Share This Article
O Brasil segue sua marcha de morte e caos em meio à pandemia da Covid-19. Hoje já somos o país com mais vítimas diárias pela doença no mundo, superando os EUA, que reorganizou o comando federal da contenção do vírus depois da posse de Joe Biden.
Enquanto isso, Bolsonaro segue seu discurso sob medida para provocar confusão e desmobilização institucional do combate à Covid-19: deslegitima o isolamento social, faz pouco caso dos enlutados, questiona o uso de máscaras.
Apesar de tudo isso, o presidente da República segue tendo cerca de 40% de aprovação da sua gestão em pesquisas de institutos sérios. Por outro lado, a Oposição continua com seu discurso chamando Bolsonaro de genocida e denunciando seu desprezo macabro pela vida da população. Tem adiantado alguma coisa?
É preciso ter em mente que o Brasil caminha para uma situação sem precedentes nas últimas décadas. Afinal de contas, vivemos muitas crises econômicas seríssimas nas últimas décadas, mas nenhuma delas simultaneamente a uma pandemia global que mata vorazmente.
Diante desse quadro grave, com morticínio da população, desemprego em massa, população sem renda e o Estado afundando em instrumentos de ajuste fiscal e dissolução do patrimônio público por meio de privatizações, chegaremos a um nível de extrema pobreza e de indicadores sociais que nos farão voltar a patamares da primeira metade do século XX.
Portanto, pensar em quem será candidato na eleição de 2022 é infrutífero porque não sabemos se teremos Brasil em 2022. Denunciar e apontar as contradições é fundamental, mas é tão importante quanto um diálogo franco entre figuras públicas do país para encontrar soluções.
A força institucional e econômica da máquina federal é imensa e tem poder de minimizar ou bloquear esforços dos demais entes. Bolsonaro tem usado todo esse poder para instigar a desinformação e o caos. No entanto não temos o direito de ficarmos inertes.
Chegou a hora de forças progressistas, seja nos partidos políticos, organizações, movimentos sociais e personalidades políticas iniciarem um movimento de pressão coordenada por saídas que superem o projeto de morte dirigido por Bolsonaro e levado a cabo pelo general Pazuello na área da Saúde.
Proponho a criação de um gabinete nacional de crise que envolva todos os governadores não alinhados ao bolsonarismo, os prefeitos de capitais e todo o pensamento nacional que classificamos como sendo de bom senso, que reconheceu a importância da ciência na superação do vírus, ainda que tenha tomado medidas questionáveis durante a pandemia.
Esse grupo reuniria, por exemplo, figuras como os ex-presidentes Collor, Sarney, Lula, Dilma e Temer, candidatos à Presidência da República em 2018, como Ciro Gomes, Fernando Haddad, Marina Silva, Geraldo Alckmin e João Amoêdo; autoridades do Poder Judiciário, especialistas do quilate de Natalia Pasternak, Átila Iamarino e Miguel Nicolelis, economistas, grandes figuras do empresariado nacional, além dos já citados governadores e prefeitos
A ideia desse fórum não seria fazer diagnósticos e unificar um coro de ataques e xingamentos de genocida a Bolsonaro. Essa tática esgotou. Defendo que este grupo se reúna para criar consensos e estabelecer um cronograma concreto de ações que estejam na alçada de suas funções. Tenho a certeza que um movimento coordenado encabeçado por ex-presidenciáveis e governadores de estilos diferentes como João Dória e Flávio Dino produziria sínteses importantes para a opinião pública e possivelmente encontraria alternativas para compensar a inação de Bolsonaro.
Pode soar utópica a pretensão de tal fórum, mas acredito que a gravidade do momento exige algo com essa magnitude. É uma espécie de Frente Ampla para enfrentamento da Covid-19, com foco no vírus, deixando de lado os ataques morais a Bolsonaro, focando na sua incapacidade política de produzir respostas.
Este espaço tem potencial de criar uma nova narrativa que sirva como um antídoto à justa desconfiança de parte dos brasileiros com tudo que venha do sistema político da forma como está, em acelerado apodrecimento desde 2013 e que leva uma parcela dos brasileiros, senão apoiar irrestritamente Bolsonaro, a duvidar destes que fazem o debate polarizado e no qual o presidente nada de braçada.
Leonardo Aragão é jornalista e especialista em Gestão Pública. Foi assessor da Presidência da República para a Participação Social no governo Dilma Rousseff e assessor técnico da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.
Fonte: O Cafezinho
—
Este texto é opinativo e não reflete, necessariamente, a opinião do site Brasil Independente.