerra e pela fome, o centenário de Brizola é mais do que somente uma memória. É a centelha viva da Rebelião Brasileira, herdeira das lutas nativistas de Ajuricaba, Zumbi dos Palmares e Sepé Tiaraju. Centelha que foi carregada por José Bonifácio e Dom Pedro na Independência, pelos abolicionistas e por Vargas na Revolução de 30.
É essa centelha que deve incendiar os Trabalhadores do Brasil, mais uma vez convocados para lutar por nossa emancipação nacional e popular – a Revolução Brasileira, afirmação de nossa vocação como Roma Tropical, alternativa civilizatória à barbárie do norte e campeão do Terceiro Mundo.
“A mim nada compromete. Sou planta do deserto. Quando a seca é forte, me alimento com uma gota de orvalho”, Leonel Brizola
Por Arthur Silva, servidor Público do Estado de São Paulo. Graduado em Ciências Sociais pela FFLCH/USP. Pesquisa Teoria da Dependência e História Brasileira.
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