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Bolsonaro e a estética nazista – O brasileiro foi surpreendido ontem com um gesto realizado pelo assessor especial para Assuntos Internacionais do governo Bolsonaro, Filipe Martins, durante um pronunciamento do presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, em que acenou com sua mão um gesto comumente conhecido como “OK” no Brasil.
Em instantes diversas personalidades alertaram que poderia haver algo muito mais grave por trás do gesto que foi apropriado nos últimos anos por grupos supremacistas brancos ao redor do planeta, já que formaria com a mão as iniciais “WP”, sigla do movimento White Power (Poder Branco).
Essa sinalização de um alto membro do governo para grupos supremacistas pode parecer não só absurda como inesperada para boa parte da população, mas a verdade é que os flertes com essa estética neonazista não vem de hoje e já encontrou porta-vozes inclusive no filho do presidente da república, Eduardo Bolsonaro e em lives do próprio Jair Bolsonaro.
No dia 1 de junho de 2020, durante live, Bolsonaro foi visto ao lado de assessores bebendo copos de leite durante uma de suas lives. Segundo o presidente o motivo não poderia ser mais inocente: “Desafio do Leite”, proposto pela Associação Brasileira de Produtores de Leite (Abraleite). no dia em que se comemora uma data internacional da bebida láctea.
Mas não demorou muito para que se acendesse um alerta. A discussão sobre a atitude do presidente remete às fileiras americanas mais radicais, entre as quais há um movimento conhecido como “Alt-Right” (o equivalente a “Direita Alternativa”, em português) que utiliza o leite como forma de exaltar a percepção preconceituosa de que os brancos seriam aos demais, sobretudo aos negros, há três anos, um vídeo no qual integrantes desse movimento apareceram bebendo leite em um local público, enquanto brindavam, chamou a atenção de estudiosos dos Estados Unidos para o tema.
As análises das publicações e discursos do grupo compreendeu que, além da cor do leite, o motivo para que ele ajude a reforçar a ideia do supremacismo reside na distorção de artigos acadêmicos que mostram disparidades nas características genéticas de cada pessoa. Conforme registrou o jornal The New York Times em 2018, pesquisadores têm percebido nos últimos anos que os materiais que escreveram sobre o tema vinham sendo utilizados erroneamente para embasar campanhas racistas.
Nesse caso, o que aconteceu foi a disseminação de uma hipótese de que pessoas brancas poderiam digerir a lactose presente no leite com mais facilidade do que pessoas de outras cores de pele durante a fase adulta da vida.
Mas não para por aí, nos Estados Unidos, a ascensão da chamada alt-right (direta alternativa, em tradução livre) efervesceu toda uma cultura digital com expressões, gírias e memes. Entre os símbolos escolhidos para criar a linguagem de internet da direita alternativa ainda está uma série de figuras que, como tudo na rede, ganha novos significados com o passar do tempo.
Entre eles encontramos o vaporwave. A princípio era um gênero de música eletrônica, criado na internet em meados de 2010, e que usa referências visuais e sonoras de tecnologias dos anos 1990. Até então, o gênero era um meme sem intenções ideológicas.
Mas desde 2015 foi apropriado pela extrema direita, inclusive a brasileira que possui uma rádio online com o nome ShockWave que tem como um dos frequentadores e assíduos ouvintes o deputado federal, Eduardo Bolsonaro, que já fez uso da estética em suas redes sociais no passado.
O que falar então do ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim, que fez uma cópia escancarada no discurso e na estética do antigo ministro da propaganda de Adolf Hitler, Joseph Goebbels, em vídeo que foi divulgado para anunciar o Prêmio Nacional das Artes, projeto no valor total de mais de R$ 20 milhões e que levou a sua queda após pressão de diversos setores da sociedade?
Para os que ainda mantém um benefício da dúvida ao governo Bolsonaro e sua relação com estéticas e discursos supremacistas e neo nazistas, julgando que tudo não passa de um mal entendido e o presidente não saberia do que se tratam tais demonstrações, segue um vídeo em que apoiadores do presidente tiram fotos junto à ele fazendo o mesmo gesto perpetrado por Filipe Martins na noite de ontem e são alertados pelo mandatário e seus seguranças para apagarem as fotos pois isso pode “prejudicar o presidente.”
Por Bruno Fortuna, jornalista com passagem pelas revistas Istoé e Istoé Dinheiro, atua hoje como social media e comunicador político.
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Este texto é opinativo e não reflete, necessariamente, a opinião do site Brasil Independente.