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Nos trilhos do trabalhismo com Antonio Neto – Esse texto imprime somente, e tão somente, minha opinião e não submete a razão do partido a que estou filiado nem ao movimento que criei e lidero, embora possam sim em seu conjunto encontrar a relevante coincidência para o pensamento de alguns ou muitos pares.
Soube da existência de Antonio Neto através das palestras que a CSB promovera há alguns anos convidando pessoas diversas ligadas ao mundo do trabalho e à política partidária. Lá vi Ciro Gomes, a quem já acompanhava, explicar com tempo e calma as partes de suas ideias que alguns anos depois estariam concatenadas em seu último livro ‘Projeto Nacional de Desenvolvimento – O Dever da Esperança’, certamente o livro mais vendido lançado por um político e, no geral, um dos mais vendidos nas livrarias por todo o país.
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Quando o conheci pessoalmente, eu tinha muito para falar mas só pude repetir: – um nacionalista, um nacionalista – no que Neto deve ter pensado que eu fosse alguém com sérios problemas de formulação. O que eu queria na verdade era agradecer por ele se colocar como um getulista, algo raro no mundo sindicalista atual dos adeptos do “novo sindicalismo” ou da redução da luta através dos dirigentes das muitas centrais únicas, centralizadoras, ameaçadoras, degradadoras da luta operária. De qualquer forma as emoções do momento não me permitiram e o tempo era pouco. Neto estava nesse momento conduzindo um evento de campanha para Ciro Gomes em 2018 no Villa Country.
Mal sabia eu que algum tempo depois seria liderado por sua presença e atitude na reformulação do PDT da cidade de São Paulo. Minha relação com Neto sempre alternou entre amena e animada, mas o ambiente de mudanças a que o partido precisava passar nem sempre fora calmo. O PDT da capital havia passado por muitas presidências mas há certo tempo estava sem muitas atividades. A figura de Antônio Neto e a chegada de Ciro a convites de Carlos Lupi iniciara um novo momento para o Trabalhismo, principalmente o paulista e o paulistano. Pessoas de diversas extrações, com ou sem experiência político-partidário mas muito empenhadas definiram um caminho sem volta para nossas vidas.
Pessoas entraram, outras saíram. Cadentes tornaram-se decadentes, alguns escolhidos tornaram-se ingratos com os esforços do partido. Erros foram cometidos, alguns já reconhecidos e sanados. Há ainda muito por fazer, mas parte de cada militante contribuir da maneira que melhor lhe aprouver em benefício do partido. Vi isso de praticamente todos que conheço nessa militância, da base até sua liderança pois a vida partidária é essa, e o que fica em meu sentimento para o bem exercício da militância política é o recado da resiliência. O esforço de permanecer, críticos sim, atentos sempre mas participativos na balança social das tomadas decisórias, seja de uma burocracia, seja da ânsia popular. Imagino ainda que a verdade surja nesse ponto médio. É preciso que participem, pois.
O fato é que o momento que se nos apresenta é o de decidirmos agora o futuro do Trabalhismo no estado que tanto beneficiou enquanto recebera e recebe o pior tratamento: O ingrato estado de São Paulo. Para esse futuro, o PDT é o ferramental e como ferramenta precisa ser eficiente, dado que é o único que reivindica o Trabalhismo e um modelo de PND. A sequência de eventos que nos trouxeram até aqui, brasileiros, carece do encontro (ou da criação) de militantes responsáveis e cônscios de quais são nossos caminhos, para espalhar nossas ideias, de defender com altivez a ideologia que praticamente criou o Estado no Brasil e que, por criar contradições no curso de suas realizações, termos a maturidade para contextualizar os períodos e cenários, respondermos às críticas devolvendo as responsabilidades aos devidos sujeitos da História recente ou passada.
Para todas essas tarefas serão necessários militantes de verdade, mas a pergunta que atormenta meu sono quase todos os dias é: como reunir uma militância experiente e dedicada se fomos interrompidos, cassados, caçados, torturados, mortos ou exilados a partir de 64? Se no processo de redemocratização tivemos força política mais exuberante no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, muito em conta da organização de um partido paulista que dizia falar em nome dos trabalhadores mas que nunca defendeu o legado varguista, muito o contrário e sim uma proposta de desagregar o tecido político em nome de sua tez limpinha e cheirosa até que fosse governo? A verdade é que nossa tradição sempre fora arrebentada à esquerda ou à direita, nos reduzindo simplesmente a meros fascistas (por algumas esquerdas) ou comunistas (por algumas direitas). Somos Nacionalistas, os verdadeiros, temos história, lastro e não devemos ter medo de defender isso.
Esse novo encontro tem proporcionado a formação de uma nova geração de militantes que pouco ou nada têm a ver com a educação oferecida por esses outros atores políticos da redemocratização. Estamos aos poucos criando nossa própria escola e voltando felizes, acredito eu, para o momento em que o Trabalhismo fora interrompido. Eu escrevo de São Paulo e posso defender essa posição daqui. Cabe a cada um defender suas posições a partir de suas próprias condições geográficas.
O momento presente nos trouxe uma grande oportunidade: a de elegermos Antônio Neto para deputado federal. Nos dois biênios anteriores, além de sua contribuição na direção partidária, Neto participara de candidaturas de última hora, ajudando o partido a cumprir sua parte em acordos internos e/ou externos. Isso da tarefa cumprida, inclusive, o coloca no centro da disputa estadual, senão da disputa nacional. É o tipo de militante pau pra toda obra, daqueles que realmente carregam peso no fio do bigode. Olhos de muitos verdadeiros compatriotas estão atentos aos resultados, torcendo para que Neto possa acessar uma cadeira no Congresso Nacional. É hora de retribuir o favor feito a todos por Neto como militante mas é preciso mais que olhos atentos. É preciso oferecer tempo e dedicação porque estabelecer uma cadeira paulista em Brasília pelo Trabalhismo só trará benefícios a todos nós.
Sabem, meu avô também se chamava Antônio Fernandes, então por algumas vezes brinquei com Neto dizendo que eramos quase homônimos. Eu não tive a oportunidade de conhecer meu avô Nico mas imagino que Neto teve a sagrada oportunidade de conviver com seu avô Antônio. Curiosidades à parte, Seu Antônio Fernandes dos Santos e Seu Guarino Fernandes dos Santos, respectivamente o avô e o pai de Neto, foram dois camaradas excelentes: o primeiro era getulista, fundador do sindicato dos ferroviários de Sorocaba, certamente na época um dos principais sindicatos do país. O segundo fora dirigente do mesmo sindicato mas então um camarada filiado ao Partidão(PCB). Consigo projetar então para o pequeno Neto um crescimento generoso mas tumultuado no encontro das duas mais importantes tradições políticas brasileiras com o conservadorismo do interior paulista, também do encontro da ferrovia (algo modernizante) com as terras de quem queria e talvez ainda queira hoje que o Brasil seja um grande fazendão. Soma-se a isso o momento histórico, com tentativas de militares tutelarem a civilidade, o Trabalhismo e suas reformas sendo golpeados, momentos conturbados da ordem política, social e econômica. Posso aqui arriscar que Neto teve que aprender a ser dialético desde muito cedo, inclusive para que ele e seus familiares sobrevivessem. Talvez seja essa sua maior qualidade.
Antônio Neto, ele próprio, iniciara sua vida sindical, salvo engano desse autor, na própria FEPASA antes de sua privatização, e colaborara para a fundação do ‘Sindicato dos Trabalhadores em Processamentos de Dados e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo’ (SindPD) algum tempo depois. Sempre presente e resiliente na luta sindical, Neto passaria a presidir esse sindicato, cálculo da confiança que seus pares depositaram e depositam nele ainda hoje. Creio que desse ponto em diante a maior parte dos leitores conhecerá sua história. Da proposição e conquista da PLR para os trabalhadores no governo Itamar Franco, da conquista das 40 horas semanais para sua categoria, da criação da CSB e da promoção dessa na central sindical que mais cresce no país, da saída do PMDB por não aceitar as contrarreformas de Temer até sua chegada ao PDT. É parte da tarefa desse texto transformar o leitor em um potencial eleitor, mas mais que isso: torná-lo um colaborador dessa campanha política.
Em tempos em que a representatividade dos trabalhadores anda em baixa, muito por conta das mudanças estruturais do mundo do trabalho, das novas tecnologias e da legislação que não consegue regular tais mudanças com a mesma rapidez, mas também pela desconexão dos movimentos sociais com a realidade popular, eleger Antônio Neto é uma tarefa que precisa ser cumprida à risca, mas pedir voto a ele até dois de outubro será apenas o início, em verdade sendo mais um ato de compromisso a longo prazo. Escrevo isso porque sustentação popular é algo necessário para que um mandato, principalmente um que se proponha rompedor e construtor, funcione adequadamente e possa inclusive ampliar a participação dessa tradição política. Você e eu não estaremos elegendo apenas Antônio Neto, mas um presidente de partido, um presidente sindical, um militante pelo Trabalhismo, mas alguém com sangue ferroviário que ainda hoje representa o avanço da modernidade para cidades e memória afetiva que as estações de trem nos trazem. Parece um detalhe bobo mas para mim a simbologia das estradas de ferro e dos trens mostra perfeitamente como esse país poderia ser e como está hoje em dia.
Antigamente os trabalhadores de trens ficavam no último vagão (chamado cabooses e não era raro que acidentes ocorressem pois a visão de qualquer obstáculo nos trilhos ficava comprometida além de acidentes em frenagens. O mundo dos trens evoluiu quando esses trabalhadores controladores de trajeto foram colocados onde realmente deveriam estar: no primeiro vagão, ou simplesmente, na vanguarda do trem. Esse foi o mesmo momento em que os trens puderam ganhar mais velocidade rumo ao progresso, claro não antes do enxugamento dos quadros de funcionários e outros arranjos em prol do lucro dos patrões. O trem, porém, continuou e continua a levar progresso para a extensão de suas linhas.
É hora então de todos os nossos militantes tomarem o trem dos acontecimentos, colocar combustível na máquina, observar os obstáculos no caminho a fim de retirá-los do curso, e entusiasmar a todos os passageiros a que a viagem tenha mais conforto desde que tenha objetivo correto.
Eu saberei que com Neto eleito, o Trabalhismo não será colocado para fora do trem da História, a não ser pela força de quem prefira que um vagão seja puxado por força animal, reafirmando uma piada sem graça. Então, se eu sei imagino que você também saiba da importância de eleger os nossos melhores quadros nos estados. Tenham compromisso, não corram da luta. O momento é muito importante, talvez decisivo, para o Brasil ser reconstruído como Nação ou para o Brasil deixar de ser um país. A escolha é sua!
Por Vinicius Guerrero, jornalista e militante trabalhista
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Este texto é opinativo e não reflete, necessariamente, a opinião do site Brasil Independente.