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PF monitora Steve Bannon – Estadão – Após relatar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que a rede bolsonarista na internet usa métodos de desinformação aplicados por Donald Trump, a Polícia Federal tem monitorado as consequências das investidas de Steve Bannon, estrategista do ex-presidente americano, sobre a democracia brasileira.
Com Trump fora do poder, Bannon tem atacado instituições brasileiras e está especialmente interessado nas eleições de 2022. Aliados do presidente Jair Bolsonaro se alinharam ao estrategista, que chegou a ser preso, em 2020, sob a acusação de desvio do dinheiro arrecadado para a construção de um muro na fronteira americana com o México.
No último dia 12, acompanhado do empresário Mike Lindell, um importante aliado em campanhas de fake news, Bannon ciceroneou o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em Dakota do Sul (EUA), durante evento marcado por teorias de desinformação sobre as eleições.
Eduardo falou por cerca de 40 minutos. Ignorou as seis vitórias de Jair Bolsonaro obtidas por meio do sistema eletrônico de votação e repetiu à audiência americana as mesmas informações falsas sobre as urnas que fizeram o pai ser alvo de investigações no TSE e no Supremo Tribunal Federal (STF).
O deputado federal procurou passar a ideia de que a Justiça inventou uma suspeita contra o pai por causa de fake news na live de 29 de julho, aquela que provaria fraude nas eleições de 2018, mas nada de concreto apresentou.
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“Onde está o crime de fake news na nossa lei? Não tem. Mas eles usam isso para matar a nossa reputação”, disse Eduardo, para aplausos puxados por Steve Bannon. O ministro do STF Alexandre de Moraes citou 11 possíveis crimes cometidos por Bolsonaro nos ataques ao sistema eleitoral, entre eles calúnia, difamação e denunciação caluniosa, além de incitação ao crime e à subversão da ordem política ou social. O deputado brasileiro saiu aplaudido de pé da apresentação, na qual usou até foto da barriga do pai costurada.
Ao fim da palestra de Eduardo, Bannon reforçou as teorias conspiratórias. “Vocês veem que não é só nos EUA. Esta eleição (de 2022, no Brasil) é a segunda mais importante no mundo e a mais importante da história da América do Sul. Bolsonaro vai vencer, a menos que seja roubado… adivinhe pelo quê.”
“Pelas máquinas”, emendou Lindell. “Quando eu falei com eles (os Bolsonaro) em janeiro, eles disseram que um dos segmentos que mais era contrário a eles era quem? A mídia. É o que eles (a mídia) fazem, eles condicionam as pessoas. ‘Ele não vai ganhar’. Nós vimos nossos números dos EUA. E é por isso que estamos aqui. É um ponto de inflexão na história hoje.”
O chamado “ciber simpósio de Mark Lindell” prometia mostrar inequívocas provas de fraude na eleição que sagrou Joe Biden vencedor. No entanto, foram apresentados um conjunto de números e mapas já solidamente refutados pela CISA, a agência de cibersegurança do departamento de segurança dos EUA.
Lindell também prometeu nos três dias do simpósio do qual Eduardo Bolsonaro foi um dos palestrantes pagar US$ 5 milhões para quem comparecesse e o desmentisse. Detalhe: a entrada não era aberta ao público em geral e a organização escolheu quem receberia o convite “por razões de segurança”. O empresário acabou ridicularizado nas redes sociais.
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Durante o simpósio, a Justiça autorizou a continuidade do processo em que uma das empresas vinculadas às eleições dos EUA, atacada por Lindell, cobra dele US$ 1,3 bilhão pela difamação. Quando o fato começou a ser noticiado nos sites e ele tomou ciência, deixou o palco do próprio evento.
Mike Lindell ao menos conseguiu aumentar a própria visibilidade com polêmicas. Em março, em entrevista ao podcast de Steve Bannon, avisou que as provas que vinha coletando fariam Trump ser reconduzido à presidência em agosto. A reviravolta, claro, não aconteceu, mas ele conseguiu mais atenção no mês de seu evento. Além disso, também retroalimentou seus negócios.
O site oficial usado como plataforma de acesso aos vídeos do simpósio mostra em destaque propagandas de sua loja de travesseiros e direciona para descontos em pijamas e roupas de cama.
A desinformação costuma atrair uma legião de pessoas dispostas a concordar com as alegações falsas e a consumir determinado tipo de informações ou produtos. Antes de ser estrategista de Trump, Bannon comandou o Breitbart News, site com conteúdo de extrema-direita e famoso propagador de fake news contra políticos do partido democrata.
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Em um documentário da Netflix (The Brink), o próprio Bannon deu ideia da fortuna que o site movimentava. Ao reclamar do Sleeping Giants, movimento que faz empresas deixarem de financiar sites como o Breitbart, ele revelou que 8 milhões de euros em publicidade deixaram de ser pagos.
Resolução brasileira. No Brasil, a Justiça Eleitoral quer combater a transformação da ideologia e da política em um mercado. Uma resolução que vai barrar a monetização de canais com conteúdo político nas eleições está sendo elaborada. Como mostrou o Estadão, sites e canais bolsonaristas conseguem ganhar muito dinheiro ecoando mentiras e agressões, reduzindo fronteiras entre a verdade e a mentira e atacando instituições.
“A prática visa, mais do que uma ferramenta de uso político-ideológico, um meio para obtenção de lucro, a partir de sistemas de monetização oferecidos pelas plataformas de redes sociais. Transforma rapidamente ideologia em mercadoria, levando os disseminadores a estimular a polarização e o acirramento do debate para manter o fluxo de dinheiro pelo número de visualizações”, diz a PF no relatório ao TSE em que constatou que bolsonaristas replicam os métodos de Bannon à brasileira.
Eduardo Bolsonaro é o principal interlocutor da família com Bannon, com quem já esteve várias vezes nos EUA e que já tentou trazer ao Brasil. Ainda no início de 2019, o filho do presidente publicou uma foto com Bannon anunciando que havia sido escolhido pelo americano embaixador do The Movement (O movimento), articulado pelo ex-funcionário de Trump para reunir a extrema-direita no mundo.
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