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Opinião: O xadrez dos presidenciáveis no Brazil Conference

Presidenciáveis no Brazil Conference – Neste fim de semana aconteceu a 7ª edição do evento “Brazil Conference”, organizado pelos brasileiros que estudam nas universidades de Harvard e MIT. Foi, sem sombra de dúvidas, o primeiro balão de ensaios da corrida presidencial de 2022. Um aceno importante para diferentes atores e com respostas muito interessantes, afinal um conjunto de falas e gestos como vimos nessa conferência é algo digno de uma análise em camadas.

Para quem quiser visualizar, vamos tentar algumas imagens: pense que a política atual é composta de diversos tabuleiros de xadrez sobrepostos, com cada movimento em cada andar impactando as possibilidades de movimentação, o tempo todo, em todos os andares; para os viciados em BBB, é só lembrar que existem as tretas dentro dos grupos e o modo como nós assistimos e lemos do lado de cá, ou seja, não adianta só olhar o jogo interno, pois na hora da votação, quem decide são pessoas de fora; para os mais nerds, é a referência ao Xadrez do Jornada nas Estrelas.

Dessa forma, não basta dizer que tivemos um melhor ou pior, mas precisamos olhar cada um dos participantes pensando: Para quem falavam? O que falaram? Da onde falaram? Parecem perguntas muito simples, e é por isso que são úteis para fazer essa leitura.

Para quem falavam?

Por mais que o painel tenha sido transmitido globalmente, os organizadores e foco das falas eram os brasileiros que estudam nas universidades americanas, com especial atenção às instituições organizadoras. Mesmo que isso tenha gerado efeitos no Brasil, lembremos dos diferentes níveis. Eles não estavam em um palanque brasileiro, e estavam mais interessados nas reações desses grupos, que são influenciadores, tomadores de decisão em diversos âmbitos e financiadores de outras tantas iniciativas, tanto no Brasil como no mundo.

Aqui vale a provocação: por que um evento assim não está sendo realizado nas universidades brasileiras? Não podemos achar que apenas essa bolha elitizada moldará o resultado eleitoral de 2022. O conteúdo deste debate deveria chegar a mais gente.

O que falaram?

Suas respectivas análises de conjuntura e propostas imediatas. Iremos mais a frente dar mais atenção para cada conteúdo e suas formas, mas em linhas gerais todos ali queriam através de seus discursos fazer um aceno de que não estão acomodados e que estão, todos, dispostos a dialogar em defesa da democracia, tanto é que dos cinco, quatro deles (com exceção de Haddad) assinaram juntos o “Manifesto pela Consciência Democrática” no final de março. Isso não significa que a partir disso teremos uma unidade democrática total, como alguns deles fizeram questão de frisar, mas sim de que nenhum dos envolvidos irá romper com a civilidade, diferente do troglodita atual que nos governa.

Da onde falaram?

Tínhamos ali uma composição bem interessante de pessoas. Cada um deles com uma trajetória e uma intenção de mensagem a ser passada. Para ser o quadro que mereceria ter sido, com uma pluralidade realmente rica e complexa como é o Brasil, faltou a presença da Marina Silva ou de Manuela D’Ávila, ou talvez outras mulheres, negros e lideranças indígenas. Convidar o Lula ao invés do Haddad também poderia ter sido um exercício interessante como forma de análise dos discursos, mas por outro lado poderia ter incendiado tanto o debate que as mensagens planejadas talvez não tivessem sido apresentadas e a gente não estaria aqui analisando este complexo tabuleiro de xadrez em camadas.

Por fim, pensando sobre de onde falavam, não tem como deixar de lado o quesito partido político. Nesse sentido, um ponto questionável é pensar que tínhamos na mesa uma composição de lideranças com maior representatividade para o PSDB, com Dória e Leite, enquanto outros partidos não foram chamados parao debate.

Ciro Gomes (PDT)

Acostumado a lidar com esse público, Ciro foi muito bem. Ele demonstra com muita facilidade que conhece os problemas e os dados e já aponta para o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), seu projeto de país já difundido há alguns anos e publicado em forma de livro em 2020. Joga com o fato de saber bem o perfil dos brasileiros com os quais ele conversava – estudantes progressistas de universidades americanas. Traz justamente o PND como seu escudo pois sua base eleitoral vem se construindo através desse discurso mais academicista, principalmente entendendo quem é ele para aquele universo de alunos – não podemos deixar de lado que o próprio Ciro teve uma passagem acadêmica em Harvard e pode ser considerado um expoente dessa universidade.

A questão é que seu discurso ainda é muito elaborado e difícil de ser compreendido pela população como um todo. Cheio de analogias, suposições, entremeado com muitos números e referências macroeconômicas, que ele sabe de cor. Parece cativar um estudante de economia defensor de um Estado forte,  pessoas da elite progressista não-petista e cearenses. Acerta quando fala para Harvard, mas precisa fortalecer a ponte com outras frentes, lideranças e perfis. Não basta a chuva de números se queremos cativar outros públicos. O Brasil é diverso demais para ser tudo “trigo é dolar”.

João Dória (PSDB)

Do ponto de vista de elaboração do discurso, as falas do Dória são muito mais simples e diretas, podendo chegar a mais gente. Ainda que o público da Conferência não fosse a população em geral, Dória sabe o quão significativo era esse primeiro debate e soube pontuar palavras-chave, frases de efeito e um tom bastante combativo contra seu grande adversário político, Bolsonaro, que como todos lembram era seu parceiro até pouco tempo atrás.

Do ponto de vista do conteúdo, Dória não falou nada inesperado, mas faltou rechear suas propostas e soluções, mostrando evidente menor preparo comparado ao Ciro ou ao Haddad. Ele muitas vezes nem respondeu ao perguntado, mas não perdeu chance em bater de frente ao Bolsonaro e marcar suas supostas diferenças. Não podemos esquecer que é interesse dele manter a imagem de “gestor” ao invés de político, então até essa potencial fraqueza, na verdade pode ser um recurso de empatia.

Chamou atenção, logo de início, ele falar em compaixão e esperança, como solução aos enormes problemas que enfrentamos, fazendo forte apelo popular por uma mudança de liderança. Ele parece ter certeza que sairá candidato em 2022 e que seu maior adversário é Bolsonaro.

Fernando Haddad (PT)

O Haddad apanhou da própria entrevistadora, sem motivos. Mas se saiu bem e de forma elegante. Ainda foi solidário aos dois governadores numa sinalização da importância de dialogar e defender a democracia. E também vemos que ele melhorou muito a linguagem. Haddad em 2016 falava muito “mais difícil”, mas era muito mais enérgico. Vai se tornando mais acessível, mas menos combativo, garantindo essa imagem mais INSPER do que USP..

Na primeira pergunta sobre quais são os desafios e visão de futuro, ele organizou a resposta muito bem, trazendo primeiro a importância da vacina e auxilio emergencial — que nenhum dos outros tinham mencionado até então — seguindo com três eixos: (a) cultura, educação, ciência e tecnologia, (b) retomada do investimento público e infraestrutura e (c) um terceiro bloco de retrocessos institucionais, onde ele agrupou varias coisas, desde pauta ambiental até LGBTQI…

Em resumo: ele foi uma foto do PT durante boa parte do painel. Com um fundo de tela sombrio, um ar rancoroso, umas falas ainda falando do passado, de golpe. Só ao final que ele foi mais como ele mesmo: um personagem querido, um cara democrata.

Luciano Huck (sem partido)

Huck foi o pior quando pensamos no conteúdo de suas falas. Como presidenciável, segue sendo um excelente animador de programa de TV. Jogou com a ideia de ser o de fora, quase ingênuo, não sabendo endereçar de fato problemas e soluções. Se embananou na resposta sobre 5G, assim como trouxe pouca materialidade em todas suas colocações.

Por outro lado, quando pensamos na forma, seu discurso de que “é da sociedade civil, viajou o Brasil e conhece os pobres” … preocupa e é perigoso. Ele é a mídia e sabe muito bem construir com isso. Não seguiria se envolvendo nesses debates se não houvessem mais intenções. Repetiu esse mantra do “sou civil” praticamente em todas as respostas. Pode colar, o “outsider” bem intencionado que conhece o pobre, o empreendedor e dialoga com os filantropos e grandes empresários.

Vale chamar a atenção que ele demonstra estar muito interessado em unir esforços para avançar em eficiência, tecnologia, fortalecimento da democracia. Pode ser que sua candidatura não vingue, mas já passa a ser possível conhecer quais os setores que estão orbitando essa candidatura.

Meio Ambiente

Como lideranças de um movimento que apresenta a importância da Ecologia como caminho para pensar o desenvolvimento do país, nós não poderíamos deixar de abordar a questão ambiental, alvo de comentários ao longo da mesa. Foi uma surpresa ver os cinco falando do assunto logo de início. Mas todos eles abordando a temática ambiental a partir de uma necessidade de fazer a economia girar e a gente não sair perdendo parceiros comerciais ou sobre a importância da biotecnologia como forma de firmar nossa soberania nacional. Uma visão globalista e nacionalista importante, mas nenhum dos cinco potenciais presidenciáveis fez uma fala de revolta sobre o que está acontecendo na Amazônia desde o início da gestão Bolsonaro, sobre a Cúpula do Clima, ou algo contundente sobre mudança de matriz energética para ontem. Huck, por exemplo, falou sobre como o agronegócio pode ser sustentável, mas sem dar concretude nenhuma, nem mencionar o papel da agroecologia, nenhum deles pautou empregos verdes. Estamos distantes de um debate qualificado sobre meio ambiente, vida e economia. No século XXI ainda existe grande dificuldade de se compreender que sem garantir as condições ambientais de vida não teremos vida ou economia para todos. Nos parece evidente que a discussão ainda pouco avança dentro dos partidos políticos.

Fogo no Parquinho

Foi muito saudável ver um debate respeitoso entre lideranças políticas que se dizem democratas. Pudemos ouvir (de alguns mais, de outros menos como analisamos antes) o que pensam sobre os problemas do país e como pensam em solucioná-los. Mas faltou, a nosso ver, perguntas que pudessem constranger alguns dos participantes. Dória e Haddad rebateram Huck sobre a importância de se aprender com o passado, mas nenhum deles mencionaram sua corresponsabilidade pelo resultado eleitoral de 2018, por exemplo.

Sabemos que essa análise não esgota a compreensão do que foi o evento, apenas traz opiniões acerca do conteúdo e forma dos discursos de Ciro, Haddad, Dória e Huck de forma a delinear parte dos tabuleiros que definirão nosso futuro. Gostaríamos, por fim, reforçar que faltou jogar luz às divergências entre os cinco quadros ali presentes, de forma a garantir interpretações mais precisas sobre o que nos aguarda em 2022. Faltou estressar argumentos, jogar fogo no parquinho e ver como cada um se sai a partir de críticas e não apenas de convergências.

Barbara Panseri é internacionalista, Mestra em Administração Pública e Presidente Municipal do Ecotrabalhismo (PDT-SP).

Iberê Moreno é internacionalista, Mestre em comunicação, Mestre e Doutorando em História, Professor Univesitário e Presidente Estadual do Ecotrabalhismo (PDT-SP).

Este texto é opinativo e não reflete, necessariamente, a opinião do site Brasil Independente.

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Por Redação

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